30 de Outubro de 2652, Torre de Vigia
Responsável: Sargento Blake Undine
Situação: Aguardando Ordens
Último chamado: ———-O sargento já não aguentava mais aquele dia entediante.
Já tinha batido em todos os amigos no jogo de corrida on-line e perdeu completamente a graça depois da vigésima vitória. Pouco se importava se a major iria chamá-lo de criança novamente. Blá blá blá. A Torre de Vigia não era acionada há anos, porque não simplesmente desativavam aquela merda?
Levantou-se e foi dar uma caminhada.
O local era de aço puro, mais rústico se comparado ao restante das construções. A Torre de Vigia foi o primeiro local a ser construído quando os primeiros alphas chegaram ao planeta Narcissus.
Não fazia ideia de como era a tal Terra que tanto faziam questão de guardar nos arquivos como "Extremamente Importante" se já havia mais de 500 anos que ninguém sabia mais o que era aquilo! Encostou-se ao vidro de uma grande janela de vidro lacrado e sorriu para sua cidade: Eleonória, a capital de Narcissus.
Milhares de casas de puro aço e levitadores brilhando. As pessoas tranquilas em suas casas, sem guerras, sem religiões, sem barreiras entre países, sem cultura diferenciada como a velharia chamada Terra. Blake jamais entenderia aquelas pessoas que queriam manter esse desastre nos registros. Depois de tudo que leu sobre a Terra era surreal ouvir alguém dizer "Temos que estudar e relembrar o passado!". Ha ha ha! Que grande piada!
Todas as estruturas simetricamente alinhadas, sem defeitos como infiltrações ou fiação em locais incorretos, sem diferença de classe social, sem favelas e... desenhadas de forma harmoniosa para combinar com a estrutura azulada do planeta, criadas a partir de um programa perfeito chamado OMNI, mas carinhosamente chamado de Deux Om.
Pegou o portátil do bolso da calça, que não parava de vibrar e leu as mensagens.
"E aí babaca? Você ganhou da galera, mas não ganhou de mim! Vem pra pista se é homem!"
Era o Tenente Eric González. Um fanfarrão.
"Ah, seu merdinha, acha que pode ganhar de mim? haha!", respondeu de volta no tecladinho touch screen.
Entrou na partida e ria a cada volta que dava no simulador perfeito da vida real, com carros movidos a combustível jurássico, da época da Terra. Não sabia se era verídico, mas parecia bem legal dirigir aquelas máquinas estranhas. Seu carro preferido era o Mustang SVT Cobra '93. Será que aquele carro existiu? Será que algum dia alguém o manobrou como fazia em seu vídeo game portátil? Não conseguia imaginar como era essa época tão distante, mas certamente era fácil divertir-se com a ideia.
O dia passou como sempre: tranquilo, sem alertas, sem visita, um saco.
Em Narcissus há um satélite natural que mantiveram o nome de Lua, assim como mantivera o nome Sol para a grande estrela brilhante que lhes proporcionava calor.
Toda a superfície rochosa e os rios de Narcissus era gelado o tempo inteiro, o que obrigou seus habitantes a criarem uma gigantesca estufa para criarem sua cidade. Do lado de fora estavam as montanhas que abrigavam cavernas ainda inexploradas e poucas árvores. Vegetação era rara, e era motivo de adoração. O povo de Narcissus alimentava-se de uma pasta multicolorida e uma massa amarela criada pela fábrica Blu Italia, nome herdado em homenagem ao fundador e a cor do planeta. Mesmo após tantos anos vivendo ali, não queriam expandir a população ainda, pois não havia espaço e as construções não podiam ir mais rápido, senão poderiam mexer no ritmo e acabar com o plano que fora rigidamente traçado por OMNI.
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Narcissus Alpha
Science Fiction"– Por… avor… Nã… Po…a…vor…Onde?… Nã.. Deslig… Terra… Ter… Esper… Por… vor! Blake ficou mudo por alguns segundos. Podia jurar que ouviu a palavra “Terra”! Será possível que havia alguém por lá? Segundo os cientistas, não havia nada além de lixo e de...