Você fala como se eu fosse um serial killer

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Encarando-a, apontou o objeto cortante para sua barriga, fazendo-a apertar os olhos.

— Segure.

— O quê? — Ela abriu os olhos e fitou as mãos dele, estendendo o objeto.

— Segure, logo. — Por incrível que pareça, havia paciência em seu tom de voz.

Ela obedeceu, mesmo sem entender, e pegou o objeto.

— Você pode me furar, fazer o que quiser comigo. — Ela arregalou os olhos ao ouvir aquelas palavras. — Se algo assim fazer você confiar em mim, eu não me importo.

Ela o encarou por um instante, com um ponto de interrogação nos olhos. Não entendeu ao certo, mas segurou firme o canivete em suas mãos, detectando uma certa preocupação nos olhos castanhos daquele desconhecido. Talvez ele estivesse com medo? Medo de que ela realmente o atacasse? E bom, Ana Lua de fato tinha uma pequena vontade de fazer aquilo.

— Vamos... Voltar? — Ele engoliu em seco, se afastando dela aos poucos.

— Quero ver de novo se você não tem mais alguma arma. — Ela respirou fundo, segurando o canivete em posição de defesa, pronta para qualquer golpe inesperado. — Vire pra parede.

Ele obedeceu, e colocou as mãos na cabeça, como se estivesse prestes a ser revistado pela polícia.
Então, Ana Lua, revistou seus bolsos de trás e da frente, checando as poucas coisas que haviam ali, certificando-se de que nada era uma potencial arma. O canivete havia lhe dado coragem, um certo sentimento de domínio diante daquela situação. Checou as barras da calça, o colar prateado que ele usava, os brincos, e até mesmo os cabelos, causando um rastro de fogo na pele arrepiada de Felix ao tocar acidentalmente sua nuca. Ela levantou com cuidado sua blusa, por mais constrangida que se sentisse com aquilo, queria se certificar 100% de que a única portadora de armas no momento era ela. E um leve e breve roçar acidental em sua barriga a fez sentir os músculos de seu abdômen, por curtíssimos segundos. Ana Lua estava completamente consciente de que ele estava arrepiado, conseguia sentir aquilo, tanto ao roçar sem querer a ponta dos dedos nos pelos de seu braço, quanto pela atmosfera. Mas não entendia o motivo, por que ele estava daquela forma?

— Você vai na frente. — Falou baixo, mas alto o suficiente para que ele escutasse bem.

E foi o que ele fez. Em silêncio, se pôs a andar para o lugar de onde vieram, com ela atrás, apontando o canivete como se estivesse fazendo-o andar na prancha de um navio pirata.
Dizer que ela sentia-se mais segura agora não seria verdade, mesmo tendo um objeto cortante em mãos, Ana Lua ainda tinha medo, medo de ser uma emboscada, medo de que ele de repente lhe desse um golpe que lhe arrancaria o canivete das mãos e a imobilizaria, pensava nas piores hipóteses possíveis enquanto caminhavam de volta para aquele estacionamento. Felix, se é que seu nome era mesmo esse, não era muito alto, mas ainda era um pouco mais alto, e por seu físico, talvez mais forte, o que a preocupava de certa forma. Como poderia confiar em alguém que havia "conhecido" em um estacionamento de madrugada? Por mais gentil, e por mais sincera que sua preocupação em não deixá-la andar sozinha por aí parecesse, ele ainda era um estranho. Talvez tudo aquilo fosse besteira, talvez ele apenas possuísse muita lábia para enganar vítimas. Entregar completamente sua confiança a um estranho, era burrice.
E por isso, Ana Lua levantou o canivete, espetando-o levemente no pescoço de Felix. Não tinha intenção de mata-lo naquele momento, queria apenas deixar o aviso.

— Vai mesmo me furar? — Perguntou sem parar de andar.

— Experimente me encostar de novo e você vai ver.

— Estou com medo agora.

Não era mentira, afinal havia uma mulher desconhecida lhe espetando com um canivete. Por mais que Ana Lua fosse alguns centímetros mais baixa, ele não a conhecia, ela também poderia ser perigosa para ele.

Conexão do arco-íris - Lee Felix | ShortficOnde histórias criam vida. Descubra agora