Capítulo 27

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Nikolas

Eu estava radiante naquela noite. A magia de passar um dia inteiro com Helena por perto, era incrível.

Estava na biblioteca. Havia arrastado a cadeira para mais perto da janela, onde podia ver as estrelas no céu escuro. A noite estava linda.

O livro repousava no meu colo enquanto eu apreciava a vista e não reparei quando a porta se abriu e alguém adentrou o lugar.

— É tão bom te ver com um sorriso no rosto — a voz de Andréia preencheu meus ouvidos e desviei os olhos para ela.

A governanta estava parada diante da porta com uma bandeja nas mãos, enquanto também tinha um sorriso no rosto me encarando.

Eu nem mesmo havia notado que sorria até ela me falar. Mas mantive meus lábios esticados. Eu estava feliz e queria que todos soubessem disso. Ou ao menos Andréia.

— É muito bom me sentir assim também.

Ela se aproximou colocando a bandeja sobre a mesa e me entregou uma xícara com chá, pegou outra para si e sentou perto de mim.

— Eu rezava todos os dias para aparecer alguém bacana para você.

Assoprei o chá que estava fumegante e bebi um gole antes de responder-lhe.

— Eu agradeço pelas orações que a trouxeram.

Eu estava parecendo um bobo. Um romântico apaixonado. Mas o que eu poderia fazer se me sentia assim?

— Sabe que até essa casa está mais alegre depois que vocês se acertaram? Parece que os móveis sentem a felicidade aqui dentro.

— Aí eu já acho que você está exagerando, D. Andréia.

— Não estou. Até as flores da estufa estão mais cheirosas.

Levantei e fui até ela, que estava sentada um pouco afastada de mim. Quando me aproximei, abaixei e depositei um beijo no alto de sua cabeça.

— Você é responsável por minha felicidade também.

Eu devia muito àquela mulher. Ela era como uma mãe para mim, e sempre estava ao meu lado.

— Ah, isso eu sei. Mas não tanto quanto Helena. Se pelo menos eu tivesse a beleza que aquela mulher tem.

A risada foi impossível de ficar presa na garganta, e o barulho que saiu de nós dois ecoou pelo cômodo, comprovando o que ela havia dito. A felicidade estava nos rondando.

E eu continuaria pensando isso, se não fosse o barulho de metais se contorcendo e algo quebrando.

Andréia pulou na cadeira, e eu corri para a janela, conferindo o que havia acontecido.

A propriedade ficava em um lugar mais afastado e era dificil, ou melhor, improvável, recebermos visitas sem avisar, principalmente tarde da noite.

Mas o que eu vi lá embaixo, já denunciava que a visita não seria nada bem-vinda.

Um carro havia passado direto pelo portão de ferro da entrada e seguia por dentro do gramado, passando por cima de alguns arbustos floridos.

Fiquei em choque, paralisado por alguns segundos, tentando entender o que estava acontecendo. Era o carro de Helena fazendo todo aquele estrago?

Mas tudo fez sentido quando vi Everton saltar do carro portando uma arma e parar na porta da casa socando-a.

Eu tinha que descobrir se Helena estava bem, mas antes precisava lidar com aquele louco que começava a gritar lá embaixo.

— O que foi isso, menino? O que está acontecendo?

Andréia tentava espiar pela janela ao meu lado, mas meu tamanho dificultava um pouco seu trabalho.

Virei-me para ela, segurando em seus dois braços e fazendo-a olhar fixamente para mim.

— Escuta com atenção, Andréia. Everton está lá embaixo, e parece que veio armado, quero que fique aqui em cima. Tente ligar para Helena e ver se ela está bem. Parece ser o carro dela.

Minha cabeça estava fritando de nervosismo e preocupação.

Eu tinha que conseguir pelo menos proteger as minhas mulheres.

— Mas, menino, se ele está armado você não vai descer.

Desta vez foi ela quem segurou meu braço, tentando me impedir de sair da biblioteca.

— Eu preciso parar aquele louco, antes que algo pior aconteça.

Os olhos de Andréia brilhavam de medo e preocupação. E era justamente aquilo que eu não queria.

Antes que eu pudesse responder qualquer coisa, meu celular tocou no bolso da calça que usava. Apressado peguei-o e olhei o visor, respirando um pouco mais aliviado quando vi o nome de Helena piscar na tela.

— Você está bem? — foi assim que a saudei quando atendi.

— Meu Deus, Nikolas. Eu estou. Que bom que consegui falar com você. Everton me abordou em frente de casa. Ele estava alucinado. Me agrediu, depois pegou uma arma e pediu meu carro. Eu acredito que ele esteja indo ai. — Era perceptível o medo e ansiedade na voz de Helena. Ainda mais quando ela falava sem pausa para respirar.

— Calma, respira. Ele já chegou aqui. Você está bem?

Era apenas isso que eu precisava saber para continuar a agir.

— Eu estou. Encontrei Julia e o marido perto de casa e eles me ajudaram.

— Perfeito. Se cuida, meu amor.

Quando estava prestes a desligar, Helena me chamou novamente.

— O que você vai fazer?

— Vou dar uma lição naquele filho da puta — as palavras saíram entre dentes, com uma rouquidão que eu não planejei.

— Pelo amor de Deus, não faça nada imprudente. Eu vou ligar para a polícia.

— Isso, por favor.

Sem dizer ou deixar que Helena falasse, desliguei o telefone e entreguei nas mãos de Andréia.

— O que você está planejando fazer?

Encarei a mulher. Eu estava com medo, minha respiração acelerada, mas eu tinha que agir de alguma forma.

— Eu não sei ainda. Mas fique aqui dentro e tranque a porta quando eu sair. Abra apenas para mim, ou a polícia.

— Se cuida, Nikolas.

Andréia já tinha os olhos cheios de lágrimas. Puxei-a para mim, dando um abraço apertado e um beijo no alto de sua cabeça.

— Pode deixar que eu farei isso.

Desci as escadas enquanto escutava Everton gritando do primeiro andar. Provavelmente ele havia conseguido arrombar a porta de entrada.

— Apareça ,seu covarde. Venha lutar como homem.

Assim que ele me viu no alto das escadas, apontou a arma na minha direção.

— Isso que é lutar como homem para você? Não se garante no braço a braço?

Enquanto descia, comecei a dobrar as mangas da blusa que vestia, deixando metade do meu braço à mostra.

— Eu nunca disse que seria uma briga justa.

A Herdeira e a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora