Capítulo 2

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Katherine chegou em casa exausta. A semana tinha sido estressante, mais por conta das planilhas não feitas do Sr. Lewis do que qualquer outra coisa. Ainda pensava no encontro de dias atrás com o presidente da empresa, Christopher Norman, e em como ele era incrivelmente lindo, em como tinha sido surpreendentemente educado com ela. Pelos comentários que rondavam os corredores, ele costumava ser um ogro em pessoa quando algo estava em desacordo com seus ideais, mas, na manhã em que ele apareceu na Diretoria Financeira, o achou aceitavelmente simpático, mesmo não encontrando o senhor Gordon Lewis em sua sala.

Como era sexta-feira, Katy ficou um longo tempo na banheira, pensando, descansando.  Abriu um vinho e levou junto, tentando aliviar as tensões de entrega de prazos, barulho de telefone, pessoas falando com ela... Não que ela não apreciasse seu trabalho, pelo contrário. Ganhava um bom salário, conseguia se manter bem em Dallas, e tinha o privilégio de trabalhar em uma das maiores empresas do país. Mas nada na sua vida veio sem bastante esforço, e, aquelas sextas-feiras, depois de uma longa semana, eram seu paraíso.

Imaginou como seriam os fins de semana de Christopher Norman. Ela sabia que ele trabalhava aos sábados às vezes, todos sabiam. Também saíam fotos dele nas redes sociais com vários empresários, grandes fazendeiros do país, políticos, modelos... Mulheres realmente lindas. Entretanto, nenhum caso assumido desde o divórcio surpreendente com Chloe Toussaint, um pouco antes de Christopher chegar a Dallas.

Chloe Toussaint era uma incrível atriz internacional, tida como um dos grandes talentos de sua geração. Linda, educada, com longos cabelos loiros, simpática com a imprensa em geral e muito discreta. Rumores apontavam que Chloe não havia suportado o temperamento difícil do ex-marido e a convivência a tinha levado ao limite. Katy lamentou na época quando a assessoria de ambos confirmou a separação. Ela ainda não trabalhava na Norman, então não sabia muito sobre os acontecimentos da época. O assunto era um tabu na empresa e os funcionários não falavam nada. A verdade, Katy pensou, é que ninguém tinha a ver com isso. Enquanto ele pagasse seu salário, ela estaria feliz.

Enquanto Katy concluía seus pensamentos sobre Christopher e Chloe, seu celular tocou. Enxugou as mãos no roupão que estava próximo e atendeu a chamada. Era sua irmã mais velha, Adelyn:

"Hey, Delie! Eu juro que eu ia ligar pra você. Eu juro!"

"Katherine Violet Andrews, às vezes eu acho que você esquece que tem família, sabe, sua ingrata!" A irmã falou, tentando parecer séria, mas rindo depois.

"Eu sinto muito, de verdade. Semana difícil. Queria ligar para você com mais tempo para conversar."

"Eu sei, Katy... Imaginei isso. Mas você vai precisar de muito mais para convencer mamãe e papai. Eles estão loucos porque você nunca mais apareceu aqui na fazenda."

"Se eles estão assim, imagina 'abuelita'. Estou em falta com vocês. As coisas na empresa não são fáceis e eu uso os finais de semana para tentar organizar minhas pendências. Não diz a ninguém ainda, mas tentarei ir próxima semana. Algumas horas de viagem não vão me matar."

"Não, não vão. Acho que é 'abuela' quem fará isso." Adelyn riu, mas em seguida mudou o tom da conversa. "Katy, te liguei porque preciso te contar algo e prefiro que saiba logo. E por mim, que sou sua irmã.

"Caramba, Delie... Que voz é essa? Não me assusta... Vocês estão bem? Papai, mamãe, 'abuela'?"

"Calma, está tudo bem, não é nada com a gente, estamos bem. Estamos todos ótimos. Não é isso... É sobre... Nathan. Ele e Justine se casaram hoje, Katy. Eu... Não sei bem o que te dizer, mas achei que você deveria saber."

