CAPÍTULO OITO

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CAPÍTULO OITO

Tomou a terceira taça de vinho; a mesa encontrava-se espaçosa e vazia. Estranhou o fato de ninguém ter aparecido até então, geralmente, quando chegava a sala de jantar para a última refeição do dia, Cassian e Nestha já estavam alocados, muitas vezes trocando carícias, outras tantas, farpas. Nem mesmo o mestre-espião encontrava-se; não que se importasse. Porém, após aquela tentativa de fuga fadada ao fracasso, e ao que vomitara na direção do macho, algo a deixou ainda mais hesitante na presença de Azriel. Ele passou a saber um segredo que sequer queria pensar sobre.

O verdadeiro fato em sua atual condição era que o vinho, da segunda garrafa das três que roubara de um armário na cozinha, começava a deixá-la um tanto letárgica e decidiu não esperar mais, pegando o garfo e levando o pedaço de carne a boca.

Vinho com estômago vazio não combinava.

Passos entoaram próximos quando começou a mastigar e levou sua atenção ao portal que dava para o corredor, aguardando. Não foram os cabelos castanho-dourados ou asas illyrianas que a brindou, e sim uma cabeleira ruiva e olho de metal.

Lucien arqueou uma de suas sobrancelhas quando a viu, embora não tenha retardado os passos. Hemera não fez nada além de erguer a taça com vinho pela metade em um cumprimento neutro e logo em seguida beber todo o restante da bebida em um gole só.

— Te mandaram para me vigiar, foguinho? — questionou em ironia, observando com diversão a forma como ele revirara o olho avermelhado ao tomar assento a sua frente.

— Não. Mas até te vigiar parece melhor que lá embaixo. — o outonal tomou em mãos a garrafa de vinho pela metade, a estudando. — Onde conseguiu isso?

— Na cozinha. — e dera de ombros, para logo fingir pânico. — É proibido beber na cadeia? Porra, você não vai me dedurar, vai!?

— Não se você não me dedurar. — piscou o olho bom, enchendo uma taça para si ao que um prato de comida surgia a sua frente. Hemera o observou beber, o achando um tanto menos contido por não ter muitos ao seu redor.

— Onde estão os outros? — a pergunta escapou com facilidade e tentou com afinco não demonstrar interesse.

— Myriam e Drakon estão na cidade. Tem um jantar acontecendo. — o ruivo dera de ombros, a atenção passando para o prato de comida.

Hemera se lembrava dos nomes, embora nunca houvesse visto o casal pessoalmente. O rei de Hybern se lamuriava, ressentido pela guerra perdida e bem, Jurian houvera falado bastante sobre vingança, mesmo se mostrando um ardiloso traíra no final; traição essa que fez Jurian conquistar seu respeito, ela não mentiria. Algumas poucas vezes, quando não se encontrava empenhando seu papel de lunático odioso, Jurian conversava e ela fingia odiar suas histórias de guerra, que ele contava quando os dois — na sacada — fugiam de algum jantar pomposo entre os cortesões e seu pai.

Não houvera tido notícias de Jurian após sua traição, mas sabia que ele ainda se encontrava vivo.

— Você não foi convidado? — quebrou o silêncio, espantando tais pensamentos. Observou Lucien limpar a boca com um guardanapo de pano elegante, o olho de metal cintilando ao que o macho estudava suas feições.

— Fui convidado, mas preferi não ficar. — Lucien não precisou dizer nada mais; ela entendeu. Ter de lidar com uma parceria fracassada e uma fêmea que continha interesses nada sutis por outro macho, poderia ser um golpe cruel da Mãe.

No entanto, não entoou nada em resposta, respeitando seu espaço ao que voltou sua atenção para a comida, degustando o feijão verde com entusiasmo, até nada restar no prato. Se havia uma coisa que os treinos a cometiam, eram abrir seu apetite.

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⏰ Última atualização: Nov 20, 2021 ⏰

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