Entro no barco e me sento,
Enquanto ele parte
Eu fico olhando
O que deixo para trás:
Sonhos, planos, conquistas,
Pessoas, memórias,
Uma vida.
Coisas ruins também,
Mas nestas tento não pensar
Para que não me acompanhem.
O barco vai lotado
Levando mais gente do que deveria,
Navega lentamente,
Reclamando do peso que carrega
E joga para lá e para cá,
Tentando não virar.
É noite,
E o frio se faz presente,
Nos apertamos ainda mais
Para nos esquentar,
Mas não desejamos que amanheça,
Pois tememos o sol inclemente.
A comida é pouca,
A água também,
Embora estejamos cercados por ela,
Irônico não?
Eu rezo,
Todos rezam,
Para que chegue logo
Nosso ponto final.
Em um momento ou outro
Penso naqueles que vieram antes,
Que fizeram o mesmo caminho,
Com o mesmo objetivo que nós.
Penso naqueles que conseguiram
Chegar ao seu destino,
Será que valeu a pena?
Será que estão melhor agora?
Ou foram mandados de volta?
Penso ainda mais
Naqueles que não conseguiram,
Naqueles que foram
Engolidos pelo mar
E hoje são apenas fantasmas
Que nos lembram constantemente
Dos perigos escondidos
Naquela calmaria.
Peço a eles que nos ajudem
A chegar a algum lugar seguro.
Quando adormeço
Vejo tudo em meus sonhos,
Aqueles que deixei para trás,
A casa que um dia foi o meu lar,
O lugar onde trabalhei
Ou estudei,
Os lugares que adorava ir
E até o que me fez partir.
Outras vezes
Sonho com um naufrágio,
Pessoas espalhadas pelo mar,
Algumas se afogando
Outras nadando
Para lugar nenhum
E eu no meio delas,
Acordo assustado
Com aquela representação
Do meu maior medo.
Sempre quando acordo,
Despertado pelo sol da manhã
Ou por algum pesadelo
É como se não tivesse dormido.
São dias e noites assim.
A gente até conversa
Para se distrair,
São tantas histórias,
A maioria triste.
Há pessoas sozinhas, casais
E até famílias com crianças
De rostos assustados,
Pequenos anjos
Perdidos no meio desse sofrimento.
Todos fugimos de alguma coisa,
Guerra, preconceito, intolerância,
Fome, sede, doenças
Ou da própria morte.
Todos queremos uma vida melhor
Bem longe de onde saímos.
Conversamos até o silêncio
Se abater sobre nós,
O que acontece quase sempre.
Quando já estou cansado de mais
Vejo a terra surgir no horizonte,
Olho para o céu e agradeço,
Finalmente!
Agora peço à Deus
E aos fantasmas do mar
Que aquele chão que se aproxima
Seja um bom lugar,
Que eu possa permanecer lá
E recomeçar.
Mas seu eu não puder,
Se me devolverem
Ao lugar de onde vim
Eu tentarei de novo
E de novo,
E de novo
Até poder viver
Em um bom lugar,
Ou morrer tentando.
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Infinitude
Poetry"Com uma caneta, um papel (ou a tela de um eletrônico) e minha mente tudo vira poesia." Aqui vos trago poesia sobre temas diversos, divididos em quatro partes: PASSADO - poemas sobre coisas do passado; PRESENTE - poemas sobre assuntos da atualidade;...
