Jessy era a definição de pessoa divertida em todos os aspetos e passamos por demasiados sítios para aquilo ser chamado de "boleia". Visita guiada é uma definição plausível, porque parámos num lago de água cristalina, ela disse que era o seu lugar favorito. E que não tinha muitos amigos, só um pequeno grupo que ela própria conheceu no Aurora antes de trabalhar com Richy, uma pessoa que ela admira.
Contou-me do seu namorado idiota e inconsequente que era um desastre ambulante, da Cleo , do Thomas, de ela achar que devia haver alguma coisa entre aqueles dois, até porque a Cleo era uma invejosa de todo o tamanho.
Resumindo, ela desabafou comigo como nunca o faria à frente de alguém que conhecia e isso parecia animá-la. Eu estava a léguas do assunto.
Continuamos a viagem e ela deixou-me à frente de um bar.
— O meu irmão é o gerente, diz que precisas de falar com o Phil e que vens em meu nome. Ele ajuda-te, não te preocupes.
— Não entras?
— Nós discutimos, é melhor nem entrar.
Encolhi os ombros, não fazia grande diferença.
Tirei as minhas coisas do porta malas do carrinho pequeno dela e entrei no bar. Aquilo já estava a ser demasiado confuso para um dia apenas.
Bati à porta, estava encostada e o bar estava fechado, com a exceção de um jovem de cabelo preto amarrado num rabo de cavalo com um cigarro na boca, debaixo da zona que dizia "não fumadores". Empregado mais abusado!
As portas de madeira tinham sido acabadas de envernizar, ainda fiquei com marcas de verniz nas palmas das mãos, quase sujei as calças, mas parei a tempo.
Caminhei pelo azulejo cor creme até me encostar ao balcão preto brilhante, um aquário debaixo das marcas de copos e de beatas esquecidas.
— Desculpe?
O empregado bateu o cigarro num cinzeiro lotado e ergueu uma sobrancelha. Estava um homem sentado numa mesa com uma criança, o miúdo tinha um sumo de laranja intocado e agarrava um pequeno camião vermelho.
— No que é que te posso?
Agarrou o cinzeiro e despejou em algum lugar atrás do balcão de metro e trinta, era um tipo alto e estava bastante cansado, óculos escuros ocultavam medalhas de noites sem sono.
— Preciso de falar com Hannah e Lilly Donfort...
Ele parecia desconfiado, mas eu podia apostar que já lhe tinham pedido coisas mil vezes mais estranhas do que um simples : onde está pessoa X.
Ele virou-se e tirou uma chávena de café do topo da máquina.
— Amiga, família... ?
— Família.
Ele baixou o queixo e levantou os óculos acima da cabeça. Tinha uns lindos olhos azuis e um sorriso pequeno de lábios finos.
— Então é pior do que pensei - ele inspirou fundo - miúda...- Elise.
- Seja - puxou uma madeixa para trás da orelha com o pulso - a Hannah... bem, ninguém a viu, quero dizer, ninguém a vê à uns dias, o Thomas, o namorado dela, não sei se conheces, aquele idiota barbudo que ainda não saiu da casa da mãe... Não te interessa, dá para ver daqui que não te interessa... - ele gesticulava, o cheiro de um cigarro apagado perto de nós criava uma pequena névoa, algo misterioso debaixo da luz dos vitrais verdes, porquê verdes? - ...e não, a policia não disse nada . Melhor?
Sacudi a cabeça, e esfreguei os olhos, não tinha ouvido nada do que ele tinha dito, e nem dava para fingir que o tinha feito. Ele riu-se.
- É, costumo ter esse efeito nas mulheres, Elise. Bonito nome, já agora.
Empregado abusado!
Peguei na mala, paguei a conta exorbitante e virei-lhe as costas. Aquele idiota não me ia ajudar, ele era uma perda de tempo.
Lá fora, chovia.
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Querida Elise - Duskwood Fanfic
FanfictionTodos os dias 27 de cada mês eu recebia uma carta do meu pai sempre ausente. Ele queria que a nossa relação fosse o mais longe possível do trabalho dele e as cartas eram um bom escape para esconder as saudades. Até que recebi uma carta no dia 25 a d...