Minha mãe, dona Martha, vestia uma camisa branca e uma saia azul marinho, ambos sociais, com um sapato preto e salto alto. Seu cabelo ondulado e negro estava solto até seus ombros largos, dividia-se acima da cabeça e balançavam levem para frente. Seus olhos eram tão escuros quantos os meus, sua boca avermelhada projetavasse em linhas perfeitas e sua pele morena era uniforme e veluda como uma pintura a óleo.
Ela estava tirando nosso jantar dos embrulhos e sacolas de papel, largando as caixas de comida japonesa sobre o balcão ilha da cozinha.
Quando entrei, minha mãe fitou meu rosto como se estivesse o admirando. Às vezes, eu me perguntava em meus pensamentos o que ela estaria pensando, talvez meu rosto a lembrasse do meu pai ou ela preocupava-se com minha saúde ou meus relacionamentos ou estudos, talvez, sobre o quanto eu parecia importante para ela.
-Oi, mãe. -Cumprimentei ela quando adentrei pela cozinha.
-Oi, filho. -Disse ela sorrindo, enquanto jogava as embalagens no lixo de inox próximo a pia. -Trouxe comida japonesa para nós.
-Achei que seria espaguete do Lubango... -Digo indo até a pia pegar um copo de água. Escorro-me no balcão, ficando de frente para minha mãe. -Mas prefiro muito mais essa comida do que espaguete. -Falei com convicção, já que meus pensamentos queriam dizer à dona Martha, que uma comida caseira era o que eu queria dela.
Minha mãe nunca foi muito boa na cozinha, mas mesmo assim não custaria ela fazer algo para nós dois. Somente para nós dois. Apesar dela trabalhar excessivamente e não parar muito tempo em casa, dona Martha esforçava-se para não deixar nada faltar. Odiava atrasos, chuva, trânsito, clientes chatos e pertinentes, assim como não olhava para o gramado dos senhores Lynn e Ludington por acha-los metidos e arrogantes.
-Como foi seu dia, querido? -Ela servia-se com uma porção pré-preparada de peixe. -Soube que você fez grandes organizações na biblioteca de sua escola.
-Foi normal. -Servir-me. Tentei não soar tedioso. -Eu não diria "grandes"... Organizei alguns livros, dicionários, mapas e ajudei outros alunos da minha escola.
-Alunos? -Sorriu singela e depois disse orgulhosa. -Você está falando como se fosse um professor.
-Não, dona Martha. -Neguei a frase dela de imediato. Eu jamais gostaria de tornar-me um docente. Ajudava os outros alunos por pura satisfação em estar rodeado por livros da grande biblioteca da minha escola.
-Aluno! -Afirmei analisando os talheres em minhas mãos. -Clara Lightghost para ser exato. Conheci ela hoje.
Quando terminei minha frase ouvi um estrondo ecoar pelo piso da cozinha, olhei alarmado. Minha mãe fitava o chão preocupada, suas mãos estavam abertas e viradas para cima. Nos seus pés, uma pilha de cacos espalhava-se pelo piso mostrando que perdemos outra louça de cerâmica italiana. A comida, que ela havia separado para comer, estava esmagada entre as divisões dos ladrilhos. Levantei meus olhos para examinar se minha mãe estava bem.
-Mãe? -Perguntei estendendo a palavra e a encarando preocupado.
-Ah, céus! -Exclamou remexendo-se no lugar e mostrando culpada. -Escapou de minhas mãos. Não sei onde estou com a cabeça.
Andei até ela, que se agachara para apanhar os pedaços de cerâmica. Dona Martha ajeitou seu cabelo atrás das suas orelhas e iniciou sua caçada pelos cacos de cerâmica. Perto da porta da cozinha, que saia para os fundos da nossa casa, ficava uma vassoura. Caminhei até a porta e apanhei a vassoura pelo cabo levando-a para amontoar a bagunça.
-Clara? -Questionou minha mãe cuidando para não cortar seus dedos. -Lightghost... Sua amiga?
-Isso. Clara. -Afirmei tranquilamente, enquanto varria e buscava uma pá para ajuntar os pedaços do prato e a comida caída no chão. -Mas ela não é minha amiga. Eu apenas a ajudei a encontrar um livro, que nós da escola chamamos de livros bizarros. -Expliquei, enquanto ela levantava-se. -Livros sobre mitologia, sobrenaturais e criaturas fantasiosas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Danniel Magically e o Mundo dos Diferentes
Misterio / SuspensoUm nerd, uma garota popular e um aluno de intercâmbio. O que esses três adolescentes tem em comum além do vínculo com o Mundo Sobrenatural? Será os seus pais? Um livro que memoriza a história deles? Quem sabe um forte elo da amizade... Ou seria alg...