Danniel Magically e o Mundo dos Diferentes

Mansão sombria

Estávamos de férias, e resolvemos passar elas em uma mansão, após finalizarmos as provas de Inverno do terceiro ano do ensino médio. Já estava à noite quando chegamos a uma enorme casa sombria, com janelas tortas, madeiras escovadas e velhas. Eu poderia dizer que duas gerações de famílias passaram por ali e que o lugar estava sem cuidados a mais de vinte anos.
Dentro da mansão, uma sala enorme e quase vazia ligava a porta principal às escadas até os quartos e uma biblioteca.

Ainda no primeiro andar, podia se ver os cômodos localizados nos lados da sala de recepção. Eu encarei ambos os lados através dos arcos e era possível ver que o número de salas não poderia ser contado. Além disso, eu não podia saber se existiam duas ou mais salas por causa do breu sóbrio e fantasmagórico circulantes nos outros ambientes. Eu fitei o vazio, podia jurar uma movimentação brusca nas sombras. Ignorei.
Eu estava acompanhado de uma amiga, do lado de fora a chuva intensificou, então entramos deixando nossas malas na sala principal e carregando nossos guarda-chuvas.

Meu guarda-chuva era negro e longo, com o tamanho dele eu molhei apenas meus pés. Já o guarda-chuva da minha amiga era menor e, apesar dele também ser escuro, diferenciava-se das sombras que haviam dentro da grande mansão antiquada.

A garota que havia vindo comigo era baixa, cabelos castanhos amêndoas, olhos verdes como esmeraldas e pele parda sem quaisquer marcas de acnes. Todos, num primeiro momento, dariam a ela quatorze anos, mas ela era um ano mais nova que eu, que possuía quase os meus dezoito anos. Ela estava animada em estar naquela casa dos horrores e um contentamento natural em sentir o meu medo. Seu nome é Clara Lightghost.

Observei, por um breve momento, o perfil do rosto de Clara quando ficou estagnada na porta de entrada. Enquanto meu rosto estava frio, singelo e neutro, o dela estava iluminado de excitação com um sorriso contido no canto da sua boca.
Caminhei até as escadas de madeira rústica e escurecida. Cada passo, com minhas pernas esguias, um rangido alto e agudo. Tentei não fazer muito barulho caminhando levemente, mas tornou-se inevitável causar um alarde pela mansão, que ecoou os rangidos pelas paredes gastas.

Já Clara Lightghost, parecendo uma criança no carrossel, corria livremente logo abaixo no pé da escada examinando cada centímetro. Cheguei ao topo da escadaria antes dela virando-me à direita e encontrando uma sala de leituras com prateleiras escoradas nas paredes que estavam sem papel de decoração. Havia uma mesa de centro com duas poltronas que, quando novas, eu poderia dizer que eram brancas e aconchegantes. Elas estavam separadas, uma de frente para outra, por uma mesa de centro feita de vidro esmaltado.

Passei entre o vão e fui até a prateleira, que era uma estante pregada junto à parede. Distraído, deslizei meus dedos finos por cima de alguns livros. Uma corrente de ar passou em minhas costas, a iluminação estava fraca e vinha da porta principal e subia pelas escadas. Pequenos feixes de luz vindos das lâmpadas antigas da claraboia atravessavam as frestas das janelas a minha direita.
Tudo em questão de minutos havia sido tomado por um súbito silêncio e, somente o som da chuva desabando sobre os salgueiros e o vasto telhado esburacado da velha mansão, revelava que eu não estava completamente surdo.

Senti a temperatura do ambiente cair bruscamente. E, no movimento de respiração, era notável enxergar uma nuvem quente sair dos meus lábios. Movimentei meus dedos no ar tentando aquecê-los com minha respiração.

De repente, ouço o som de um pássaro batendo suas asas relutantemente no ar, o ruído penetrou em meus ouvidos invadindo meu peito e deixando o medo acumular-se na minha garganta.

Engoli em seco ao ouvir o chacoalhar atrás das minhas costas. Logo, um som como assobio do vento vinha das escadas, não, vinha mais acima, mais próximo de mim. Ao mesmo tempo em que os ruídos voavam até o meu pescoço trazendo um vento frio, meus pelos da nuca erriçaram involuntariamente.