Heartbeat

9°

Depois de alguns segundos ainda encostada na porta do quarto no qual eu já havia fechado, eu escuto o Jung Kook se afastar de vagar dela. Deixo meu corpo cair no chão enquanto meu cérebro processava toda a informação que ele tinha ganhado em apenas alguns minutos. O beijo, as palavras. A pergunta em questão é "porque ele decidiu voltar agora? porque ele está fazendo esse esforço todo para me ter de volta quando parece estar visível que eu estou bem sem ele?"

Algumas semanas haviam se passado desde a viagem ao museu e nada de muito inusitado aconteceu. Quando entrei no quarto a Jennie estava dormindo ou estava fingindo, então não consegui perguntar o porque de Jungkook estar em nosso quarto naquela hora. No café da manhã ele se sentou ao lado dela e não deu para perguntar a ela sobre, mas quando estávamos no museu eu consegui ficar sozinha com ela e a perguntar mas ela só disse que eram amigos e nada mais que isso. Depois disso ela sumiu e eu só a vi no ônibus sentada ao lado dele. Aquilo me deixou meio inquieta e me fez sentir como se estivesse no ensino médio novamente, vendo a pessoa que eu gostava e estava ficando sentada ao lado de outra garota que não fosse eu durante uma excursão, um sentimento de deja-vu.
Voltamos para a faculdade e Jungkook e eu mal trocávamos uma palavra um com o outro, pois nós quase não nos víamos no campos, era como se ele tivesse sumido do mapa.

Eu havia perdido meu caderno de desenho ou pensava que o havia perdido pois não me lembrava aonde ele estava ou onde tinha o deixado. Ele tinha uns desenhos que eu estava preparando para a minha obra e eu realmente precisava muito dele naquela hora.
Hoje meu dia tinha começado totalmente errado, pois nada estava indo bem, derramei café em uma roupa, discuti por nada com o Tae Hyung, minha obra inteira foi quebrada e os produtos que eu precisava não estavam pegando consistência. Precisava de algo novo para entender a confusão de meus pensamentos, mas para isso eu precisava de meu caderno de desenho para aflorar meus pensamentos, mas não o achava em lugar algum.
Jennie: o que você tanto procura? — pergunta enquanto me observa procurar meu caderno.
Nabi: você viu o meu caderno por acaso?
Tae: este aqui? — sua voz ecoa fracamente pela sala ao se aproximar, se tornando mais clara. Eu levanto minha cabeça rapidamente o olhando,então respiro aliviada por ter o achado.
Nabi: achei que o tinha perdido — dou um suspiro aliviado colocando a mão no peito — onde estava?
Tae: tinha algo tão importante aqui dentro para essa sua preocupação toda? — ele arqueia uma de suas sobrancelhas.
Ele está estranho. Minha expressão muda ao me lembrar dos desenhos que eu havia feito do rosto do Jungkook recentemente no caderno, desenhos no qual eu não quis rasgar a folha e o jogar fora como sempre fiz, eram lembranças que eu havia tendo. Ele obviamente percebeu a minha preocupação pois mudou sua postura drasticamente e a relaxou fingindo normalidade. Ele não ficaria assim por apenas alguns desenhos né?
Nabi: aconteceu algo? — pergunto a ele tentando entender qual era o problema ali.
Tae: não nada — frio, era a sua voz redirecionada a mim, e foi o que meu corpo sentiu com aquelas poucas palavras. Ele sorri para mim tentando amenizar, mas o sorriso dele estava diferente, eu conseguia notar.
Tae: toma — coloca o caderno em cima da mesa ficando perto o bastante para sussurrar em meu ouvido — te vejo mais tarde lá em casa — se afasta e se redireciona a menina do outro lado da sala que tinha acabado de entrar.
Tae: daqui a pouco eu volto para te ajudar no que você me pediu — diz sorrindo, esse sorriso era diferente do que ele deu para mim. E então ele sai como se nada tivesse acontecido, e como se a sala não tivesse ficado com um ar tão pesado que eu mal conseguia respirar.
Perdida em meus pensamentos sobre o que havia acontecido ali meu corpo se assusta ao sentir uma mão depositada em meu ombro.
Jennie: Está tudo bem? — me viro para ela que tinha um olhar compreensivo para mim. Dando um sorriso para ela falo.
Nabi: Porque não estaria?
Ela retira sua mão de meu ombro e eu pego meu caderno, tentando diversas vezes formar um desenho bom nas várias linhas que eu traçava nas folhas daquele caderno, mas era em vão, pois eu não tinha a menor capacidade e criatividade de fazer um desenho tão perfeito que pudesse virar uma obra naquele instante, não depois do pequeno e estranho diálogo com o Taehyung.

