Capítulo 26

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Helen

Passar a noite e o dia inteiro com Nikolas era restaurador.

Eu havia dormido com ele, na verdade, quase não havíamos dormido, já que passamos a noite quase inteira acordados, fazendo amor durante horas a fio. E no outro dia aproveitei que já estava lá para trabalharmos nos últimos detalhes da inauguração do seu perfume. Haveria uma festa de lançamento na Itália.

Já estava escurecendo quando saí de sua casa, e mais ainda quando cheguei ao portão da minha.

Assim que estacionei, peguei o celular e vi uma mensagem de Flávia avisando que havia saído para tomar um sorvete com José que logo retornaria. Assim eu poderia tomar um banho tranqüila e esquentar a janta para mim antes que eles retornassem.

E essa era minha intenção quando desci do carro, mas antes de atravessar o portão, fui interrompida por um par de mãos que me seguraram e puxaram novamente de encontro ao carro que estava próximo.

Antes mesmo de distinguir quem era, meu coração anunciava o problema que eu estava enfrentando.

Everton me imprensou contra o carro e seu corpo, colocando-se muito próximo ao meu rosto.

— Boa noite sua vagabunda, como passou a noite na cama daquele nojento?

Eu podia sentir o bafo de álcool no meu nariz. Mas havia algo mais. Não era apenas a bebida.

Minha voz ficou presa na minha garganta, impedindo-me de falar qualquer coisa naquele momento. O fato de seu corpo estar colado ao meu, também não ajudava muito.

— Hoje você não vai ter a putinha da sua amiga para te ajudar, não é? Eu vi quando ela saiu com o pirralho, filho dela.

Ver a forma como ele falava de Flávia e José, que além de tudo era seu filho, me deixava enojada. Ainda mais.

Mas me mantive quieta, eu estava assustada demais naquele momento para confrontá-lo.

— Vamos lá. Fala para mim o que você gosta, que eu posso ser melhor que aquela Fera para quem você estava dando.

Ele fungava, como se estivesse me cheirando, ou algo assim. Cada vez que se aproximava mais do meu rosto, o medo aumentava no meu corpo.

— O que você quer, Everton? — Tentei deixar a voz firme, para não demonstrar-lhe o meu medo.

— Quero você. Se o filho da puta do Nikolas pode te ter, eu também tenho esse direito. Sou muito melhor do que ele.

A forma como ele falava de mim, como se eu fosse um objeto no qual ele precisava colocar as mãos era agonizante. Mas esse não era o meu maior problema naquele momento.

Everton tinha uma competitividade com Nikolas que apenas ele via. E não aceitava ser derrotado. Eu poderia me aproveitar disso, mas era arriscado.

Meu coração estava acelerado no peito, e eu estava com medo de fazer movimentos muito bruscos e acabar assustando Everton, deixando-o ainda mais irado do que parecia.

Novamente ele se aproximou do meu pescoço e colocou o nariz ali, cheirando-me. Eu estava com nojo, mas ao mesmo tempo encurralada e com medo.

— Você não é melhor do que o Nikolas — ousei falar, olhando-o por baixo dos olhos, tentando manter minha cabeça o máximo afastada que eu podia dele. E a minha fala teve efeito, já que Everton ergueu a cabeça imediatamente e franziu o cenho.

— Como você ousa dizer isso? Não existe ninguém melhor que eu. Eu sou o maioral. Perfeito em todos os sentidos.

Novamente ele se afastou um pouco mais de mim e isso foi o que eu precisava para criar um pouco mais de coragem e tentar me colocar altiva perante ele.

Arrumei minha postura, ainda encostada no carro.

— Nikolas é sim, mil vezes melhor do que qualquer pessoa nessa cidade. Eu não quero nada com você, entenda. Eu tenho nojo de você. — Dei ênfase à palavra.

Everton pareceu se assustar um pouco quando ergui minha voz para ele, afastando-se um passo, o que me deixou um pouco mais livre e mais a vontade para começar a gritar com ele.

— Eu nunca iria querer nada com você. E se tentar alguma coisa, vou te denunciar.

— Você já deve saber que as coisas não funcionam assim para mim. — Ele elevou o rosto, colocando uma postura mais poderosa, achando que poderia me impressionar.

— Eu sei que você não vale nada. E ainda se acha melhor do que Nikolas. Você sim, deveria ser considerado uma aberração, uma fera, por essa cidade.

Eu não esperava pelo que aconteceu em seguida. Apenas senti o ardor em um dos lados do meu rosto quando um tapa estralou e minha cabeça tombou de lado.

— Como você ousar dizer isso?

Desta vez ele estava gritando, irado. Completamente descontrolado, ele começou a andar de um lado ao outro na minha frente. Era impressionante como nesses momentos, nenhum curioso arriscava se intrometer em uma discussão, julgando ser uma briga de casal, onde ninguém poderia enfiar a "colher".

— É apenas a verdade. Você é um monstro, e projetou isso em Nikolas. Mas você quem deveria ter essa fama. — Ainda estava com a mão no rosto, sentindo-a queimar.

Tentei dar um passo atrás quando Everton se aproximou, mas eu já estava colada ao carro atrás de mim.

— Você vai se arrepender do que está falando.

Ele levou uma mão para trás, e sacou uma arma. No instante que vi o objeto em suas mãos, apontada para cima, minha boca se abriu em uma exclamação silenciosa. O medo já fazia parte do meu corpo, deixando-o paralisado.

— O que você vai fazer com isso, Everton? — o medo também estava na minha voz.

— Eu poderia te matar, aqui e agora. Não tem ninguém nessa rua. E ninguém me acusaria. — Ele apontou a arma na minha direção, deixando-me encarar o fundo escuro do cano. — Poderia estourar seus miolos só por dizer que aquele filho da puta é melhor do que eu. Mas não vou fazer isso. Talvez eu consiga acabar com ele e ainda ter você para mim.

Ele tinha os olhos vidrados em mim, as pupilas dilatadas, como se tivesse sob efeito de entorpecentes, o que eu não duvidava em nada.

— O que você vai fazer, Everton?

Ele tinha uma arma apontada para mim, estava descontrolado. Eu não tinha ideia do que aquele homem poderia ser capaz de fazer.

— CALA A BOCA. — Ele gritou, fazendo com que o cano da arma na minha frente tremesse e esticou uma das mãos na minha direção. — Me passa a chave do carro.

— O quê? — Eu tinha ouvido o que ele havia pedido, mas não compreendido. Ele iria usar o meu carro?

— As chaves. Logo, porra.

Ainda tremendo e assustada, enfiei a mão no bolso e entreguei a chave para ele que começou a se afastar lentamente de costas, ainda com a arma apontada para mim.

Everton entrou no carro e saiu cantando pneu pela estrada.

Eu ainda estava paralisada no mesmo lugar, mas sabia que tinha que agir e muito rápido. Ele provavelmente iria confrontar Nikolas.

Eu não poderia deixar que ele chegasse lá, mas ao mesmo tempo estava a pé, impotente e sem reação.

Lágrimas começaram a escorrer finalmente dos meus olhos, quando tive a noção do que estava se desenrolando à minha frente.

A Herdeira e a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora