Conhecendo a Criadora

57 5 23
                                    

Forcei minhas pálpebras e pisquei furiosamente. Quando voltei, saindo daquele momento do meu passado, reconheci o lugar onde eu estava. As mesmas paredes velhas e desbotadas, o cheiro de mofo, a mesa de centro e as poltronas encardidas e grudentas da mansão em que fomos procurar respostas durante as férias do nosso último ano na escola.

Olhei para a página do livro em minhas mãos, que eu peguei na estante antes dele me levar para o passado, e ela estava vazia com apenas reticências no canto direito da folha amarela.

-O que significaria continuação, talvez... -Pensei comigo. Depois, levantando meu queixo, fitei Clara que ainda encarava o livro em minhas mãos. Ela estava estática, chocada e exasperada, até que abriu seus lábios e pronuncio:

-Os Ghostback? -Reprimiu a pergunta, provavelmente de desagrado. Engoliu em seco. -Você leu sobre eles... Quero dizer sobre...

-Eu não li. Nós vimos tudo novamente, como em um filme, Clara. -Interrompi-a tão surpreso quanto ela. Então, Clara remexeu-se na poltrona e, confusa, examinou meu rosto.

-Nós não vimos nada, Dan. -Disse ela firme. -Esse livro na sua mão brilhou, chacoalhou algumas vezes e parou numa página aleatória. Depois você começou a ler incansavelmente como se eu não existisse mais nesta sala. -Sua voz soava ofensiva, mas ela controlou-se. -Acredito que são livros demais para você.

-Não, Clara. Eu abri este livro e ele revelou meu passado como se eu nunca estivesse lá; No meu passado. -Digo confuso com a minha própria afirmação. Parecia estranho dizer aquilo.

-Uau! -Exclamou a garota exasperada. Endireitou sua coluna e encostou suas costas na poltrona velha. -Então, isso significa um livro sobre nós?

Clara estava gesticulando com os dedos entre ela e eu, quando alguém interrompe vindo do corredor adiante das escadas. Uma mulher alta, esguia e de pele morena mesclada com branco deslizou pelo corredor do segundo andar da grande mansão emitindo um barulho do vento tocando as folhas verdes das palmeiras. Clara e eu analisávamos pretéritos à mulher de meia idade e de olhos cristalinos como a água, nos alcançar em poucos segundos.

A senhora, com um longo e pesado vestido negro, camuflava-se nas sombras da velha casa. Um véu tão escuro quando o vestido cobria seus ombros e partes dos seus braços, onde reparei que algumas marcas finas como cicatrizes e arranhões cobriam todo o seu ombro direito e parte do seu antebraço esquerdo, já no pescoço fino e comprido havia pequenos buracos parecidos com marcas de agulhas com pontas grossas. A mulher misteriosa encarava Clara com desconfiança, parou diante da mesa de centro e ajeitou suas mãos em forma de sanduíche; uma segurando a outra delicadamente lembrando aquelas senhorias das fazendas de antigamente. De perfil, notei que o seu cabelo negro assemelhava-se a textura e cor do petróleo e estava preso num coque, que deixava partes de algumas traças estreitas caírem sobre suas costas seminuas pelo espartilho do vestido e coberto pelo tecido do véu.

-Espectro negro?! -Finalmente sua boca de cor rubra e lábios grossos pronunciaram algo.

-Está falando comigo, senhora? -perguntou Clara estarrecida. Fez-se um breve silêncio, enquanto os olhos da mulher estreitam-se em duas linhas horizontais.

-Não, garota. Com o meu gato Metamorfo. -Respondeu sarcasticamente à Clara, que examinou seus pés a procura do suposto gato da mulher rude. -Claro que é você, espectro! -A mulher logo afirmou impaciente. -Não estou vendo outro espectro além de vocês...

Finalmente, ela havia olhado para mim, que estava de pé ao seu lado e com o livro em mãos. A mulher, ao perceber minha presença, arqueou suas sobrancelhas definidas e fitou os meus olhos tão escuros quanto os dela.

Danniel Magically e o Mundo dos DiferentesOnde histórias criam vida. Descubra agora