Katy não conseguiu responder. Nathan Collins tinha sido seu primeiro amor. Seu grande e único amor. Conheceram-se na escola, eram melhores amigos, depois viram que da amizade surgiu um sentimento muito maior. Ele foi o único homem que Katy pode completamente se entregar como mulher. Até que, quando Katy entrou para a Universidade de Dallas, ele se aproximou de Justine Banks, filha de um grande comerciante em Fort Worth, cidade em que Katy nasceu e cresceu com Nathan.

Katy já conhecia Justine e a considerava uma boa moça. Bonita, rica, mas não esnobe, chegou a sair junto com Katy e Nathan e alguns amigos em comum antes de Katherine ter que se mudar para Dallas e fazer faculdade de Finanças. Lembrou-se dos ciúmes que sentira quando Banks e Collins passaram a noite conversando sobre fazendas, enquanto tudo o que Katy amava eram negócios e números.

"Katy? Katy? Você ainda está aí?"

"Aaaah... Hmmm... Sim, sim, Delie, eu só estou surpresa, eles se casaram bem rápido, não é?"

" Katie... Já se passaram dois anos..."

"Eu sei, mas dois anos não é muito tempo. Eu e Nathan ficamos juntos por, sei lá... 5 anos... Não é fácil esquecer."

"Não, não é. Mas você precisa, ok? Ele já seguiu em frente, minha violeta. Eu não posso mais ver você sofrer com isso."

"Eu vou ficar bem... De verdade. Como você mesma disse, já se passaram dois anos. Eu fiz uma escolha, Adelyn. Eu escolhi minha carreira. Escolhi a bolsa na universidade, me mudar pra cá sozinha, vê-lo aos fins de semana. Não foi o suficiente para Nathan. Claro que ele poderia ter sido menos imbecil e não ter me traído, mas tudo aconteceu como tinha que acontecer. É Justine, sempre foi, não eu."

"Sim, Katy. É Justine. Enfim... Mudando de assunto... Vou esperar você próxima semana. E nem pense em não vir, você sabe como mamãe é dramática, faz duas semanas que você não vem na fazenda."

"Não vou prometer ir semana que vem, ok? Se eu não puder ir, apareço no feriado de 4 de julho. Prometo."

"Espere 450 ligações da mamãe durante a semana, então." Adelyn riu. "Ela não vai descansar até ter você aqui por, no mínimo, dois dias.

"Eu sei. Já estou imaginando o choro e a chantagem emocional de Camellia Andrews." Katy parou de falar, pois, naquele momento, o que mais queria era o abraço de sua mãe e de sua irmã, tomar vinho com elas e dizer um monte de palavrões contra Nathan. Engoliu o nó que se formou na garganta e começou a se despedir de Adelyn:

"Hmmm... Eu preciso ir agora... Tenho algumas coisas pra fazer. Obrigada por ter ligado, Delie. Obrigada por não ter escondido nada de mim e não ter me feito descobrir sobre o casamento só quando eu chegasse aí. Teria sido pior."

"Você sabe que eu te amo, não sabe? Por favor, se cuide, sim? Coma bem, durma bem, tente relaxar. E venha para a fazenda. A gente também precisa de você."

"Eu amo vocês. Te vejo depois."

Katy desligou com uma sensação estranha. Era como se uma parte dela tivesse ido embora para sempre. Ela não tinha esperanças em voltar com Nathan, mas o casamento dele com Justine encerrou uma parte da sua vida que ela não estava preparada para se despedir. Não foi ela a primeira a dizer adeus, a dizer que não queria mais. Foi Nathan. Ele dizendo que não a amava mais a atormentava, ainda doía. Katy sonhara com o casamento dos dois, depois de terminar a faculdade, conseguindo um bom emprego. Poderiam morar em Dallas ou até mesmo em Fort Worth. Poderiam ter bebês... Poderiam tanta coisa... Mas agora ele poderia fazer isso, só que com Justine.

Katy chorou quando sua playlist chegou em "Bitter Sweet Symphony" do The Verve. Em sua mudança para Dallas, ela e Nathan haviam cantado essa música juntos, no carro, em um momento memorável. Agora ela afogava os sentimentos de perda e as memórias junto às lágrimas na banheira.

Era realmente um fim.

Mean(t) To Be Onde histórias criam vida. Descubra agora