Capítulo 12

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Helena

  A partir da conversa que tive com Nikolas na estufa, as coisas pareciam fluir muito mais em relação a nós. Como o trabalho, por exemplo.

Eu vinha conseguindo muitos contatos de fora para fazermos um marketing pesado, e vínhamos estudando várias estratégias que Nikolas aprovara.

Naquele dia estávamos trabalhando do quintal, sentados nas poltronas que ficavam próximas à piscina, já que estava um dia muito quente. Ele sentara de frente para mim, com um notebook também sobre a mesa. A tarde passava lentamente.

Já quase no fim da tarde, Flávia chegou com Zé. Ela cumprimentou Nikolas normalmente, com um abraço, e depois se dirigiu a mim, apenas dando um beijo, como havíamos nos visto naquela manhã, não tinha necessidade de cumprimentos maiores.

A minha surpresa foi como Nikolas recepcionou Zé. Não que fosse algo irreal. Mas era completamente contraditório da postura que ele pregava, todo sério, com uma carranca no rosto na maioria das vezes. Mas quando o menino veio correndo em sua direção, gritando "dindo" com sua vozinha estridente, e Nikolas abriu os braços, recebendo-o em seu colo, com um sorriso genuíno no rosto, fui pega completamente de surpresa.

Fiquei admirando os dois, sem pudor nenhum. Nikolas nunca me parecera tão lindo quanto naquele momento. José parecia ter trazido uma luz para a vida dele juntamente com a felicidade.

— Eles são lindos juntos, não é? Eu sempre admiro também. — Flávia foi quem me tirou do transe, fazendo-me entender que eu não disfarçava nem um pouco minha cara de surpresa.

— Eu nunca o vi sorrir assim. Em todo mês que estou trabalhando com ele.

— Pois é. Zé é o único que consegue tirar um sorriso daquele rosto há um bom tempo.

Continuei admirando-os, enquanto Nikolas jogava Zé para o alto e rapidamente pegava a criança no colo. O menino sorria facilmente com cada brincadeira que o padrinho fazia.

— Acho que as crianças podem brincar depois, e deixar os adultos trabalharem, não é? — Flávia interrompeu os dois.

José insistiu para que a mãe esperasse mais um pouco, para que brincasse mais, e Nikolas prometeu que brincaria depois.

Eu estava realmente hipnotizada em ver os dois juntos, e por pouco não comecei a pedir junto com José, para que Flávia os deixasse brincar mais um pouco.

Mas Zé obedeceu pacientemente, afastando-se dos dois e correndo para Andréia, que estava na porta da casa aguardando-o.

Deixei que os dois resolvessem o que tinham, afastando-me um pouco e indo para uma das outras mesas que ficavam próximas.

Eles pareciam se dar muito bem, e Nikolas considerava muito Flávia, assim como ela a ele.

O dia estava começando a amenizar a temperatura, com a tarde caindo, mas Andréia parecia saber o momento exato de agir, quando colocou um copo de suco na minha frente e José uma bacia pequena com alguns bolinhos. Peguei o copo dando um grande gole e lhe agradeci.

— Não precisa agradecer, menina. Está um dia muito quente. Vou até aproveitar para cuidar de algumas das flores.

Como se fosse uma tarefa fácil. Eu sabia que havia um profissional que passava periodicamente, podando e tratando de todas as flores da casa, assim como já havia visto Nikolas cuidando de algumas com as próprias mãos. Andréia também era apaixonada por cada flor daquele lugar, e eu sempre a via conversando com um canteiro enquanto o aguava.

— Quer me ajudar, Zé? — ela perguntou para o menino que começou a pular ao mesmo tempo, todo feliz.

E novamente fui deixada sozinha, enquanto trabalhava.

Os bolinhos estavam ótimos e o suco foi me refrescando daquele calor.

Estava distraída mandando um e-mail quando Flávia chegou perto de mim, sentando-se na outra cadeira. Ela pegou um dos bolinhos, levou à boca e mastigou lentamente enquanto parecia observar a paisagem. Já estávamos próximas e ela se tornara mais que uma amiga, então não precisava dar voltas para me falar qualquer coisa em que estivesse pensando. Como manteve o silêncio, decidi eu mesma puxar assunto.

