Capítulo 25

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Quem diz que agosto é o mês mais longo do ano é porque nunca passou pelo terceiro ano do ensino médio. Com a correria de provas e o ENEM já à espreita, os dias passam voando. Quanto mais próximo do fim do ano, mais os alunos ficam desesperados para melhorar o desempenho nos simulados. O grande fantasma do vestibular assombra a todos, o que é uma ótima desculpa para me mostrar desesperado também.

Não que eu não me preocupe com o vestibular, afinal, por mais que eu tenha melhorado, tenho plena consciência das minhas deficiências, e não é como se eu pudesse contar com a bolsa prometida por Nicolas. Na verdade, minha situação é bem precária. Além de ficar sem a bolsa, agora vivo a cada dia à espera de um contra-ataque. Porque é claro que Nicolas não vai deixar minha desobediência por isso mesmo. Eu só não sei ainda de que lado ele virá.

Com todas essas preocupações rondando pela cabeça, percebo muito tarde que há algo de errado com o nosso grupo. Desde quando voltamos a ser um trio? Olho ao redor e vejo Jonas em uma conversa animada com um grupo do time da escola.

Franzo a testa para Lavínia, que está devorando um sanduíche natural à minha frente.

- Por que Jonas não se senta mais com a gente?

Ela dá de ombros, dando uma mordida no pão. Continuo encarando-a até ela finalmente limpar a boca com um guardanapo, dando-se conta de que não vou desistir até obter uma resposta.

- Ah... ele deve estar meio sem graça de ficar com a gente depois que eu terminei com ele...

- Você o quê? - eu a corto, chocado. - Lavínia, por que fez isso?

Emílio fica tenso ao meu lado, mas morde os lábios para não dizer nada.

- Porque eu cansei de ficar com um garoto que só estava comigo porque não podia ficar com quem ele queria de verdade. Além disso, nós percebemos que somos melhores como amigos, foi um término sem traumas.

- Mas você nunca vai encontrar um cara como Jonas, ele era perfeito para você!

- Bom, eu não acho.

- Vamos falar a verdade aqui - disparo, perdendo a paciência. - Você terminou com Jonas porque ainda gosta do babaca do Vicente, não é isso?

- Téo... - Emílio tenta me chamar à razão, mas eu não dou ouvidos.

- E se for? - retruca Lavínia, falando em um tom irritado que eu nunca a vi usar. - O que você tem com isso? Por que tem que se meter na minha vida amorosa?

- Porque você é minha amiga e eu me preocupo com o seu bem-estar!

- Quer saber? - ela joga o guardanapo sobre a mesa e se levanta, me encarando com uma expressão letal. Algumas pessoas se viram para olhar. - Estou farta das suas intromissões. Eu por acaso me meto na sua vida amorosa? Não! Porque você sequer me conta algo sobre ela, então por que eu tenho que te dar alguma satisfação sobre a minha?

- Lavínia, não é assim...

Eu digo em voz baixa, tentando acalmá-la e ao mesmo tempo desviar a atenção que atraímos. Mas sou uma piada patética, porque sequer consigo retrucá-la direito. Não posso dizer que não é verdade. Não posso dizer que não tenho vida amorosa, nem tampouco que estou com Cris. Ninguém pode saber.

- Você nem nega, Téo - ela prende a respiração, piscando freneticamente na tentativa de não chorar. - Não quero mais ter você controlando a minha vida. Acho que o melhor que posso fazer é me afastar.

- Não!

Ignorando meu apelo, Lavínia se vira, afastando-se de nós.

- Lavínia, espere!

Quase Sem QuererOnde histórias criam vida. Descubra agora