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 A sala de espera do dr. Gordon era bege e silenciosa.

As paredes eram bege, o carpete era bege, o forro das cadeiras era bege, os sofás eram bege. Não havia quadros nem espelhos nas paredes, apenas certificados de diferentes escolas de medicina, com o nome do dr. Gordon escrito em latim. Samambaias pálidas e plantas espinhentas, de um verde bem escuro, enchiam os vasos de cerâmica espalhados pelas mesinhas de centro, de canto e de revistas.

Fiquei me perguntando por que aquele lugar parecia tão seguro. Então me dei conta de que era porque não tinha janelas.

O ar condicionado me dava arrepios.

Eu ainda estava usando a saia rodada e a blusa branca de Betsy. Estavam meio caídas agora, já que eu não as lavara nas três semanas em que estive em casa. O suor acumulado no algodão produzia um cheiro azedo mas acolhedor.

Também fazia três semanas que eu não lavava o cabelo.

E sete noites que não dormia.

Minha mãe disse que eu devia ter dormido um pouco, que era impossível ficar tanto tempo acordada, mas se isso aconteceu foi com os olhos abertos. Eu tinha ficado olhando para o verde luminoso dos ponteiros do relógio ao lado da cama, acompanhando seus círculos e semicírculos, toda noite, a semana inteira, sem perder um só segundo, minuto ou hora.

Eu não tinha lavado minhas roupas ou o cabelo porque aquela me parecia uma ideia estúpida.

Eu via os dias do ano se estendendo diante de mim como uma série de caixas brancas e brilhantes, separadas uma da outra pela sombra escura do sono. Só que agora a longa perspectiva das sombras, que distinguia uma caixa da outra, tinha subitamente desaparecido, e eu via os dias cintilando à minha frente como uma avenida clara, larga e desolada até o infinito.

Eu achava estúpido lavar algo num dia para no dia seguinte ter que lavar de novo.

Ficava cansada só de pensar naquilo.

Queria fazer as coisas de uma vez e me ver livre de tudo.

*

Os dedos do dr. Gordon brincavam com uma caneta prateada.

— Sua mãe diz que você anda nervosa.

Me encolhi na enorme cadeira de couro e encarei o dr. Gordon do outro lado de uma quilométrica mesa polida.

O dr. Gordon esperou. Ele batucou com a caneta — tap, tap, tap — na superfície verde de seu mata-borrão.

Seus cílios eram tão longos e grossos que pareciam de mentira: um canavial de plástico preto rodeando duas lagoas verdes e glaciais.

Os traços do dr. Gordon eram tão perfeitos que ele era quase bonito.

Eu o odiei no instante em que abri a porta.

Tinha imaginado um homem afável, feio e intuitivo, que olharia para mim e diria "ah!" de maneira encorajadora, como se pudesse ver algo que eu não podia, e então eu encontraria palavras para descrever por que estava tão assustada, como se estivesse sendo enfiada cada vez mais fundo num saco escuro, sem ar e sem saída.

Ele se encostaria na cadeira e uniria as pontas dos dedos e me explicaria por que eu não conseguia dormir, ler ou comer, e por que tudo que as pessoas faziam me parecia estúpido, uma vez que todo mundo morre no final.

E então pensei que ele me ajudaria, passo a passo, a voltar a ser eu mesma.

Mas o dr. Gordon estava longe de ser alguém assim. Ele era jovem e bonitão, e percebi de cara que se achava o máximo.

A Redoma de Vidro (1963)Onde histórias criam vida. Descubra agora