Nascemos doentes, eles disseram

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título em referência a música Take Me To Church, do Hozier.

essa fanfic tem menções de homofobia(internalizada e não)e trauma religioso. tenham em vista que em momento algum quero ofender a religião de ninguém, estou apenas trazendo à luz um tipo de situação que infelizmente é comum dentre a comunidade lgbtqia+, mas também, quero mostrar o fanatismo cristão que leva a atos de ódio. esse capítulo vai ter todas essas coisas, palavrões e menções de atos sexuais.

como diria um sábio amigo meu; "sem hate pra deus só acho o fandom dele meio chatinho"

gostaria de falar tbm q essa fanfic é estritamente ficcional, assim como o jeito que eu mostro os personagens. é a minha visão sobre tudo. tudo aqui é headcanon, galera.

to avisando q nos próximos dias eu vou estar viajando, então talvez as atualizações atrasem um pouco!

sem mais delongas, boa leitura!

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Dante encontra um dilema entre as linhas de seu passado e presente. Arthur ouve os áudios.

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     Ao chegar em casa, abrir a janela de seu quarto e se jogar na cama, sem antes substituir sua calça desconfortável e seus tênis apertados por uma bermuda e seus chinelos, Dante mirou seu rosto para o teto, suspirando e tentando fazer seu corpo relaxar. Infelizmente, sua mente tinha outros planos.

     Não parecia certo a maneira que seu interior ficava quente na mínima proximidade do Guitarrista. Aquilo não fazia sentido. Dante ia ter um filho, ele ia viver e amar uma vida tradicional-e meio estranha, considerando o paranormal que rodeava a vida dele e de Jasmin.

     Ele não sabia que Arthur era atraído por todo o tipo de gente, e também não queria se importar, mas ele beijava aquele homem de forma tão íntima que parecia ser da sua conta.

     Quando Arthur disse que havia beijado várias pessoas naquela noite amena, Dante não se importou. Nem um pouco. Não era de sua conta quem o Cervero gostava de fuder. Não o incomodou que ele saia beijando homens e se entregando para desconhecidos. Novamente tentava se convencer.

     A verdade é que Dante não sabia se aquilo era certo ou não. Crescera com uma ideia distorcida de vida e família feliz, frustrado por nunca conseguir viver um exemplo de família quando menor, e tinha inveja de Beatrice por ter uma mãe disposta a fazer qualquer coisa por sua filha. Enquanto Arnaldo Fritz tentava ajudar as crianças do orfanato a viver em um ambiente saudável, ficava difícil quando tudo era tão idealizado pelos adultos perto deles. Aprendeu muito novo o que era céu, e talvez tenha gostado tanto do livro poético de Dante Alighieri, porque o dava um senso de salvação e redenção tão satisfatório.

     Ouvira que quando um homem amava outro homem, ia para o inferno, e desde então, privou seus olhares para as meninas bonitas do orfanato, em especial, Jasmin Cristal. Cresceram juntos, e por mais que também tenha sido assim com Beatrice Portinari e Leonardo Gomes, era diferente. Dante gostava muito de Jasmin, e não acreditava que conseguiria amar alguém daquela maneira novamente.

     E mesmo que amasse, repudiava o pensamento desse alguém ser um homem. Aquilo simplesmente não parecia uma opção inteligente a seguir. Dante nunca foi homofóbico, mas também, nunca havia pensado que ele podia ser atraído por homens. Homens como Arthur, batalhadores e que iluminam tudo perto de si, como uma estrela.

     Ele gostava de mulheres. E apenas mulheres. Mulheres como Jasmin, que trazia cores para sua vida apesar de todas as dificuldades que passara.


     Os olhos de Dante começaram a lacrimejar com a percepção de que aquele mesmo sentimento quente em seu interior que sentia quando estava com Arthur, compartilhava com a companhia de Jasmin, quando ainda era viva. Eles tinham muita coisa em comum. E em outra cama, outro par de olhos lacrimejava com culpa. Assim que terminou de ouvir os áudios, depois de tomar os remédios, se afogava em alguns pensamentos negativos.


     Não era certo como Arthur ansiava pelo toque e pelo carinho. Talvez fosse ingênuo de sua parte tratar o luto com a adrenalina de sentir seus problemas indo embora, seja bebendo até esquecer, ou em um orgasmo. Era autodestrutivo, e não tinha maneira alguma de se policiar e de parar. Perdeu sua segunda família(ou talvez terceira? parou de contar quando Joui se foi nas sombras), e agora estava tentando perder completamente sua cabeça. Seus olhos só tinham o brilho das recorrentes lágrimas, vezes quando regava a violeta que comprara para deixar no quarto de Kaiser, vezes quando deixava as lembranças lhe abraçar, mas também, às vezes quando fodia com completos estranhos e a êxtase tomava conta de seu corpo. Era viciante e destrutivo como os cigarros que sempre fumava.

     Arthur sabia que Dante amava uma mulher. Sabia que essa mulher ia dar a luz para uma criança, e se sentia mais culpado sabendo disso. Dante não iria conseguir superar Jasmin tão facilmente.

     Quando soube dessa mulher, Arthur se sentiu estranho, e por mais que sentisse remorso, sentia raiva. Dante não merecia sofrer assim. Ele tinha seus problemas, mas sempre os contornava de forma tão inteligente.

     A maneira que ele sempre mantinha calma e era educado contrastava tanto com ele em combate, forte e cheio de paixão. Com sua pele pálida cheia de tatuagens. Seus olhos completamente pretos. Mãos rápidas prontas para avançar em qualquer criatura e ocultista maléfico. Eram essas coisas que chamavam atenção de Arthur naquele homem.

     A verdade é que Arthur nunca teve certeza de nada, talvez tivesse um pouco mais de certeza do que Dante, e talvez isso já fosse o suficiente. Mas convenhamos que ele merecia muito mais.

     Ouvira uma vez que se um homem beijasse outro ia para o inferno. Era menino, e recebeu uma boa educação em casa. Mesmo sendo do interior do sul, tinha pais de esquerda, que apoiavam causas sociais acima de tudo, conclusão: deu um soco na boca do menino que falara aquilo. Quando Brúlio foi buscar na escolinha, mais cedo, por receber uma suspensão, ficou em silêncio até saírem do estabelecimento. O pequeno Arthur estava com medo, e então, quando viu seu pai sorrindo para ele e levantando sua mão para um high five, sorriu, contente. "Isso é ser um Gaudério, Arthur! Você 'tava' certo!" Ele dizia. "Mas talvez, da próxima vez não bata no menino, só explique pra ele o que é certo, com calma..." Ele explicava e o pequeno Cervero assentia, sorrindo.

     Arthur já teve outras paixões como aquela. No final do ensino fundamental, gostava de uma menina chamada Carol, e foi com ela que teve seu primeiro beijo, antes disso, ele era caidinho por outro menino da sala, seu nome era Joaquim, e era muito estudioso, um grande contraste com o filho de líder de gangue. Talvez não categorizasse esses casos como uma paixão, mas já namorou uma vez ou outra, e se sentiu feliz com aquele tipo de amor, acolhedor. Também não podia mentir, Liz era muito bonita quando nova, e se sentia feliz quando perto dela, mas algo menos intenso do que o que sentia naquele momento. Ele gostava bastante de Dante, e talvez como nunca gostou.

     Arthur gostava de todo tipo de gente, e tinha orgulho disso.


     Com pouco tempo de diferença, Arthur e Dante se olharam no espelho, tentando se tranquilizar. Apesar de tudo, ainda eram si mesmos.

Vício da Luxúria (Danthur)Onde histórias criam vida. Descubra agora