"Capítulo VI" - Ambição

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O indivíduo ambicioso consegue satisfazer-se com aquilo que já conseguiu conquistar? Segundo o que se encontra registrado nos evangelhos, Jesus condenou a ambição? O desapego do consumismo e do materialismo pode mostrar-se saudável à nossa saúde íntima? Se direcionássemos com maior equilíbrio nossos impulsos ambiciosos, poderiam eles ser-nos bastante úteis?

Devendo o homem progredir, os males, aos quais está exposto, são um estimulante para o exercício da sua inteligência, de todas as suas faculdades, físicas e morais, iniciando-o na pesquisa dos meios para deles subtrair-se. Se ele nada houvesse de temer, nenhuma necessidade o levaria à procura dos meios, seu espírito se entorpeceria na inatividade; não inventaria nada e não descobriria nada.

Mas os mais numerosos males são aqueles que o homem cria para si mesmo, pelos seus próprios vícios, aqueles que provêm de seu orgulho, de seu egoísmo, de sua ambição, de sua cupidez, de seus excessos em todas as coisa; aí está a causa das guerras e das calamidades que elas arrastam, dissenções, injustiças, opressão do fraco pelo forte, enfim, a maioria das doenças. [1]

Como qualquer outro animal, o ser humano luta, com todas as suas forças e possibilidades, pela garantia e manutenção de sua vida. Os inúmeros desafios que necessita enfrentar e superar são, dessa forma, os grandes impulsionadores de suas aptidões e potencialidades. E, à medida que as suas melhores aspirações encontram a devida realização, mais concreta se torna a sua evolução.

No entanto, em alguns indivíduos, em virtude de a vida financeira representar o grande propósito de sua existência, seu anseio de crescimento é voltado, quase que exclusivamente, para a conquista de recursos materiais, de poder e de prestígio social. Dessa forma, na ânsia de tudo possuir e impulsionados pelo lema "custe o que custar", deixam de perceber as injustiças que praticam e as inimizades que angariam.

Muito embora seja de capital importância que se busque a estabilidade financeira e o conforto material, e que se aprenda a usar positivamente o dinheiro, ser bem sucedido e feliz nem sempre depende do fato de se conseguir coisas, mas, quantas vezes, em saber desapegar-se delas!

Destacando a problemática da ambição, Allan Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo, anota:

As vicissitudes da vida são de duas espécies, ou, se assim se quer, têm fontes bem diferentes que importa distinguir: umas têm sua causa na vida presente, outras, fora dela.

Remontando-se à fonte dos males terrestres, se reconhecerá que muitos são a consequência natural do caráter e da conduta daqueles que o suportam.

Quantos homens caem por suas próprias faltas! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição! [2]

No tocante à ambição, uma realidade necessita ser destacada: o ambicioso raramente se satisfaz com aquilo que já conquistou. Ao contrário, está sempre em busca do que ainda lhe falta, porque o muito tende a tornar-se pouco quando não existem limites para o querer e para o desejar. Entre aqueles que conseguiram riquezas, por exemplo, não lhes bastam os bens acumulados, mas, por pura vaidade, necessitam tornar-se a pessoa mais rica e influente de seu ambiente social.

O Espírito Hammed, enfatizando que, nas ambições sem limites, toda frustração decorrente do querer e não poder realizar, inevitavelmente gera conflito íntimo, alerta:

Abrir a alma à ambição é fechá-la à serenidade, porquanto a ambição que se alimenta é presa inútil ao coração. Cultivá-la é o mesmo que guardar espinhos na própria intimidade. Diz o ditado popular: "Tudo falta a quem tudo quer". Em razão disso, o ganancioso não possui bens, mas é dominado por eles. A ambição produz mais insatisfeitos por não conquistarem as coisas, do que saciados com o que possuem. A cobiça não ouve a razão nem o bom senso; nela, o desejo ardente sempre reaparece quando já deveria ter acabado. [3]

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