Capítulo 33

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Apesar de tudo, a vida segue. Minha surpresa é enorme quando descubro que passei para a segunda fase da Fuvest. Eu não tinha mais nenhuma esperança quanto a isso, mas nem minha aprovação inesperada, o que eu mais desejava desde sempre, é capaz de me animar. Porque sei que não teria conseguido isso sem Cris, e agora não posso sequer comemorar com ele.

Na verdade, não posso comemorar com ninguém. Meu avô está longe e minha tia ainda não me perdoou pelo escândalo na formatura. E até hoje eu não respondi as mensagens dos meus amigos. Se é que ainda posso chamá-los de amigos.

Estou sozinho em um banco do pátio, tentando esquecer todos os meus problemas para traçar um plano de estudo para a segunda fase. Acho que ter algo em que me agarrar será bom para não afundar em depressão, ainda que eu não leve muita fé de ter chances na aprovação final. Ao menos é uma luz no fim do túnel.

No entanto, minha pequena paz recém-adquirida logo é abalada pela aproximação de Vicente. Ele vem em minha direção, meio hesitante e respirando profundamente, como se tivesse acabado de correr uma maratona, mas não pega a bombinha de asma. Percebo que está tomando coragem para me abordar, então fecho a cara, esperando que ele desista e vá embora. Me humilhar pelo vídeo da formatura é o único motivo que consigo imaginar para ele me procurar, embora esteja um pouco tarde para isso.

Ignorando o bom senso e minha expressão de poucos amigos, ele se aproxima devagar, sentando-se bem ao meu lado. Eu o encaro, em choque.

— Eu vi o seu nome na lista de aprovados da Fuvest — arrisca ele, a voz falhada e os olhos baixos. — Meus parabéns.

Levo meio minuto para formular uma resposta.

— Achei que não se sentasse com viados.

— Aquilo... não era verdade.

— Não?

— Eu... estava tentando me enturmar... então Nicolas disse que o único jeito de ser aceito em seu grupo de amigos era dizendo... eu sinto muito...

Por que não estou surpreso com isso? Acho que no fundo eu devia imaginar que alguém tão frágil e inseguro quanto Vicente jamais poderia ofender outro alguém de forma gratuita, mas a sua primeira fala sempre me provou o contrário. No fim, parece que Nicolas sempre está por trás de tudo.

— E quanto a Emílio?

— Eu já me desculpei com ele e ele me perdoou.

— Quando foi isso?

Vejo suas bochechas corarem.

— Quando Lavínia... eu e Lavínia... ela disse que essa era uma condição para namorarmos, então eu o fiz.

Olho para ele irritado.

— Você só faz o que os outros mandam? Não tem opinião própria?

Vicente me encara pela primeira vez, atônito.

— Não! Na verdade eu me arrependi de ter dito aquilo assim que as palavras saíram da minha boca, mas nunca tive chance de me desculpar. Eu tentei me aproximar várias vezes, mas você parecia sempre tão irritado, então... me desculpe por ser um covarde...

Penso na vez em que o encontrei nos testes de futebol, no começo do ano, quando achei que estava ali para ver Lavínia. Ele estava tentando se desculpar esse tempo todo? Como pude interpretá-lo tão mal?

— Espera, isso... — tiro meu celular do bolso, abrindo as mensagens da noite da formatura que ainda não respondi. Mostro a Vicente a do número desconhecido. — Foi você quem me mandou isso?

Quase Sem QuererOnde histórias criam vida. Descubra agora