— Jessy?
— Exatamente — ela abriu um grande sorriso, deu-me um abraço apertado e afastou-se depressa. — Estás toda molhada! Meu Deus! Espera um segundo que eu já te arranjo uma roupa nova!
— Eu… eu…
— Tem calma! Eu já te oriento!
— Mas…
O lápis caiu e ela apanhou-o.
— Sim?
— Eu tenho roupa, na mala. Está no jipe. Só preciso de um lugar para trocar. Calma!
Ela olhou muito séria para mim e depois desatou a rir.
— Desculpa, desculpa! Eu nem sequer fixei o teu… nome?
— Elise.
Ela voltou a prender o cabelo com o lápis.
— Vamos voltar ao início, Elise. Meu Deus, inveja desse nome! O meu nome é Jessy, por favor não me chames de Jessica, estou traumatizada com esse nome. No que é que te posso ajudar?
— Preciso de falar com a Hannah e com a Lilly Donfort.
Ela cerrou o cenho e ergueu uma sobrancelha.
— Estás toda molhada, devias mudar de roupa senão ainda ficas doente.
Cocei a nuca.
— Tenho um saco com alguma roupa no jipe. Posso mudar aqui?
Ela apontou para a porta do anexo que ela tinha aberto e fez sinal para dentro.
— Estás à vontade.
— Obrigada.
Eu ia descer as escadas, mas ela perguntou:
— Qual a matrícula do carro?
Matricula?
— Eu não sei…
Ela encolheu os ombros, aborrecida.
— Deixam cá os carros e nunca se lembram da matrícula! Daqui a pouco peço ao Richy para me dar o número da matrícula do teu carro.
Pisquei os olhos 2 vezes, ela não devia ter ouvido o jipe a sair e a voltar.
— Jessy, eu vim no carro do sr. Richard…
Ela estava confusa e depois tapou a cara para não rir.
— Sr Richard? Aqui ninguém o trata por sr, só Richy. O pai dele é o sr. Rogers… Espera aí! Tu vieste no carro do Richy?!
Abanei a cabeça, ela parecia ainda mais perdida.
— Ele deu-me boleia até aqui. Estava a chover muito.
— Ele emprestou-te o casaco…
Tirei o blusão preto e atirei-o para cima da secretária dela, cheirava a laranjas, a gasolina e a óleo tudo junto.
— Queres ajuda com os sacos?
Neguei com a cabeça e desci as escadas, aqueles dois estavam a ser uma perda de tempo, o meu pai queria que eu fosse até casa da Hannah por proteção. De quê? Não sabia e nem me interessava, Donfort era sinónimo de metódico.
Estava à tempo demais naquela oficina.
Desci as escadas e tirei o meu saco com roupa do banco de trás, a minha carteira com os documentos e com a carta do meu pai ficou no banco da frente.
A Jessy encaminhou-me para uma cabine e mudei de roupa, um casaco impermeável e umas calças de ganga vulgares, umas botas pretas e uma camisola de malha. Neutro.
— Qual é o caminho mais perto para casa da Lilly Donfort, visto que a Hannah deve estar no Pine Fest…
Ela abriu um mapa no telemóvel e deu-me indicações, tinha de passar por um bar com o nome mais vulgar que é possível: "Aurora".
— O meu irmão é dono do Aurora, e ele é mais barato que o Cisne Negro… não sei se tens fome.
Fome, uma coisa que eu nem me tinha lembrado de ter e que, acordada, resolveu dar ares da sua graça.
— Tenho, sim…
Ela olhou para o relógio, faltavam menos de cinco minutos para a uma e meia da tarde.
— Dentro de cinco minutos vou para a minha hora de almoço, deixo-te no Aurora, comes alguma coisa e dizes que vens da parte da Jessy e depois segues para casa da Lilly. Pode ser?
Acenei com a cabeça, não tinha muitas opções, mas comida de bar entrava na lista de "comida prática" do meu pai.
A lista era simples: mostrar a carta a Lilly ou a Hannah, dizer que vinha da parte de Jake e ficar em Duskwood uns tempos até as coisas acalmarem. Simples.
Estive a falar com a Jessy os restantes cinco minutos, ela não tinha vontade nenhuma de tratar do correio ou de burocracias e eu tampouco entendia disso. Mais simpática do que eu pensei…
Eram exatamente 13.36 quando descemos do escritório e o Richy se ofereceu para arrumar as minhas coisas no banco de trás do carro da Jessy, quando me tocou no ombro senti eletricidade, uma conexão, como uma ficha e uma tomada ou como quando consigo aceder a alguma coisa pouco legal depois de duas horas a tentar fazê-lo.
Eletricidade. Ou apenas um choque, nada de mais.
Eu não contava ficar em Duskwood mais do que uma semana.
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Querida Elise - Duskwood Fanfic
Fiksi PenggemarTodos os dias 27 de cada mês eu recebia uma carta do meu pai sempre ausente. Ele queria que a nossa relação fosse o mais longe possível do trabalho dele e as cartas eram um bom escape para esconder as saudades. Até que recebi uma carta no dia 25 a d...