Corte de Estrelas e Sonhos

Capítulo 18

Voltamos para casa e eu fui para a biblioteca trabalhar em melhorias para o acampamento, pedi mapas para o Rhys e folhas e lápis para a Feyre, copiei os mapas nas folhas e comecei a analisar e ver como poderia melhorar aquele lugar de forma pratica.

Ao final do dia minha cabeça estava explodindo, mas eu tinha terminado o projeto, queria apresenta-lo ao Rhys ainda hoje. 

Encostei na poltrona e fechei os olhos aproveitando aquele silencio e aquela paz, demorou alguns segundos, alguns segundos de pura paz antes das lembranças invadirem minha mente.

Estou sentada na mesa da cozinha fazendo um cartaz para um trabalho em grupo, tem horas que estou aqui cuidando de cada detalhe, a casa está silenciosa, por um segundo eu consigo fingir que esta tudo bem, por um segundo eu consigo fingir que não sou uma assassina, fecho os olhos aproveitando aquela sensação de calma e tranquilidade me invadir.

Me assusto quando meu pai entra cambaleante pela porta e se aproxima da mesa olhando o cartaz pronto. Ele me olha e sorri e eu tinha 5 anos de novo esperando ele chegar do serviço ansiosa para brincarmos de Barbie.

- Oi filha, isso ficou lindo! Você que fez? - ele pergunta sorrindo

- Sim.

- Parabéns! - da um beijo no topo da minha cabeça - A mamãe tá no banho?

Olho pra ele e de repente entendo toda a situação, ele esta bêbado demais para se lembrar...

- Aonde sua mãe ta filha? - pergunta de novo com um semblante preocupado

Me levanto devagar e começo a guardar o material que esta espalhado na mesa no estojo, seguro a vontade que estou de chorar e começo a ir para o meu quarto.

- Boa noite filha, o papai te ama! - grita pra mim

Naquela noite tive que trancar a porta para ele não entrar, não consegui dormir, seus gritos eram altos, ele batia na porta desesperado pra me encontrar, ali tudo voltou ao normal, não éramos uma família feliz e nunca iriamos ser!

- SUA PUTA ASSASSINA! EU VOU TE MATAR!

Me encolhi em um canto do quarto em choque demais para chorar, traumatizada e arrasada pelas lembranças da minha infância para derramar uma lagrima, peguei um livro e comecei a ler, ignorei os gritos e as coisas sendo atiradas contra a minha porta e só li, desejando poder entrar naquela realidade e fugir da minha, nem que fosse por um segundo.

Lembro daquele dia, o dia que conheci Acotar, o dia que me apaixonei pelos personagens e durante algumas horas pude esquecer de tudo, os livros me salvaram, eles me apresentaram universos sem sair do quarto, conheci pessoas sem nunca ter visto, ri e chorei sentindo as emoções dos personagens, sempre do outro lado do papel, sempre como leitora.

Limpo as lagrimas que brotaram quando escuto passos, a Amren desce com uma caixa de quebra-cabeça e toma um leve susto quando me vê.

- Oi menina.

- Oi Amren, eu já estou de saída. - digo pegando as coisas espalhadas pela mesa

Me despeço rapidamente e subo indo para o meu quarto, tomo um banho demorado, mas não consigo relaxar, eu estou tensa, a voz do meu pai não sai da minha cabeça. Não desci para jantar, não conseguiria comer nem encarar as pessoas e fingir que estou bem, uma hora isso iria acontecer, uma hora eu teria que parar de fingir que nada me abala.

Esperei até que todos fossem dormir antes de levantar na ponta dos pés e ir até a cozinha, eu precisava de algo para dormir e a Elain deve ter camomila por aqui, eu sinto falta dos remédios do mundo humano, dois comprimidos e eu dormiria como um bebe a noite toda.