° ° °

Nabi: Tae? — o chamo, abrindo a porta de seu apartamento e o fechando atrás de mim. Sua casa estava extremamente silenciosa.
Eu voltei para casa depois da faculdade e tomei um banho, mas relutei muito para ir a casa do Taehyung. Estava me sentindo estranha, estava com sentimentos estranhos depois daquela pequena conversa, e meus pensamentos não paravam quietos tentando descobrir o motivo dele ter me chamado para ir a casa dele já que era mais comum ele ir para a minha.
Eu simplesmente odeio essa sensação inquietante, onde eu não sei o que eu estou sentindo, é uma mistura enorme de sentimentos entrelaçados uns nos outros. Você não pode tentar descobrir o que é, pois mesmo que tente, não vai conseguir descobrir, mesmo que o motivo esteja na sua frente.
E lá estava ele, sentado no seu sofá cinza, na sala escura de sua casa deixando apenas a luz de fora entrar por ela enquanto seu braço apoiado no sofá pende com um copo cheio de bebida que parecia ser whisky em suas mãos. Se ele estava bebado eu não sabia, mas seus rosto estava com um semblante abatido e seus olhos que mesmo que olhassem para um local fixo, não demonstravam emoção nenhuma, totalmente opacos e sem vida, não tinham mais o brilho de sempre. Eu estava longe e perto o bastante para ver isso tudo nele. Ao me aproximar, ele inclina levemente para o lado a sua cabeça para mim. Eu estava completamente confusa com tudo isso, sem saber o porque dele estar assim, eu nunca havia o visto assim tão desamparado.
Tae: hm! você chegou — ele tenta sorrir, mas seu sorriso é tão fraco, como se alguém o tivesse forçando a ser simpático. Eu continuei ali, imóvel — Senta aqui — ele bate no estofado do sofá ao seu lado.
Eu caminho muito lentamente até ele e me sento um pouco distante do mesmo. O ar ali estava denso de mais, frio de mais e pesado de mais, fazendo o ambiente não ser o mais convidativo para qualquer pessoa, e isso estava me deixando desconfortável.
Tae: Aconteceu alguma coisa naquela viagem?
Nabi: Não, porque? — o olho confusa e ele se frusta com minha resposta, passando as mãos pelos cabelos.
Tae: Nunca pensei que você mentiria pra mim, e ainda por cima tão bem — seu olhar e suas palavras me queimaram por dentro e por fora e não era uma coisa boa. Eu estava sendo julgada e massacrada por eles, me deixando inquieta. O pior de tudo era que eu não conseguia me lembrar do que tinha acontecido em si na viagem, mas como um lampejo de luz os toques de Jeon Jungkook me veio a mente novamente, ele não poderia estar falando disso não é mesmo? foi só um beijo como qualquer outro.
Tae: Pela sua cara eu vejo que você se lembrou — ele da um sorriso fraco passando as mãos no cabelo, jogando para trás deixando várias mexas grandes caírem de vagar para frente novamente.
Nabi: Eu realmente não sei do que você está falando — eu quase gaguejei durante todas as palavras que saiam pela minha boca.
Ele riu balançando a cabeça negativamente.
Tae: Não se faça de cínica  — seu tom de voz se alterou — Voce sabe muito bem do que eu estou falando — seus olhos brilhavam de uma fúria eminente.
Eu não posso assumir a culpa do que eu não sei o que é realmente, pois não houve só um beijo. E não teria como ele saber mais do que isso.