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Um ano depois:

Foi com certeza um dos melhores anos da minha vida.

Para começar eu e Sabina nos tornamos muito amigas, fazíamos quase tudo juntas. Conversávamos até tarde, saíamos nos fins de semana, e nos dias que não tinha aula. Ela me contou da vida dela, eu contei da minha, era realmente divertido conviver com ela, além do mais ela era um gênio, não tinha uma equação que ela ou o Henry não soubessem resolver, eles até competiam as vezes.

Especialmente nas noites em que Henry colocava em prática o plano dele de visitar a Sabina escondido e arrastava o pobre do Noah com ele, depois enquanto eles se agarravam no banheiro, eu, Noah, Nicoly e Ella (nossas outras companheiras de quarto), brincávamos de algo ou só conversávamos até amanhecer.

As duas tentaram nos ensinar francês mas eu desisti depois de um tempo sem sequer pronunciar uma sentença corretamente, em compensação Noah ficou fluente em três meses o que me chocou e me fez ter que pagar uma sobremesa cara para ele na lanchonete.

Noah é um cara super legal, veio de Dublin na Irlanda, para fazer curso de fotografia, as fotos dele eram simplesmente perfeitas, ele consegue deixar qualquer coisa bonita através de uma lente.

Como aprender uma língua nova não deu certo eu resolvi tentar algum esporte, já que eu sou aquele tipo de pessoa que sobe uma escada e já está morrendo por falta de ar.

Escolhi o surfe por já ser um esporte bem comum naquela região e por ser na água o que diminuia bem as chances de uma lesão séria, pelo menos foi o que pensei.

Praticamente um mês depois quando enfim consegui me equilibrar na prancha, eu caí bem feio, o que me deu uma cicatriz estranha no tornozelo quando bati num coral e tive que levar pontos, também fez os meninos me chamarem de Harry Potter o resto do ano, sim a cicatriz era igualzinha a que ele tem na testa.

Tive vários outros arranhões e hematomas, mas segui na plena força do ódio e posso dizer que sou boa agora. Noah diz que eu sou na verdade "incrível" mas eu sei que é só para me agradar.

Agora uma das coisas boas que o surfe me trouxe foi a boa forma, ganhei curvas que eu nem sonhava que poderia ter, eu me sentia muito bem me olhando no espelho agora, me sentia bonita de verdade. Isso me fez querer sair mais, querer comprar mais coisas para mim, coisas que fossem meu estilo e não coisas que minha mãe escolhia. Foi transformador. Amadureci bastante também, quer dizer, um pouco, já que eu ainda fazia muita merda.

Como quando passamos em frente a um estúdio de tatuagens e piercings e eu insisti para por um piercing no nariz, todo mundo riu do meu desespero e choradeira depois mas ficou uma gracinha. Também queriam fazer uma tatuagem juntos, mas eu xinguei todo mundo e eles desistiram, já achei que estava ferrada o suficiente com meus pais por causa do piercing mesmo.

Falando neles, meus pais, as meninas e o Josh me ligavam ou mandavam mensagens quase todo dia, era bom ao mesmo tempo que um pouco triste conversar com eles, a saudade era gigante. Soube que o Elliot finalmente pediu a Nath em namoro, comemorei muito por ele ter me ouvido mas percebi naquele mesmo dia que as duas estavam meio tensas falando comigo.

— E o Josh? Por que não falou comigo essa semana? — Estava falando com elas pelo Skype, faltava só um mês para acabar o intercâmbio e eu confesso que não via a hora de voltar.

— Ah ele... Tá ocupado sabe, coisas com a escola e o... basquete... — Percebi que as duas me escondiam algo e insisti para que me contassem logo. — E também é que ele anda passando tempo demais com a... Com a namorada.

Sabe quando algo se quebra em um milhão de pedacinhos? Quando ela disse namorada eu senti isso no meu coração.

— A-ah... E-ele está namorando? — Elas assentiram devagar. — Nossa, an... Bom, muito bom para ele... Sabem com quem? Eu conheço ela?

