Ossos com tinta, veias com tinta.

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"A verdadeira emoção e humanidade estão no coração humano, aquele conceito vago e metafísico completamente separado do órgão musculoso dentro do peito, e ainda assim tão necessário.
Isso era o que Harry estava perdendo."

*

Quando Harry Potter derrotou Lord Voldemort, ele não sentiu nenhum triunfo. Sem raiva. Nenhuma alegria crescente de vitória ou sede de sangue saciada e desejo de vingança. Harry Potter, Salvador do Mundo Mágico, sentiu apenas um leve arrependimento, nascido de estar cansado de matanças. Não o homem que ele era apenas uma hora antes, Harry Potter sussurrou uma frase, despercebido pela multidão que se reuniu para assistir a queda do corpo vazio do Lord das Trevas.

"Sinto muito, Tom."

Foi um pedido de desculpas nascido de empatia e compreensão. Ninguém é verdadeiramente mau, nem mesmo Lord Voldemort, não até a loucura entrar no caminho. Ele era apenas um menino que queria mudar o mundo. Assim como Harry. Muitas peças de Tom Marvolo Riddle eram exatamente como Harry. Isso assustou algumas pessoas, especialmente seus amigos íntimos. Mas não assustou Harry.

Nada assustou Harry. Não mais.

Nada o deixava feliz, triste, esperançoso ou mesmo zangado. Não mais.

Quando Harry entrou na Floresta Proibida, naquela noite da batalha, ele carregava mais alma do que qualquer homem deveria. Quando Harry deixou a Floresta Proibida, aquele amanhecer cinzento da Batalha, ele estava vazio. Apenas o fato de que ele ainda estava se movendo, ainda disposto a terminar sua tarefa, provava que ele estava vivo.

Hermione Granger o descreveu como uma casca do menino enérgico que ela conheceu, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Ron Weasley o comparou a alguém beijado por dementadores, com um estremecimento.

Ambos sabiam que o Harry Potter com quem estavam falando era diferente. Algo havia acontecido na floresta, e era como se seu Harry tivesse morrido.

Se eles soubessem o quão certos eles estavam.

~*~

Se Harry estivesse disposto a falar e se descrever, naquelas semanas após a Batalha de Hogwarts, ele teria discordado de Ron. Ele sabia que sua alma ainda estava firme no lugar. Ele ainda era humano, ainda gostava de torta de melaço e não gostava de brotos e tudo isso. Não, o que ele estava perdendo era seu coração. O sangue ainda bombeava em suas veias, mas era como uma máquina em vez de carne. Ele estava perdendo um coração humano real, com amor e ódio e todas as emoções menores que surgiram deles. O que era a alma senão os fatos frios que constituem uma identidade? Era até uma coisa física, capaz de ser dividida e armazenada em objetos. Não, a verdadeira emoção e humanidade residem no coração humano, aquele conceito vago e metafísico completamente separado do órgão musculoso dentro do peito, e ainda assim tão necessário.

Era isso que estava faltando em Harry.

~*~

Harry foi levado em uma segunda-feira.

Ele sabia que era segunda-feira porque segundas-feiras eram os únicos dias em que deixava Grimmauld Place. Às segundas-feiras, ele ia visitar Andromeda e Teddy. Andromeda sabia em que estado Harry estava, mesmo que ela não soubesse o porquê. Ela exigia que ele saísse de casa às vezes e passasse um tempo com seu afilhado agora órfão.

Guardianship [ TRADUÇÃO ] Onde histórias criam vida. Descubra agora