Capítulo 6

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Não me deixe triste, não me faça chorar 

Às vezes o amor não é o bastante e a estrada fica difícil, não sei o porquê

Continue me fazendo rir

Vamos ficar chapados

A estrada é longa, nós seguimos adiante, tente se divertir nesse meio tempo

Born to Die - Lana Del Rey


Parece que quanto mais o tempo passa, mais minha situação com Cristiano fica difícil. De todos os homofóbicos babacas do colégio, ele foi o que mais conseguiu me irritar até hoje, e já não consigo me aproximar sem explodir. Ele parece ter um dom nato para me provocar, e os olhares sugestivos de Nicolas não ajudam em nada.

Meu único consolo é que voltei às boas com Emílio. Bem, mais ou menos. Ele ainda parece frio e distante, mas pelo menos voltou a falar comigo. Lavínia acha que é paranoia da minha cabeça, mas eu sinto que tem algo de errado com o meu amigo e não vou descansar até descobrir o que é.

Tecnicamente eu deveria estar estudando agora, mas o calor da tarde é tão intenso que é inevitável render-me aos braços convidativos da procrastinação. Estirado na cama, deslizo o dedo pela tela do celular enquanto escuto o último álbum da Taylor Swift pela milésima vez. Estou em dúvida se gosto mais de Cardigan ou de Exile, então preciso escutar pelo menos mais umas dez vezes cada até me decidir.

Não tem nada de interessante no feed do Instagram, exceto por uma selfie de Emílio com a camisa do time do colégio, exibindo seu sorriso mais matador para a câmera. Curto a foto no mesmo instante e penso se algum dia conseguirei superar esse garoto.

"Meu jogador favorito", deixo como comentário, e então algo chama minha atenção logo em seguida. É uma foto que o perfil coletivo do time postou com a equipe inteira desse ano. Na verdade não é bem a foto que chama minha atenção, mas uma pessoa que curtiu ela. @cris.batista. Tão sem graça e sem criatividade quanto o próprio dono do perfil.

Mas estou surpreso que ele tenha um perfil, para começo de conversa. Sou tomado por uma curiosidade inútil e entro na página dele. O perfil é privado, claro. Sua foto de perfil deixa à mostra um olho escuro emoldurado por aquela sobrancelha em forma de taturana e ele tem o impressionante número de treze seguidores. Começo a rir sozinho na cama, porque ainda que eu não possa ver muito, seu perfil é tão previsível. Aposto que os treze seguidores resumem-se a família e alguns professores. Por que alguém iria querer ser amigo de alguém que se esforça tanto para ser desagradável com todo mundo?

Sem intenção, meus olhos recaem sobre o envelope pardo de Nicolas na minha escrivaninha. Eu devia ter jogado isso fora. Por que não joguei?

Distraído, demoro a notar uma mensagem super animada de Lavínia:

Lavínia: Téééo! Você vai na festa sábado? Você vai, né?? Diz que sim!!!

Franzo a testa para o celular.

Téo: Que festa?

Lavínia: A festa que o time está organizando na casa do Nicolas antes do primeiro jogo do campeonato da Intercolegial! Você está no mundo da lua de novo? Vou começar a te chamar de astronauta solitário.

Téo: Primeiro que seus apelidos são péssimos. Segundo que não estou entendendo o motivo de tanta empolgação para uma festa na casa do Nicolas.

Quase Sem QuererOnde histórias criam vida. Descubra agora