O rapaz loiro ergueu a mão para que eu apertasse, a sua camisola azul justa e o blusão estavam molhados, tinha alguma coisa escrita no boné, mas não consegui ler.
— Está a chover muito, não está?
Acenei com a cabeça, o rádio estava ligado numa estação qualquer.
— Não falas muito… eu sou o Richy, prazer.
— Elise.
— Nome bonito.
Ele ergueu um pouco o lábio, tinha um sorriso bonito e olhos pequenos e castanhos.
— Queres que te deixe onde?
— Na casa de… — peguei na carta do meu pai — Hannah e Lilly… Donfort.
Ele riu-se.
— Na casa da Hannah ou da Lilly?
— Qual é mais perto?
— Hannah, mas acho que ela não está em casa, hoje é o Pine Fest e deve ter ido com o Thomas. Um dia horrivel para ir a um festival — ele apontou para as nuvens e deixei escapar um riso. Espirrei duas vezes e ele deu a volta numa rotunda.
— Melhor levar-te ao ferro velho.
Ergui uma sobrancelha. Um ferro velho? O que é que eu ia fazer a uma sucata?
Ele deve ter percebido a confusão.
— É a minha oficina. A Jessy, a minha secretária, empresta-te roupa senão ainda vais ficar doente. Se é que não estás já…
Ele cerrou o maxilar e seguimos por um caminho de pedra rumo à oficina. Não fosse o jipe ter começado a fazer sons estranhos e o motor engripar.
— Eu não acredito!
Olhou para mim e tirou o blusão, ele só estava com uma t-shirt.
— Não achas que devíamos esperar pelo reboque.
Ele riu-se de nervoso.
— Eu costumo ser o reboque, Elise. Usa o meu casaco, assim ficas quente.
Vesti o blusão e ele abriu o capô, a chuva estava um pouco mais calma, mas o céu ainda estava negro.
— Assim ficas doente.
— Eu nunca fico doente.
Ele enterrou o boné na cabeça, Rogers Garage num círculo cor de laranja, sem me dar tempo de reclamar.
Fiquei a vê-lo dar um jeito ao carro, a chuva parecia ser nada para ele. Parecia boa pessoa, um residente que conhecia a zona, do rabo do olho vi uma casa abandonada com um 6 e um 8. Pelo menos parecia abandonada.
— Podia pedir ajuda ali.
Apontei para a casa e ele soltou um suspiro alto.
— Está abandonada.
— Oh…
Ele baixou o capô, estava um pouco sujo de óleo no abdómen e pediu-me para dar à chave. Isso eu sabia fazer, pelo menos.
— Ainda está esquisito, mas acho que aguenta até à oficina.
Acenei com a cabeça. Eu também esperava o mesmo. A companhia de Richard não era das piores, parecia um tipo simpático e honesto.
Talvez essa tal Jessy me ajudasse com a roupa, o casaco dele também não estavam tão seco como isso e o cabelo molhado ficava-lhe bem demais.
Sacudi a cabeça, aquilo era uma boleia e o meu pai sempre me disse para não confiar em ninguém, aquele mecânico não ia ser exceção.
Atravessámos uma rede alta e ele estacionou ao lado de uma garagem branca com fecho de correr, tinha parado de chover.
— Jessy!
Esperámos um pouco no jipe e então ele saiu e destrancou a garagem para estacionar o veículo.
A oficina não era muito grande, mas tinha espaço para quatro carros à vontade e alguma maquinaria.
— Podes sair. Ela deve estar no escritório, lá em cima.
Apontou para o topo de umas escadas, as cortinas estavam fechadas e ouvia-se música num rádio que alguém deixou ligado, o cheiro a gasolina e a óleo de carro era aconchegante, familiar.
— Ela está lá em cima?
Mas ele já estava debaixo de um carro levantado com um macaco. Deixei os meus sacos no banco de trás do jipe, alguém entrou e subi os degraus, a porta estava aberta e a primeira coisa que vi foi o aquário lotado de peixes.
— Eu já disse ao Richy que isso são peixes a mais, mas ele não me ouve.
A rapariga ruiva com um lápis a segurar os cabelos sorria-me.
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Querida Elise - Duskwood Fanfic
FanficTodos os dias 27 de cada mês eu recebia uma carta do meu pai sempre ausente. Ele queria que a nossa relação fosse o mais longe possível do trabalho dele e as cartas eram um bom escape para esconder as saudades. Até que recebi uma carta no dia 25 a d...