Capítulo Cinco - Tradição de Aliança

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   Não muito longe de Compostela havia uma frota da elite cortando os céus.

   Naves crusadoras enormes de formas diferentes com combinações de cores extravagantes que deixavam grandes estandartes soltos balançando no vácuo do universo com o único motivo de embelezar ainda mais a passeata além luz e por onde quer que resolvessem parar.

   Era a primeira vez que uma princesa, chamada Hilai Benoriana, iria ver o espetáculo de luz do qual seus pais tanto se orgulhavam. Sempre comentavam nos banquetes em seus palácios de rubi, esmeralda e quartzo, com paredes, pilastras e estátuas de ouro, calcário e várias outras pedras preciosas e não tão preciosas que se destacam por cores e, as vezes, por fragilidade.

   Os Benorianos gostam quando as estátuas quebram, assim podem comprar outras iguais. Palácios vão ao chão periodicamente, mas não em cima de suas cabeças, claro.

   A maioria deles tem uma personalidade muito parecidas com castores bipolares de alta classe. O porquê nunca foi questionado... Ou nunca foi a público.

   Hilai acordou no seu quarto, muito espaçoso para ela. As paredes vermelhas e as cortinas cor de areia simplesmente não simpatizavam com seu gosto. A cama era quase uma nuvem, sempre confortável demais.

   Saiu da cama, tomou banho gelado de sua preferência, escovou os dentes, vestiu seu uniforme branco com ombreiras pomposas da realeza, e sua pulseira de planetas com os vinte e três corpos celestes em seu nome representados nas bolinhas daquela miudeza mais estimada que um Benoriano poderia se orgulhar.

   Antes de sair do quarto, Hilai olhou para uma brecha entre as cortinas insossas, as estrelas cortavam como flashes de luz, ainda estavam no hiperespaço. Também olhou para um grande espelho na parede.

   Estava apresentável, o corpo bípede beje acinzentado estava saudável e encantador, os chifres parecidos com uma rena pequena estavam um tanto imponentes naquele dia. Porém, os olhos cinza estava muito... Cinza para o seu humor.

   Os olhos de Hilai não refletiam como arco-íris, igual as rochas de seu palácio. Não parecia com a diversidade de alguns dos seus planetas na pulseira.

   — O dever de uma duquesa... — e suspirou profundamente.

   Hilai, por dentro, se achava uma grande nuvem chuvosa e tristonha num dia frio e úmido.

   Parecia e não parecia ter algo de errado.

   — Bom dia, alteza — falava o mordomo assim que viu Hilai abrir a porta pressurizada — como solicitado por você, lhe informo que faltam dois dias até chegarmos ao seu tributo no espetáculo de luz.

   — Alteza... Espero que lembre dessa alteza aqui no meio de tanta gente. Saudações — Hilai suspirou, já parecendo pré cansada com todas as reverências — é só que não estou com muita disposição, mordomo.

   O mordomo, já acostumado a indisposição de Hilai e a ser chamado de mordomo, sabia que cedo ela não rendia. Limpou as vestes preto e branco de corte único, parecendo compartilhar do sentimento.

   Dias de tributo se tornaram raros depois que o Conselho ganhou força e passou a interferir nos assuntos alheios, mesmo que esses assuntos também sejam sobre interferência de outros assuntos.

   — A água está quente e a comida também — dizia o mordomo, esse com tons de azul grisalho nos olhos — nossa duquesa deve se banhar nos-

   Hilai o interrompeu balançando negativamente a cabeça, mas sorrindo.

   — Ahh... Bom, então irá ver o Rei Donavan?

   — Oh, não se eu puder evitar — Hilai fez um gesto para o mordomo seguir na frente, como se ele que fosse o duque. Porém ela partiu para o outro ladk do corredor, ele entendeu e não questionou.

   O tapete vermelho e os lustres ocasionais eram só uma das várias especiarias cujo orgulho e imponência dos Benorianos eram expressados.

   Chegaram na grande mesa onde já estava sendo servido o café da manhã pelos empregados Beno Menores. O salão era digno de reis fictícios de fantasia e- Bom, também era para um rei. Então faz sentido.

   Uma mesa circular num salão circulas chifres de rena costurados em estandartes pendidos pelo salão.

   Não se via os pontinhos estelares pelas três grandes janelas, essas que eram coloridas como a de uma catedral.

   Somente Ikora tinha, igual a sobrinha, tanto apreço pela família que preferia não incomodar no café da manhã e comer mais cedo.

   Também gostavam de não incomodar no almoço, chá da tarde, janta... Nas conversas calorosas, reuniões, bebedeiras e festas... Na verdade qualquer coisa que envolva confraternizar com as Cortes

   — Saudações, Ikora. Como vais? — Hilai foi pegar algum pãozinho de imediato, sem olhar muito a tia. Não conseguiu manter o sorriso por muito tempo.

   — Ainda não, — e sinalizou para que a conversa fosse deixada de lado — desjejum é mais importante — sua voz era forte e decidida, mas havia ternura.

   Ikora era a protetora de Hilai. Uma guerreira benoriana espadachim de olhos que brilhavam em turquesa, digna de servir à Duquesa do Castelo de Vidro.

   Hilai desistiu de levar a comida para o quarto e sentou-se à mesa. As duas terminaram a refeição e ficaram sem falar por vários minutos, olhando sem gosto para os desenhos abstratos da janela colorida.

   — ... Sabe que não precisa fazer isso, minha duquesa — Ikora falou sem rodeios.

   — Sim, sim. Mas um dia quero decifrar o que é que passava pela cabeça dos desenhistas dessa maldita janela-

   — Diga ao Rei que escolha outro para cumprir a aliança — Hilai olhou feio para Ikora, e essa entendeu tudo.

   — Todos os servos estão dispensados. Já terminaram seus afazeres — a escudeira falou em alto e bom som — Voltem quando seu rei voltar.

   Uns exitaram por momentos, mas todos se retiraram, exceto as duas. Os servos sabiam que uma conspiração era improvável, as três naves foram supervisionadas pelo Rei em pessoa. Alguns até diriam que foi até um pouco paranoico. Ikora continuou:

   — Ulira de Tântalo sempre foi sua amiga, mesmo não gostando dos Devonianos. E Aqinn de Európio lutou ao lado de seu pai.

   Hilai suspirou e começou a falar, brincando com um talher:

   — Aqinn nunca chegaria perto de um devoniano, ou devoniana, se não fosse em pé de guerra. Na verdade — hilai levantou e chegou mais perto da cadeira de sua escudeira, falavam baixo agora — A verdade é que os dois não simpatizam com a aliança. Claro que tem o quarto duque que já está no jogo comigo. Ele sim é a favor. E não posso negar um pedido real.

   — Minha duquesa, é um pedido para o rei e um favor para Aqinn ou Ulira. Não dá pra forçar esse tipo de coisa! — Ikora baixou a voz de imediato e olhou ao redor.

   — Dá sim, mas só se todos eles não saberem — Hilai esperou o interesse da escudeira, porém só houve descrença — Ikora, é a minha vida. A única coisa que tenho só para mim. E se eu tiver que abdicar de meu título e minha pulseira, que assim seja.

   — Já tens um plano? — a duquesa sorriu calorosamente em resposta — bom, então vamos sair daqui antes que o Rei desperte.

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