"Capítulo XXIII " - Dor

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O que é a dor? Existem somente a dor física? Por que não incluímos a dor em nosso repertório de possibilidades? Quem a cria, Deus ou o próprio homem? Carrega ela, em si, alguma função positiva?

O que é a dor? Quando relacionada ao corpo, é um sofrimento físico desagradável ou penoso, causado por alguma disfunção orgânica. Mas existe também a dor moral, cuja sensação, igualmente desagradável ou penosa de padecimento e mágoa, de pesar e amargura, ocorre no íntimo do indivíduo.

Há que se considerar que a grande maioria das pessoas ainda não se conscientizou do sentido metafísico da vida no planeta Terra, porque muitas sequer compreendem, com a devida profundidade e extensão, os múltiplos aspectos e ocorrências que dizem respeito à própria realidade. Buscam, assim, com sofreguidão, as alegrias, o prazer físico e material, bem como a satisfação imediata de seus anseios. Obviamente que consideram uma benção a ausência de problemas, pois, enquanto tudo transcorrer da maneira como desejam, por que se preocuparem com assuntos que fogem ao seu entendimento ou se comprometerem com o amadurecimento pessoal? Devido ao fato de a dor não fazer parte do seu repertório de possibilidades, e porque também não estão predispostas a reflexões um tanto mais sérias e profundas quanto à sua natureza transcendental, quando se deparam com aflições mais intensas e sofrimentos mais pungentes, podem se desesperar e desanimar, ou se revoltar ou, ainda, sofrer de depressão crônica.

A dor, física ou moral, pode possuir em si alguma função positiva? Não nos seria mais conveniente a sua inexistência? Quem a cria, Deus ou o próprio homem?

Comecemos pelas considerações de Allan Kardec:

Devendo o homem progredir, os males, aos quais está exposto, são um estimulante para o exercício da sua inteligência, de todas as suas faculdades, físicas e morais, iniciando-o na pesquisa dos meios para deles subtrair-se. Se não tivesse nada a temer, nenhuma necessidade o levaria à procura dos meios, seu espírito se entorpeceria na inatividade; não inventaria nada e não descobriria nada. A dor é o aguilhão que impele o homem para a frente, no caminho do progresso. [1]

Dessas palavras, podemos afirmar que aquilo que mais incomoda uma pessoa é o que pode lhe prestar maiores benefícios, porque a impele a outras descobertas e às mudanças. E bem sabemos que, se não formos incomodados, a tendência é nos acomodarmos. Por isso que a dor, em suas diversas fases, num primeiro momento nos faz voltar para dentro de nós mesmos, para, somente depois, nos predispor à superação do desconforto. Assim, uma das funções da inteligência é se ocupar daquilo que não está indo bem em nossa vida e encontrar alguma alternativa ou solução para a dor que daí decorre. Quando estamos, por exemplo, com um problema mais contundente, não é ele que monopoliza nossos pensamentos e sentimentos? Daí as palavras do espírito André Luiz: "Dor, para nós, significa possibilidade de enriquecer a alma". [2]

Continuando com seu raciocínio, Kardec pondera sobre outro aspecto funcional da dor:

Mas, os mais numerosos males são aqueles que o homem cria para si mesmo, pelos seus próprios vícios, aqueles que provêm de seu orgulho, de seu egoísmo, de sua ambição, de sua cupidez, de seus excessos em todas as coisas.

(...) Deus estabeleceu leis, plenas de sabedoria, que não têm por objetivo senão o bem; o homem encontra em si mesmo, tudo o que é necessário para segui-las; sua rota está traçada pela sua consciência; a lei divina está gravada no seu coração. (...) Se o homem se conformasse, rigorosamente, com as leis divinas, não há dúvida de que evitaria os mais pungentes males, e que viveria feliz sobre a Terra. Se não o faz, é em virtude do seu livre-arbítrio, e, disso sofre as consequências." [1]

Viver com prazer é o desejo de todos. É óbvio que ninguém, em sã consciência, quer a dor para si e para seus amados, mas buscar a felicidade de maneira equivocada pode provocá-la! É considerável o número de pessoas que criam para si complicados e pesados compromissos, justamente por não considerarem que o aparente prazer de hoje pode se transformar, posteriormente, numa dor bastante extensa e prolongada.

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