Não sei por que perguntei aquilo, eu não queria realmente saber.

— Any... — E de novo elas estavam tentando esconder. — Eu não acho que seja boa ideia...

— Com quem? — Perguntei de novo, eu iria saber de qualquer jeito eu precisava aguentar, então para que me esconder?

— Crystal... Ele tá com a Crystal. — Depois disso não consegui mais segurar as lágrimas e desliguei antes delas me verem chorar.

Como ele pôde fazer isso? Justo a Crystal? Ela me inferniza desde o primário e ele sabe disso melhor que ninguém. Droga, droga, droga esse tempo longe deveria ter me feito esquece-lo, deveria ter me feito controlar esse sentimento estúpido.

Josh me ligou mais tarde naquele dia, porem eu o ignorei, não conseguiria falar com ele sem chorar ou o ameaçar de morte. Ele me ligou várias outras vezes mas só o atendi alguns dias depois, ainda meio triste mas consegui fazer o que eu mais sabia perto dele, fingi que nada aconteceu, ele não acreditou no início, mas insisti que só estava meio doente, eu sempre seria só uma amiga para ele e tinha que aceitar isso. Mas mesmo assim, quando ele desligou, as lágrimas caíram outra vez.

Nesse momento estávamos pegando nossas malas para irmos embora, Sabina não parava de chorar, eu ainda conseguia segurar, mas acho que não por muito tempo. Uma vez chorona, sempre chorona.

Encontramos os meninos lá embaixo, nos esperando, os ônibus já começavam a partir. Ella e Nicoly foram as primeiras e já teve muita choradeira, Noah era o próximo, e mesmo que Sabina e Henry também fossem para os Estados unidos, o ônibus deles saia em horário diferente do meu por estar indo para outro estado.

— Então gente... É agora. — Noah disse, todos já estavam embarcando no ônibus da escola dele.

— Lembra, você prometeu visitar cada um de nós seu riquinho de merda. — Sabina o ameaçou levemente em seguida o abraçou apertado.

— Nossa eu quase me ofendi. — Ele riu puxando o Henry junto no abraço e me chamando com o olhar, ri e demos um estranho abraço em grupo.

— Vê se arruma uma namorada até lá cara, ou um namorado, não aguento mais você sempre cortando eu e a Saby. — Henry  riu.

— Nossa agora você falou igualzinho minha mãe quando eu me assumi. — Sim, o Noah é bissexual, inclusive ele me deu várias dicas de como conquistar garotos, com demonstrações REAIS (esse dia foi estranho e eu não pretendo repetir nunquinha).

— Tchau Noah... — Fui dar um beijo na bochecha dele mas ele virou o rosto e acabou que demos um meio selinho. — Noah!

— Desculpa não podia perder a oportunidade, eu tinha que te dar pelo menos um beijinho antes de ir. — Ele deu de ombros. — Tchau peixinha.

— Tchau polvo. — Ri enquanto ele se afastava e entrava em seu ônibus.

— Vocês são tão bonitinhos awnt.

— Caramba Sabina você estragou todo clima fofo de despedida viu. — A gente riu e a abraçei quando vi que seu ônibus também já estava para sair. — Tchau Saby, tchau Henry.

— Tchau Gaby.

— Tchau Harry Potter.

Assim que o ônibus deles saiu eu peguei minhas coisas e fui esperar na frente do meu, faltava um tempo para sairmos de modo que fiquei ali sozinha esperando e recordando aquele ano que foi muito mais do que eu jamais esperei. Quando o ônibus enfim partiu eu tive que virar e olhar uma última vez o campus da World Academy.

Eu cheguei aqui uma garotinha assustada que só se vangloriava por ter parado de usar óculos aos 10 anos e já ter achado que mudaria completamente igual o Clark Kent virando o Superman. Ma estava saindo daqui como quem eu sempre quis ser, eu mesma.

Como seria quando eu voltasse? Eu não tinha ideia, mas estava estranhamente ansiosa para descobrir.

When we fell in loveOnde histórias criam vida. Descubra agora