A Apresentação

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EU OBSERVAVA discretamente o sofá enquanto cada uma das Selecionadas era entrevistada. Algumas permaneciam calmas e senhoris, outras pareciam nervosas de tanta emoção. Irene corou como um pimentão quando foi sua vez de ir até o príncipe e voltou radiante. Grace parecia mais calma do que nunca quando se levantou, e me preparei para quando voltasse.

Alexander se levantou para ler meu broche conforme eu me aproximava:

— Senhorita Evangeline. — Ele cumprimentou em um tom baixo, com um sorriso brincalhão nos lábios. — Espero que tenha dormido bem.

— Alteza. — Fiz uma reverência e me sentei ao seu lado. — Ouvi dizer que poderiam aparecer invasores descendo pelas janelas, mas por sorte pude dormir como um anjo.

Seus olhos brilharam de entusiasmo e ele riu, por um momento colocando a mão sobre a minha. Acho que não tinha notado, não até eu segurá-la.

— Alteza... obrigada, de verdade. — Não desviei o olhar do seu, queria que visse que era verdade. — Você foi mais gentil do que eu merecia.

O olhar de Alexander parecia terno. Com certeza um olhar derretedor de corações, mas era óbvio que aquele olhar era comum a ele.

— E você foi mais sincera do que eu merecia, é uma qualidade que admiro. — Percebi que não era a única que tinha mantido o aperto, ele segurava minha mão com gentileza. — Se não for um incômodo, gostaria de lhe fazer uma pergunta.

Concordei com a cabeça, um pouco receosa do que ele podia querer saber. O príncipe se inclinou ainda mais na minha direção.

— O fato de meu pai ameaçá-la faz com que me odeie?

Pisquei. Eu comecei a rir, completamente surpresa pela pergunta.

— Alteza... o fato de eu ser a campeã do seu pai o faz me odiar?

Ele sorriu ao ouvir essas palavras. Continuei, em voz baixa.

— Na verdade, eu gostaria de lhe propor um acordo. — Ele levantou uma sobrancelha, intrigado. — Preciso ficar na Seleção por tempo o suficiente para seu pai se convencer de que cumpri meu papel, e imagino que seria uma grande ajuda ter alguém entre as Selecionadas. Alguém que as conheça e possa lhe informar dos gostos e qualificações que possuem. Você tem todo o direito de negar ou me mandar embora quando bem entender, não tenho a intenção de tirar o lugar de quem pode ser sua futura esposa. Não depois de saber o quanto lhe importa. Mas se me permitir ficar, pelo tempo que for, posso ajudar.

Ele pareceu analisar a proposta, seu rosto tão sério e profissional quanto em suas entrevistas.

— Não estou interessado em acordo algum. — Seu sorriso, no entanto, me fez relaxar. Não planejava me mandar embora. — Ao invés disso... o que acha de uma amizade, senhorita Evangeline?

Meu rosto com certeza estampava minha surpresa genuína, porque ele discretamente apontou com o olhar para as câmeras. Não éramos os únicos participando dessa conversa, olhos estavam em toda parte.

— Eu adoraria, Alteza.

— Devo dizer que não consigo pensar em ninguém melhor para chamar de amiga.

Uma parte de mim se sentiu lisonjeada pela sinceridade de suas palavras.

— Irei adicionar algumas cláusulas, se não se opor. — Inclinei a cabeça, curiosa. — Se em algum momento mudar de ideia, a apoiarei no que precisar. Se quiser voltar para casa, diga e será feito.

Era evidente que eu poder tomar essa decisão o incomodava, mas o ofereceu mesmo assim.

Ele fez uma reverência e segurou minha mão, beijando os nós de meus dedos quando lhe devolvo a mesura.

— E gostaria que me chamasse de Alexander.

— Tenha um bom dia... — Eu sorri, falando com muita calma, — Alexander.

Voltei ao meu lugar com um sorriso contido, como se estivesse esperando semanas por essa conversa. Quando por fim a última garota estava de volta ao seu lugar, eu já sonhava ansiosamente com meu primeiro café da manhã no palácio.

Alexander então caminhou até o centro do salão.

— Aquelas a quem pedi que permanecessem, por favor, fiquem em seus lugares. As outras podem acompanhar Charlotte até a sala de jantar. Em breve vou juntar-me a vocês.

Não sabia que tinha pedido para algumas ficarem, nem se o significado do gesto era bom ou ruim. Levantei-me como a maioria das outras e comecei a caminhar.

Vi poucos rostos, não tive a oportunidade de conhecer a maioria. As câmeras ficaram para trás a fim de capturar aquele momento — o que quer que fosse — que estava para ocorrer. O resto de nós seguiu seu caminho.

Entramos na sala dos banquetes e lá estavam, com um ar mais majestoso que nunca, o rei Anthony e a rainha Katherine. Também estavam ali mais câmeras, prontas para captar nosso primeiro encontro com o casal real.

As garotas estavam hesitantes e acabei delicadamente tomando a frente, mantendo uma reverência. Agradeci imensamente naquele momento pelas aulas de etiqueta que minha tia insistiu que eu tivesse, principalmente quando Charlotte entrou segundos depois e dominou a cena.

— Senhoritas — ela disse —, receio não termos chegado a conversar sobre isso. Por favor, sigam o exemplo da senhorita Evangeline. Sempre que entrarem em um cômodo onde o rei ou a rainha estiverem, ou se Vossas Majestades entrarem em um cômodo onde vocês estiverem, a atitude correta é uma reverência. Em seguida, quando lhes responderem, endireitem o corpo e tomem assento. Vamos fazer juntas agora?

Esperei junto com todas que faziam uma reverência na direção da mesa, sentindo os olhos aprovadores do rei sobre mim.

— Bem-vindas, garotas — disse a rainha. — Por favor, sentem-se em seus lugares e fiquem à vontade no palácio. É um prazer recebê-las.

Sua voz tinha um tom agradável. Era calma como a própria rainha, mas nem um pouco mecânica. Como Charlotte tinha explicado, as serventes encheram nossos copos com suco de laranja. Nossos pratos vinham em grandes travessas cobertas por uma redoma, que os mordomos retiravam na nossa frente. Meu rosto foi golpeado por uma nuvem de vapor perfumado vinda das panquecas. O rei Anthony abençoou nossa refeição e todas começamos a comer.

Minutos mais tarde, Alexander entrou para ocupar seu lugar. Antes que pudéssemos nos mover, ele avisou:

— Por favor, senhoritas, não se levantem. Desfrutem do café da manhã.

Ele se dirigiu à mesa principal, beijou a mãe no rosto, apertou o ombro do pai com a mão firme e se sentou à esquerda dele. Comentou algo com o mordomo mais próximo, que riu discretamente. Por fim, passou a cuidar de seu prato.

As outras garotas não tinham vindo ainda. Olhei discretamente para os lados e contei quantas faltavam. Oito. Oito garotas estavam ausentes. Victoria, que se sentava meu lado, respondeu à pergunta que eu fizera com os olhos.

— Elas foram embora — afirmou.

Eu não conseguia imaginar o que poderiam ter feito em menos de cinco minutos para desagradar Alexander, mas imediatamente fiquei grata por ter sido honesta. E, simples assim, já éramos apenas vinte e sete.

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