O jovem Skinwolf

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Eram quase três e meia da tarde de quarta feira e, logo, os períodos escolares acabariam daquele dia de março. Eu ainda ouvia passos frenéticos e conversas alegres vindos do outro correndo. Provavelmente, alguns alunos já estavam saindo das suas salas para desfrutarem do intervalo.


Eu passei os últimos dias desanimado e fechado com os meus livros para evitar qualquer esforço. E tendo Clara por perto eu sentia-me pior, talvez quase desmaiasse ali mesmo no corredor. Eu me senti zonzo, então apoiei minhas costas na parede fria da escola.


-Você está bem? -Ouvi ao longe a voz preocupada de Julien. Ele se aproximou, mas Clara permaneceu no mesmo lugar, usando suas mãos como barreira entre nós.


-Eu... Eu preciso ir. Vejo você, Julien, mais tarde. -Clara balbuciou algumas palavras, abriu a porta e saiu correndo pelo corredor em que veio.


-O que há de errado com ela? - Eu pensei quando a vi atropelar alguns alunos no outro corredor enquanto a porta se fechava na minha frente.


Abruptamente, deixei minhas pernas cederem, escorreguei pela parede sentindo o concreto liso e caí sentado na pedra polida do chão da escola. Julien me acompanhou se agachando ao meu lado, levantei meus olhos para ele, que levou sua mão direita até o meu rosto, mas passou direto pela minha bochecha e apoiou-se na parede atrás da minha nuca. O garoto tinha traços de preocupação, porém sua postura rígida e serena transparecia a imagem de um jovem enfermeiro.


-Danniel, o que você está sentindo? -Ele perguntou fitando meus olhos entre abertos.


-Eu... Eu estou bem. -Respondi apalpando a minha testa e deslizando a minha mão para a nuca. Dei uma desculpa qualquer. -Deve ter sido o calor.


-Sua fraqueza muscular ou desânimo começou há dois dias, não foi? -Ele disse cerrando os olhos.


- Foi... Eu acho. -Concordei com a cabeça e dobrei meus joelhos para cima. -Mas eu estou bem. Só preciso... Respirar.


-Se você diz, então devo acreditar? -Julien ajeitou-se ao meu lado encostando suas costas na parede. -Eu, entretanto, sou obrigado a te contar sobre alguns riscos em estar com a Clara.


Fez-se uma longa pausa. Murmúrios vinham da porta a nossa frente e diminuíam gradativamente. Julien estava encarando o seu anel prateado em seu dedo e eu esforcei-me para decifrar a sua expressão. Fiquei imaginando quais eram estes riscos em estar próximo a Clara; vergonha, fobia a nerd, não suportar pessoas doentes, não relacionar-se com alguém fora do seu estilo social e etc...


-Clara Lightghost falou muito sobre você no dia em que minha família chegou nesta cidade. -Julien interrompeu os meus pensamentos. Ele se mostrava em devaneios. -Não sei o porquê de ela estar tão fixada em você, mas sei que ela sempre tem uma boa razão para explicar sobre seus objetivos.


-Falou? -Estranhei imaginando o que ela teria dito a meu respeito. -O que Clara Lightghost irá fixar-se em um cara como eu?!


-Falou sim, Danniel. -Julien girava seu anel em torno do indicador. Notei-o engolindo em seco. -Quando queremos algo ou alguém... Somos capazes de fazer qualquer coisa para alcançar nossos objetivos. Mesmo que isso custe os nossos sonhos.

Danniel Magically e o Mundo dos DiferentesOnde histórias criam vida. Descubra agora