Capítulo 24

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Não consigo tirar as ameaças de Nicolas da cabeça quando estou com Cris. Suas palavras ficam passando em imagens como um filme de terror sem fim. Preciso gravar uma confissão, algo comprometedor, ou ele me fará sofrer um "acidente". Não sei qual das duas opções é a pior.

Mas, tirando meu pesadelo particular, nada parece ter mudado por aqui. Bianca continua trancada em seu quarto com suas músicas de gosto duvidoso, o Dr. Joaquim em mais uma de suas viagens de negócios. Cris e eu fazemos uma rodada de revisão das matérias do primeiro semestre, eu fazendo o máximo para não me perder nos traços de seu perfil concentrado, até que Joana chega com dois sanduíches de peito de peru e ele concede uma pausa.

Nos sentamos no tapete do quarto para comer e, enquanto ele está distraído ajeitando algumas almofadas, eu ligo o gravador do celular discretamente. Não que eu vá entregar a gravação para o Nicolas. Quer dizer, eu posso cortar as partes mais comprometedoras, ou até apagar tudo. Enfim, posso resolver depois o que fazer.

— O que tanto você olha para esse celular? — sou despertado pela voz de Cris, e só então percebo que estava encarando a tela de modo obsessivo.

— Nada, eu só...

— Está esperando alguma mensagem em especial?

Cris me olha de soslaio, todo inseguro, o que é o suficiente para me desarmar por completo.

— Ei, isso é ciúmes? — Me aproximo dele no tapete, plantando um beijo em sua bochecha. — Não precisa ficar, você é o único que me interessa.

Ele abre um sorriso satisfeito, mas não dá o braço a torcer.

— Não, não é isso. Mas pode continuar me beijando se quiser.

No entanto, por mais que eu queira, não consigo. Lanço um olhar involuntário para o celular esquecido do outro lado do tapete. Não quero que ele grave isso.

— Téo, o que foi? Você está estranho.

— Desculpa, é que...

— Você se arrependeu de ficar comigo?

— O que? Não, é claro que não! Eu nunca me arrependeria de ficar com você.

Ele se remexe contra as almofadas, desconfortável.

— Então, qual é o problema?

Eu o encaro por um instante, pesando minhas escolhas. Não é como se tivesse muitas. Emílio acha que eu deveria contar tudo para Cris, mas sei que se fizer isso ele não vai me perdoar. E eu não suportaria perdê-lo.

Mas ele continua me olhando com ar interrogador, e eu preciso dizer alguma coisa.

— É que... essa história da Lavínia está mexendo com a minha cabeça.

Cris inclina o corpo para trás, visivelmente mais relaxado.

— Sua amiga? O que tem ela?

— Você sabe que ela e Jonas começaram a namorar há pouco tempo, mas ele sequer disfarça que está interessado por... bem, por outra garota.

Oculto o nome de Bianca de propósito. Cris poderia se irritar se soubesse se tratar da irmã.

— Bom, se ele está interessado por outra, o correto seria terminar, não?

Solto um grunhido de desgosto.

— Mas isso machucaria Lavínia, ela é muito sensível para essas coisas. Apesar de Jonas dizer que ela ainda gosta de Vicente, mas... isso não importa, ela não pode ficar com Vicente, os dois não podem terminar.

Quase Sem QuererOnde histórias criam vida. Descubra agora