Capítulo 42

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Katy ficou calada o caminho inteiro até o hospital, em Fort Worth. Nancy não havia conseguido explicar bem o que tinha acontecido com Alice, mas, pelo pouco que entendera, a menina tentara se levantar da cadeira de rodas por alguma razão e a avó já a encontrara desacordada, com um sangramento na cabeça. Nem Katherine, nem Christopher sabiam o atual estado de saúde da criança, mas, pelo desespero de Nancy, as notícias não podiam ser boas.

Antes de seguirem viagem, Christopher levou Katy ao apartamento dela apenas para pegar algumas roupas e objetos pessoais, pois certamente ficaria um tempo fora de Dallas. Enquanto ela ajeitava tudo, pediu que Billy fizesse uma mala rapidamente para ele também, pegando seu laptop para que resolvesse algumas pendências da Norman, caso precisasse. Não estava disposto a deixar Katherine sozinha em uma situação como aquela, e, além de tudo, ele mesmo não conseguiria trabalhar sem ter notícias da pequena Alice. A menina já era muito especial para ele, mesmo com pouco contato.

Dentro do carro, na estrada escura, o chefe de Katherine a olhava de vez em quando, preocupado com seu comportamento. Ela mantinha os olhos na estrada, com a respiração acelerada, quase a ponto de ter uma crise de ansiedade. Apesar de ele querer chegar o mais rápido possível, teve que se concentrar para manter a atenção na viagem e não piorar a situação com um acidente, então passou a evitar olhá-la, mesmo querendo mostrar seu apoio.

Chegaram ao hospital de Fort Worth ainda antes do amanhecer e logo encontraram Nancy sentada em um sofá, numa ala pediátrica. A senhora tinha os olhos muito vermelhos e agarrou-se à Katherine em um abraço dolorido:

- Eu não posso perdê-la, Katy... Eu não posso...

Katy não chorou. Seu rosto continuou impassível, talvez como se não acreditasse em tudo aquilo.

- Não vamos perdê-la, Nancy. Alice é forte e geniosa, você a conhece, ela não vai querer ir embora assim. O que exatamente aconteceu, você já sabe?

- Não sei muito bem porque, mas ela deve ter tentado levantar da cadeira de rodas... Não aguentou e caiu... Na queda, acabou batendo a cabeça na escrivaninha, gerando um trauma, a encontrei sangrando, desacordada.

Christopher, que estava atrás de Katy, segurando sua cintura, falou à Nancy:

- Eu me coloco à disposição para o que precisarem, certo? Ela terá os melhores médicos com ela, se for necessário, farei tudo por Alice.

Katherine olhou para o chefe e pela primeira vez seus olhos lacrimejaram. Teve vontade de abraçá-lo, mas, naquele instante, uma médica se aproximou e veio falar sobre o caso da criança.

- Vocês são os responsáveis por Alice Morgan?

Katherine fez menção de responder afirmativamente, mas o chefe foi mais rápido, assentindo prontamente para a doutora, deixando a assistente surpresa diante da situação.

- Bem, senhores, Alice chegou com um sangramento causado por um ferimento na região da cabeça que logo conseguimos controlar. Não houve hemorragia, felizmente. Por conta da queda, ela tem um edema na lateral direita que estamos avaliando, mas, apesar disso, ela acordou e conseguimos fazer alguns testes. Não houve comprometimento de atividades cerebrais até agora causadas por esse impacto, entretanto, precisamos mantê-la aqui por mais dias para maiores avaliações. No momento, ela está acordada. Se quiserem vê-la, posso permitir a entrada, mas apenas um por vez e por poucos minutos para não cansá-la. 

- Então está tudo bem com a minha neta, doutora? - Nancy apertava as mãos, tentando conter o nervosismo.

- O quadro é estável. Como falei, ela vai ficar em observação e fará mais exames para saber se está realmente tudo bem. Nesse momento, peço que tenham paciência, certo? A senhora pode entrar primeiro. 

A médica guiou a avó de Alice até o quarto onde a menina estava e Christopher e Katherine sentaram-se no sofá de uma pequena recepção da ala pediátrica. Katy estava tensa e mal respirava, até que o chefe passou o braço por sobre seus ombros e a puxou para o si, fazendo-a recostar a cabeça em seu peito.

- Ela vai ficar bem, Katherine. Nós vamos cuidar dela. O pior já passou...

- Christopher... - ela explodiu em lágrimas - Alice é tão importante na minha vida, você não tem ideia! Não posso falhar com Florence... Eu devia ter sido mais presente... Eu... Devia ter ligado mais, ter vindo visitá-la mais vezes, eu deixei tudo nas costas de Nancy, e...

- Eeeei, calma... Podemos conversar sobre isso, ok? Não se culpe, precisamos pensar agora na recuperação dela. 

- Por que você está fazendo tudo isso? - Katherine afastou-se do abraço de Christopher e olhou-o firmemente. - Alice até pouco tempo nem fazia parte da sua vida e agora... Você age como... Não sei... Alguém que a amasse muito... Como...

- Como um pai? - A voz dele era tranquila e amável. 

- Sim... 

- Katherine, na única vez em que essa palavra foi referida à mim, fui do céu ao inferno em questão de segundos. Depois disso, nunca mais quis nada que me aproximasse da paternidade em nenhum sentido, como eu já contei a você. Mas Alice é... diferente... Não que eu pense que sou pai dela, sei que não sou, não sei a história de vida dela, nem me acho no direito de ocupar esse lugar. O que quero dizer é que o que sinto por ela é verdadeiro, me preocupo com ela porque eu já a amo e quero que seja feliz. Não sei se é assim que um pai supostamente deve se sentir, entretanto, se for parecido, fico feliz em poder oferecê-la esse tipo de afeto. 

- Ela adora você... Alice não costuma deixar as pessoas entrarem em sua vida com tanta facilidade. Estamos tendo muitos problemas na escola, eu e Nancy já fomos lá várias vezes, ela não consegue se relacionar com os colegas, muito por causa de comentários maldosos por ela não poder andar. Não entendo como até mesmo crianças podem se tornar tão cruéis...

- Isso é um reflexo, Katherine. Elas veem esse comportamento e o reproduzem. 

- Talvez... 

Katy e Christopher foram interrompidos pela chegada de Nancy, que tinha as feições tristes: 

- Ela está consciente, mas quase não falou comigo. 

Katy assustou-se:

- Por quê? Existe algum dano por conta da queda? Ela não consegue falar?

- Não, fiha, não é isso. - Nancy a tranquilizou. - Ela apenas se recusa a falar sobre o que aconteceu. Não quer me explicar o que está acontecendo... Estou com medo, Katy...

Christopher ouviu a senhora e decidiu agir: 

- Posso ser o próximo? Ela não sabe que estou aqui, não é?

- Não, não faz ideia. - Nancy respondeu. 

- Volto em alguns instantes. 

Antes que ele levantasse em direção ao quarto de Alice, Katherine segurou a mão do chefe com carinho, com a outra mão tocou em seu rosto, e sussurou "obrigada". Depois, aproximou-se dele e o beijou levemente na boca, e Christopher teve a sensação de ouvi-la dizer que o amava. Será que ele tinha ouvido aquilo mesmo ou o cansaço das várias horas sem dormir o deixara confuso?

Mean(t) To Be Onde histórias criam vida. Descubra agora