Alexa
"Bom dia..." Entrei, calmamente, na pequena pastelaria.
"Bom dia." Os meus olhos cruzaram com o rapaz por detrás do balcão, o Ashton, e um tímido sorriso apareceu no meu rosto, com uma pequena dor no coração.
Mudei-me para Seattle há uns meses, pouco antes de fazer dezassete anos. Ainda estranho o facto de estar a viver sozinha, principalmente com esta idade, mas saber que estava a viver com pessoas que não eram a minha família, estava a deixar-me desconfortável, por isso arranjei coragem, agarrei nas minhas coisas, e saí de casa, sendo guiada, por instinto, para Seattle.
Quando entrei, pela primeira vez, naquela pastelaria e o vi, fiquei estática. Sabia que tinha entrado ali por uma razão, pois não tinha intenção alguma de comprar algo, e mesmo assim entrei. Sabia que iria encontrar um deles, mas nunca esperei que ele fosse o primeiro.
Não o via desde que nos tinham mandado para a Terra. Ele estava tão diferente, tão crescido. Mas uma coisa não tinha mudado, o seu sorriso.
"Então, o que vai ser hoje?" Perguntou-me, com o seu famoso sorriso na cara, apoiando as suas mãos no balcão, que lhe dava pela cintura.
"A..." Olhei para a vitrina, onde estavam expostos bolos, todos com um aspeto delicioso. A escolha era difícil. "Acho que me vou ficar pelo costume..." Olhei para ele que, sorrindo, começou a preparar o que eu comprava todas as manhãs.
"Podes ir-te sentar, que eu levo lá." Informou-me, apesar de eu já saber que ele o faria.
"Obrigada." Sorri ligeiramente, e dirigi-me à mesa junto ao vidro, onde via as pessoas passar na rua.
Enquanto ele preparava o meu café com leite morno, eu observava-o, discretamente, do lugar onde eu estava. Eu sabia que um dia ele haveria de recuperar a memória, mas mesmo assim doí-a saber que ele não me reconhecia, nem um pouco.
"Aqui está." Aproximou-se da minha mesa, com uma bandeja na mão. "Um café com leite morno, e um croissant misto." Dispôs as coisas sobre a mesa, sempre com um sorriso na cara.
"Obrigada." Ajeitei as coisas, puxando-as para mais perto de mim.
"De nada." Olhou para mim. "Nunca tinha reparado que tinhas uma tatuagem." Apontou para o meu pulso.
"A... Isto? Isto não... Quer dizer sim, tenho, mas não é nada de especial..." Passei os meus dedos pela pequena marca preta. Aquela marca não era uma tatuagem, era uma marca de reconhecimento entre os dovesianos. Havia três marcas diferentes, e todos os dovesianos já nasciam com ela, dependendo do meio em que nasciam. Havia a coroa, que era o símbolo da família real. Havia a pomba que era o símbolo que as famílias mais próximas da família real tinham. E a terceira marca, era a de uma folha, que era a marca que todos os cidadãos de Dovesia tinham.
"É simples, acho-a fixe." Riu ligeiramente, fazendo-me corar.
"Obrigada." Ri também.
Ele voltou, então, para trás do balcão, continuando a trabalhar, e eu fiquei a olhar uns segundos para a marca no meu pulso, a pensar.
Uns minutos mais tarde, quando estava já a acabar de comer, comecei a sentir algo estranho. Nunca me tinha sentido assim, e não estava a gostar da sensação. Era algo pesado e desconfortável. Assim como chegaram, o desconforto e o peso, desapareceram, fazendo-me arrepiar. Olhei à minha volta, mas não havia nada, ou ninguém, perto de mim, que me fizesse sentir aquilo.
Era agora início de tarde, e ia a passar em frente ao museu de arte Seattle Art, onde havia um grande grupo de adolescentes pouco mais velhos que eu, talvez alguns da minha idade, à espera para entrar no grande edifício. Passei por entre o grupo, desviando-me para a esquerda e para a direita, até que senti um empurrão, e quando dei por mim, estava no chão.