All Lie

Belong with me

Sempre pensei que haveria algo de diferente, algo que sinalizasse ou até mesmo indicasse o fim, mas eu estava errada - de novo.

O céu estava azul - assim como em todos os dias - e o calor era razoável, o clima era favorável para usar meu cardigã vermelho favorito e por isso não pensei duas vezes ao vesti-lo, porém, atravessando o longo campo em direção a arquibancada para o almoço habitual eu já duvidava um pouco da minha escolha.

Ergo os olhos e avisto uma pequena figura, a camiseta branca e os jeans escuros são habituais aos meus olhos, tudo que há nele é natural para mim. Suspiro e apresso o passo, ao contrário de mim, Malcolm tinha amigos com quem almoçar, no entanto, ele sempre tirava dez minutos do seu intervalo para se sentar comigo nas arquibancadas, esse era o nosso ritual desde sempre e pensar que o dia de hoje não se repetiria no próximo ano me causava náuseas.

- Vamos lá, Elle! - grita Malcolm acenando, reviro os olhos e me apresso mais, subo os degraus de dois em dois e chego até ele.

Ali, sozinhos em meio a arquibancada eu facilmente poderia acreditar que todos os meus sonhos são reais, eu poderia crer que Malcolm me ama e que estamos vivendo a nossa história, mas quando ele me olha e sorri não há nada em seus olhos, nada além de um simples amor fraternal.

- Você demorou - diz comendo uma cenoura, suspiro cansada e coloco minha bolsa ao seu lado, retiro o cardigã vermelho e o dobro deixando de lado.

- Sam precisava de ajuda com o dever - digo sentando-me ao seu lado e tirando meu lanche da minha bolsa, ao meu lado ouço-o bufar e estremeço com a ideia de voltarmos a discutir sobre esse assunto.

- Olhe para você, primeiro dia de aula e já está pegando toda a responsabilidade - diz mordendo outro pedaço de sua cenoura, respiro fundo e observo meu sanduíche natural, torço o nariz em desaprovação, mas logo disfarço, se Malcolm podia ser fitness eu poderia também.

- Eu juro que tento entender vocês dois, mas eu já te expliquei - digo virando para olhá-lo, ele se move em minha direção e por um segundo me perco em seu rosto, Malcolm arqueia sua sobrancelha e sei que estou fazendo-me de idiota de novo - Ela é minha amiga - digo apressada - Eu me sinto bem em ajudá-la.

Ele nega e da de ombros comendo o resto da sua cenoura. - Se você diz, mas eu ainda acho que você é boa demais pra ela, na verdade, você é boa demais para todos nós - diz guardando sua vasilha - sem nenhuma cenoura - dentro da sua mochila.

Franzo o cenho e olho em meu pulso, meu relógio me diz que ainda temos seis minutos juntos. - Onde você vai? - indago, ele me olha e sorri de lado e apesar de eu amar todos os sorrisos que Malcolm me oferece, esse de longe é o que eu mais odeio.

- Brianna precisa de "ajuda" com o dever - diz rindo enquanto faz aspas com os dedos, engulo em seco e lhe dou um pequeno sorriso, viro-me para frente e mordo meu sanduíche, nojento. - Tudo certo, ok? - indaga-me.

Mastigo o sanduíche por dois segundos inteiros e respiro fundo antes de olhar para ele, seu rosto está franzido e os lábios apertados, a perfeita expressão de "eu não sei como lidar com isso, por favor, pare!", e é exatamente isso que eu faço quando dou meu mais aberto sorriso - provavelmente sujo com alface.

- Claro! Vá lá, eu vejo você depois - digo. Ele me encara por um segundo e eu sei que é capaz de ver a mentira por baixo das minhas palavras, mas esse é Malcolm e não há nada que o impeça de fazer o que quer, nem mesmo sua amiga boba apaixonada.

- Ok! - diz beijando minha bochecha, quase engasgo, mas mantenho a fachada, ele desce as escadas às pressas e então se torna um pontinho - muito lindo - atravessando o campo.