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 — Que bom que eles vão morrer.

Hilda arqueou seus membros felinos em um bocejo, enterrou a cabeça nos ombros e voltou a dormir na mesa de conferência. Um tufo de palha verde como bílis repousava em sua testa como um pássaro tropical.

Verde-bílis. Era a tendência do outono, e Hilda, como sempre, estava seis meses à frente de todas nós. Verde-bílis com preto, verde-bílis com branco, verde-bílis com verde-nilo, seu primo distante.

Slogans de moda prateados e vazios borbulharam no fundo do meu cérebro, emergindo com um estalo oco.

Que bom que eles vão morrer.

Amaldiçoei o acaso, que fizera com que eu chegasse à lanchonete do hotel na mesma hora que Hilda. Eu tinha ido dormir tarde e me sentia zonza demais para inventar uma desculpa que me devolvesse ao quarto, atrás de uma luva, um lenço, um guarda-chuva ou um caderno. Meu castigo foi a longa e tediosa caminhada das portas de vidro congelado do Amazon até o mármore avermelhado da entrada na Madison Avenue.

Hilda caminhava como uma modelo na passarela.

— Uma graça esse chapéu, você que fez?

Eu meio que esperava que Hilda virasse e me dissesse, "você parece doente", mas ela apenas esticou e retraiu seu pescoço de cisne.

— Sim.

Na noite anterior eu havia assistido a uma peça cuja heroína era possuída por um demônio, e quando ele falava através dela a voz era tão profunda e cavernosa que ficava impossível saber se era de homem ou de mulher. Pois bem, a voz de Hilda soava igual a voz daquele demônio.

Ela encarou o próprio reflexo na vitrine reluzente de uma loja, como se precisasse se certificar, a cada momento, que continuava a existir. O silêncio entre nós era tão profundo que achei que devia ser culpa minha.

Então falei: — Não é horrível essa história dos Rosenberg?

Os Rosenberg seriam eletrocutados naquela noite.

— Sim! — disse Hilda, e eu finalmente achei que tinha encontrado algo de humano naquele coração de pedra. Foi só quando paramos para esperar as outras, sob a luz tumular da sala de conferência, que Hilda desenvolveu aquele "sim".

— É horrível que pessoas daquele tipo continuem vivas.

Ela então bocejou, e sua boca pálida e alaranjada abriu-se revelando uma escuridão profunda. Fascinada, olhei fixamente para a caverna que se escondia em seu rosto, até que os dois lábios se encontraram e o demônio falou de dentro de seu esconderijo: — Que bom que eles vão morrer.

*

— Vamos lá, só um sorriso.

Eu estava sentada na namoradeira de veludo rosa do escritório de Jota Cê, segurando uma rosa de papel e olhando para o fotógrafo da revista. Fui a última das doze a posar para a foto. Eu havia tentado me esconder na sala de maquiagem, mas não funcionou. Betsy descobriu meus pés sob a porta.

Eu não queria tirar a foto porque sabia que ia chorar. Eu não sabia o motivo, mas sabia que se qualquer pessoa falasse comigo ou me olhasse de perto as lágrimas pulariam dos meus olhos e os soluços pulariam da minha garganta e eu choraria por uma semana. Podia sentir as lágrimas se acumulando e se agitando, como água na borda de um copo cheio e instável.

Era a última série de fotos antes da revista ir para a gráfica e nós todas voltarmos a Tulsa, Biloxi, Teaneck, Coos Bay ou qualquer que fosse o lugar de onde tivéssemos vindo, e devíamos ser fotografadas com adereços que mostrassem o que queríamos ser.

A Redoma de Vidro (1963)Onde histórias criam vida. Descubra agora