Profissão Sobrenatural

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Percorri o caminho pensando em várias formas de contar a dona Martha sobre os amigos sobrenaturais que eu conheci. Porém, parecia apropriado cortar a parte sobrenatural da história. Acreditando que minha mãe ficaria contente por mim, pensei que, sendo ela cética com tudo, não seria muito certo contar-lhe sobre o mundo que não deveria existir. O mundo dos sobrenaturais.

Dona Martha passava o dia todo em seu escritório no centro da cidade, onde trabalhava como advogada. Para ser sincero, eu nunca soube como eram os seus clientes e os tipos de casos que ela resolvia. Certa vez, cheguei ao seu escritório e encontrei um homem robusto de aparecia rude, fria e indiscreta, pensei que fosse o The Rock presidiário coberto por tatuagens apagadas e com letras e desenhos desconhecido para mim. Esse cliente saiu do escritório assim que eu entrei, olhou para mim de cima com olhos cintilantes e curiosos como se eu fosse a criatura mais abominável da Terra.

No mesmo dia, dona Martha expulsou-me do escritório para casa, dizendo que deveríamos por alguns limites entre a relação de mãe e filho e o trabalho na advocacia. Lembro-me dela mencionando o fato da profissão ser estritamente de risco, podendo prejudicar nossa segurança pessoal, já que envolve casos de violência. Eu não tive reação, voltei para casa e não tocamos mais no assunto.

Entretanto, além de estar empolgado por ter conhecido Clara, Julien e parte dos sobrenaturais, hoje eu deveria realizar um trabalho de pesquisa sobre o dia da profissão, especificamente a profissão de advocacia da dona Martha. Então, deixei de lado o êxtase do conhecimento e andei até o prédio onde minha mãe trabalhava.

Encontrei o prédio de sete andares, com diversas antenas grandes no térreo, paredes cinza e um enorme letreiro detalhando o que haveria em cada andar e sala. Eu li rapidamente em minha mente os dizeres; Aviador Bart Dupont, Escritório de contabilidade Yearwood, artigos esportivos Mr. Right, Antiguidades The time, Donehue Advocacia, e entre outros.

Eu peguei o elevador até o terceiro andar e andei reto seguindo o corredor até a sala três. Uma porta metálica e com fechadura interna encaixava-se na parede branca. Procurei a maçaneta em vão, lembrando que a porta só poderia ser aberta por dentro. Então, apertei o botão da campainha e uma voz feminina, suave e convidativa, saiu do interfone:

-Boa tarde. Sala de advocacia Donehue.

-Oi. -Eu disse encarando o aparelho preso à parede. -Sou Danniel, filho da Martha. Eu posso falar com ela, por favor?

-Ah, sim. -Fez uma pausa. -Só um pouquinho, Danniel. -Eu respondi rapidamente que sim, enquanto ela parecia afastar-se do microfone. Esperei. -Pronto. Pode entrar Danniel.

Um estalo ecoou na porta metálica e eu a empurrei lentamente para entrar. Havia duas pessoas sentadas na área de espera, onde tinha poltronas vermelhas, uma mesa de centro com uma jarra de café e xicaras, no canto mais afastado um bebedouro se mantinha gelado. Discretamente, reparei nos dois seres plantados nas cadeiras. A mulher, que aparentava ter trinta anos, usava os cabelos negros e lisos sobre os ombros e o peito robusto, eles caiam como as madeixas de uma gueixa combinados com o rosto asiático dela. Esta, parada ao lado de um homem, olhava-me estática e com os olhos fixados em meu rosto curioso. O homem, ao lado dela, estava de cabeça baixa e braços caídos sobre o colo. Ele possui uma aparência alemã, tinha cabelo louro, assim como as sobrancelhas, corpo atlético e vestia um termo casual. Podia dizer, num primeiro momento, que o homem não respirava e que era apenas um corpo colocado cuidadosamente sentado.

A minha mãe, logo atraiu minha atenção para ela me fazendo encarar sua expressão atônita. Olhei de forma evasiva, mas logo forcei um sorriso.

Danniel Magically e o Mundo dos DiferentesOnde histórias criam vida. Descubra agora