— Já acabou a conversa?

— Sim, Nikolas está redigindo um pedido para mim. — Ela respirou fundo, soltando o ar de uma vez. — Ele está parecendo mais solto hoje.

Olhei para ela sem entender muito bem de quem ela falava, mas seus olhos estavam caídos em Nikolas, então entendi que seria dele.

— Trabalhar aqui fora hoje, foi muito bom.

Flávia apenas resmungou, dando uma olhada para mim de canto de olho.

Voltei minha atenção para o computador, distraindo-me do que acontecia ao redor. Levei um susto apenas quando um "não" foi gritado perto de mim. Deu tempo apenas para que eu levantasse a cabeça e visse o que aconteceria logo em seguida.

José estava com uma mangueira, molhando algumas flores junto com Andréia, e antes que esta pudesse ser mais rápida, o menino a virou na direção de Nikolas. Qualquer um poderia dizer que foi um acidente, mas bastava apenas olhar para a cara da criança para entender que o seu sorriso queria dizer que havia cumprido com a missão que ele próprio havia se dado.

O jato de água foi certeiro, molhando apenas um lado do corpo de Nikolas. O crime fora tão premeditado que nem mesmo atingira o notebook que estava à sua frente.

No mesmo instante em que ele se molhou, segurei a respiração com medo da reação que ele poderia ter. José era uma criança, mas até onde poderia ir a paciência de um homem como Nikolas.

Ele se levantou com a cara fechada, e seu tamanho perto do pequeno era de dar medo em qualquer um. Segurei o ar, esperando a reação que viria. José apenas ria, sem entender o nível da encrenca em que parecia ter se metido.

Mas me surpreendendo completamente, Nikolas abriu um sorriso antes de sair correndo atrás do menino, que com suas pernas gordinhas não conseguia ser mais rápido que o homem. Assim que o alcançou, Nikolas o pegou no colo, jogando-o novamente para o alto, fazendo com que o menino gargalhasse. Um sorriso surgiu no meu rosto ao ver a cena. Rapidamente Nikolas colocou Zé no chão, pegou a mangueira de sua mão e lhe deu um banho dos pés a cabeça, enquanto o menino corria e pulava.

Andréia que estava no meio deles começou a andar apressada para sair de perto e não ser molhada. Quando me dei conta, estávamos todos rindo da situação.

Nikolas era como uma caixinha de surpresa para mim. Eu não saberia o que esperar em cada reação ou palavra dele. Mas felizmente ele vinha me surpreendendo muito positivamente.

Flávia ficou ao meu lado, enquanto observávamos os dois brincarem. Nikolas já estava com a camisa toda molhada. Era uma social, branca, e aquilo fazia todo o seu peitoral ficar à mostra. Ele era muito mais musculoso do que minha imaginação havia criado. A camisa estava toda colada ao seu corpo, evidenciando cada curva e tanquinho da barriga.

Respirei fundo observando-o antes de soltar a pergunta que estava entalada na minha garganta.

— Nikolas se dá tão bem com Zé... Vocês não... — Eu estava envergonhada de fazer aquela pergunta. Não queria que Flávia pensasse que eu estava questionando a vida dela, ou que poderia ter algum interesse sobre o assunto. Era mais a questão de curiosidade mesmo. — Você e o Nikolas não têm nada?

Ela olhou para mim, com um semblante de surpresa no rosto.

— Eu e o Niko? — Fiz que sim com a cabeça. — Não. Não mesmo — ela deu ênfase na negação. — Ele é como um irmão para mim. A gente jamais daria certo como casal.

— É que vocês se dão tão bem, e ele adora o Zé...

— Nikolas é muito fechado. E se mantendo isolado, é mais complicado ainda para ele. Quando surgir uma mulher certa, ele vai perceber.

Olhei para Nikolas novamente, e ele parecia nem notar que eu o observava. Tanto que automaticamente ele puxou a camisa, passando-a pela cabeça e ficando com o peito nu.

Ele pegou Zé e pulou na piscina, emergindo logo em seguida, segurando a criança nos braços.

Eu fiquei ali, apenas os observando e notando como Nikolas parecia cada dia mais bonito.

A Herdeira e a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora