Narcissus Alpha

Dia #4 - Razão e Emoção

Apesar do sono brutal, deixaram o local. A escuridão não colaborava, mesmo com lanternas, caminhavam pesados.

Precisavam fazer o maior silêncio possível, e prestar muita atenção ao redor, uma vez que seus detectores não conseguiram detectar a presença do tigre . Ed tentou novas configurações, mas não tinha certeza se funcionaria.

Após uma hora de caminhada, com velocidade reduzida pelo terreno desnivelado e tanta mata, encontraram a tal Estrada Abacaxi. Era literalmente uma estrada abandonada de asfalto ao lado de uma linda plantação de abacaxi. Quem cuidava? Um povo que morava a algumas horas dali, suficiente para ficar longe do tigres – que sequer tocavam os abacaxis.

Estavam novamente buscando um meio de dormirem. O cansaço era absurdo, não tinham qualquer resistência. Maldito comportamento ditado de Narcissus...

– Aqui tem um canto, bem no meio dos abacaxis, dá para disfarçar a nossa presença! – sussurrou Oxum animada.

Bóris já ia começar a tirar as pedras no local para deitarem, quando um par de olhos amarelos surgiu entre a plantação. Ele imediatamente ajeitou sua arma, alertando os outros da presença da criatura.

Lucca ia se virar para pegar a arma e mirar, quando percebeu também outros pares de olhos amarelos brilhantes.

Estavam cercados!

Bóris atirou sem pensar, e logo vieram os tigres, avançando instintivamente!

Os outros da equipe o imitaram, mas seu treinamento era limitado, exceto a major e o sargento, mas ainda assim, mesmo sabendo como usar armas da forma mais eficiente, eles não tinham a agilidade da prática.

Um dos inimigos avançou com tanta ferocidade que Oxum caiu sobre Ed, derrubando-o em meio aos abacaxis. Por sorte, Ed foi rápido o suficiente para puxá-la para debaixo de si e voltar a atirar. Conseguiu a tempo acertar uma parte vital dos mecanismos da criatura.

Lucca e Brandon não tiveram a mesma sorte. Dois tigres avançaram furiosamente, mordendo o braço de Brandon e desequilibrando Lucca.  Blake atirou em um tigre mais próximo e correu para ajudá-los. Brandon gritava desesperado. Ajudou primeiro Lucca, que estava numa situação menos complicada e juntos puderam puxar o outro tigre e atirar nos mecanismos, desativando-o.

Brandon atacara o tigre para se defender, quebrando assim seu capacete que nunca tirava. Estava machucado. Não havia tempo para perguntas, mais tigres avançavam. Louis tentava largar a arma e ver se havia ferimentos graves, mas o ritmo o impedia. Mal podia piscar, as criaturas escondiam-se muito bem no escuro!

Michelle puxou Obá para trás de si e ficou ombro a ombro com Bóris. Ela atirava muito bem também.

– Fiquem próximos, ombro a ombro, e vamos ficar bem! – gritou.

Ela não tinha certeza do que dizia, mas precisava anima-los. Podia ver tigres e mais tigres avançando, calados, rastejando!

Os tiros de laser eram o que mais iluminava o ambiente. Algumas vezes era necessário atirar no vazio apenas para se ter noção do que havia mais adiante. Não era possível fazer as contas de quantos apareciam, mas devia ter pelo menos uns  caídos.

Louis pediu ajuda. Foi coberto pelos amigos e correu para socorrer Brandon, que mantinha-se deitado. O braço esquerdo ensanguentado.

– Vamos precisar tirar esse capacete, Brandon. Quebrado assim pode acabar causando ferimentos.

O piloto apenas assentiu.

O médico abriu seu compartimento de ferramentas médicas no peito do traje especial e tirou de lá um pequeno dispositivo de holograma-físico. Colocado no chão, o aparelho reproduziu uma pequena serra em plano virtual, tornando-se física em alguns segundos. Louis poderia usá-la por  minutos, e então evaporaria. O dispositivo precisava de  minutos de recarga a cada uso, por isso toda paciência e calma era exigida do médico. E assim ele o fez. Arrancou o capacete deformado e olhou para o rosto do amigo. Ele estava desesperado. Odiava ser visto.