Capítulo 35

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O fim do ano passa sem grandes novidades. Eu continuo seguindo a rotina que seguia com Cristiano e me agarro aos estudos como um bote salva-vidas, como se isso pudesse me fazer esquecer todos os meus problemas e de quebra garantir minha aprovação na segunda fase da Fuvest. Minha tia permitiu que eu continuasse morando com ela até sair o resultado final, não sem antes deixar claro que eu não poderia ficar nem um dia além disso.

Meu avô continua sem saber de nada. Quando vamos passar o fim de ano em sua casa, tia Fabrícia me faz várias recomendações e lembra que ele não pode passar por grandes emoções devido a sua saúde frágil. No fim, todas as suas ameaças eram falsas. Minha tia tem mais medo do que eu de que meu avô descubra a verdade sobre mim.

Em uma tarde quente de verão, quando a lista de aprovados finalmente sai, fico mais surpreso do que feliz ao encontrar meu nome nela. Eu sempre imaginei que quando esse dia chegasse eu explodiria de felicidade, que sairia dançando pela sala e gritaria até ficar rouco. Mas, depois de tudo, não sei se realmente mereço isso. Não consigo ficar totalmente feliz quando penso em Cris. Nada disso estaria acontecendo se ele não tivesse me ajudado e me incentivado o ano todo. Ele nunca desistiu de mim, mesmo quando eu achava que não era capaz. E ele ainda está sofrendo. Por minha causa.

Procuro pelo seu nome entre os aprovados de Direito. E é claro que ele está lá também. Uma parte idiota minha imagina como seria encontrá-lo por acaso na faculdade, embora eu saiba que isso é praticamente impossível. São Paulo é uma cidade enorme e nossos campi ficam muito distantes um do outro. (Sim, eu calculei a distância no Google Maps. Sou masoquista a esse ponto.)

Lavínia me manda uma mensagem animada, me parabenizando pela aprovação e me convidando para comemorarmos juntos tomando milk-shake. Não estou a fim de ir, mas também não posso recusar. Não me encontrei com os meus amigos desde que as aulas terminaram e essa talvez seja a última oportunidade de nos reunirmos todos juntos antes que cada um siga seu próprio caminho. Emílio vai fazer Engenharia Mecânica na Unicamp e Lavínia cursará Enfermagem em uma faculdade particular em Ribeirão Preto. Jonas está muito satisfeito em ficar em Salto Belo por mais um ano, fazendo cursinho. É a desculpa perfeita para ele passar mais tempo com Bianca, embora ele não admita isso. Parece que o Dr. Joaquim aceitou bem o namoro dos dois, então acho que o verdadeiro problema era mesmo o Nicolas.

A mesa já está cheia quando finalmente chego na lanchonete. A garçonete traz o quinto milk-shake e eu aproveito para pedir o meu, de morango com leite ninho. Emílio me puxa pelos ombros e me faz sentar ao seu lado.

— Parabéns, Téo — diz ele com um sorriso enorme no rosto. — Eu não disse que ia conseguir?

— Pois eu ainda acho que podem ter trocado a minha prova. Já estava até comprando a passagem de ônibus de volta para Uberaba.

Ninguém ri. Lavínia solta o canudo do seu milk-shake, fazendo um som contrariado com a garganta.

— Que pessimismo é esse? Você conseguiu realizar o sonho da sua vida, deveria estar mais animado. Finalmente vai poder sair da casa da sua tia e ter uma vida independente, como sempre quis.

— Isso é, se eu conseguir arrumar um emprego para me manter por lá.

Nesse momento, sinto um aperto suave em meu ombro direito e me viro para encontrar Bianca sorrindo gentilmente para mim. É a primeira vez que a vejo como realmente é, sem sua máscara de patricinha esnobe. Acho que o namoro com Jonas está lhe fazendo bem.

— Tenho certeza de que vai dar tudo certo em São Paulo.

Retribuo o sorriso, me esforçando para enterrar os sentimentos ruins em algum canto dentro de mim.

Quase Sem QuererOnde histórias criam vida. Descubra agora