Capítulo 8: No fogo outra vez

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Abro os olhos ao sentir que amanheceu.

Está escuro por causa da pedra tampando a entrada.

Me levanto, saindo do bolo formado por Virko e Draze para me aquecer.

Eu ando até a entrada e paro, observando a pedra que bloqueia o caminho.

Está na hora de abrir a porta e acordar minha alcatéia, mas não me sinto bem em ter de fazer isso.

Fecho meus olhos e, depois de respirar fundo, removo a pedra do caminho com um empurrão.

A luz entra na toca junto com um vento de gelar os ossos. Sinto meus pêlos se eriçando por um momento e vejo o ar que sai da minha boca e das minhas narinas se tornar uma fumaça branca.

Virko e Draze acordam com gemidos desconfortáveis, o primeiro se levantando e alongando o corpo enquanto tenta ignorar o frio.

"Já é essa hora... Parece que a idade está comprometendo meu senso de tempo também."

Virko olha para a saída. Nos últimos quatro dias tem se tornado ainda mais frio, e o fino tapete branco de neve que cobre o chão pareceu ganhar algumas camadas à mais.

Volto para dentro da toca, para Draze.

"Como se sente? Alguma melhora?"

"Não, eu diria que me sinto pior que ontem."

À minha pergunta, Draze oferece uma resposta desencorajadora.

A luta contra os linces alguns dias atrás não foi fácil, mas as consequências foram além do que eu tinha imaginado.

O lince macho infligiu dano em Draze. Quatro cortes longe do que poderia ser chamado de algo letal, parecia indigno de atenção.
Mas dia após dia o ferimento começou a piorar, e no terceiro dia Draze já começou a sentir febre por causa do ferimento.

Segundo Virko, essa é uma ferida amaldiçoada. A habilidade usada pelo lince macho tinha a capacidade de drenar a saúde e a vitalidade do inimigo a cada segundo que passava, além de causar uma série de doenças aleatórias.

Draze possui muita saúde e vitalidade, e graças à isso ele conseguiu resistir à maldição. Mesmo agora o corpo dele continua lutando contra os efeitos da maldição.

"Se eu fosse só um pouco mais forte..."

Sem querer deixo escapar as palavras entre meus lábios, e Draze levanta as orelhas.

"Alfa, isso já está se tornando um mantra, sabe?"

"Desculpe..."

Deixo as palavras escaparem de meus lábios mais uma vez.

"Virko, pode levar ele para beber água por mim?"

"Sim, mas onde você pretende ir?"

"Eu não sei..."

Saio da toca passando por Virko e deixo ele para trás.

Temos a carne dos linces e da corça estocada, por isso devemos ficar bem por alguns dias, e Virko vale por dois de mim.

"MAS ISSO ME IRRITA PORRA!!!"

Eu deixo minha voz sair em um tom violento enquanto atinjo a base de uma árvore com minhas pata direita usando toda minha força.

O tronco da árvore é rasgado pelo meu golpe, e logo em seguida ele desaba.

Sinto meu sangue fervendo. Mesmo no inverno, eu estou queimando por dentro.

Alfa NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora