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 Estava completamente escuro.

Eu sentia a escuridão, nada mais. Minha cabeça se ergueu, sondando o ambiente como a cabeça de uma larva. Alguém estava gemendo. Então um enorme peso chocou-se como uma pedra contra a minha bochecha, e o gemido foi interrompido.

O silêncio voltou, como água parada se recompondo depois de uma pedra a ter atingido.

Um vento frio me acertou. Eu estava sendo transportada velozmente por um túnel para o centro da terra. O frio parou. Houve um murmúrio, como se muitas vozes discordassem e reclamassem à distância. Então as vozes se calaram.

Um cinzel atingiu meu olho. Uma fenda de luz se abriu, como uma boca ou uma ferida, até que a escuridão voltou. Tentei rolar na direção da luz, mas mãos envolveram meus membros como as bandagens de uma múmia, e eu não conseguia me mover.

Comecei a pensar que estava em uma câmara subterrânea, sob uma luz muito forte, e que o lugar estava cheio de pessoas que por alguma razão me prendiam ao chão.

Então o cinzel me acertou outra vez, e a luz invadiu minha cabeça, e uma voz exclamou através da escuridão grossa, morna e peluda:

— Mãe!

*

O ar tocava e brincava no meu rosto.

Eu sentia os contornos de um quarto ao meu redor, um grande quarto com janelas abertas. Um travesseiro se moldava à minha cabeça, e meu corpo flutuava, sem pressão, entre lençóis finos.

Então senti calor, como se uma mão estivesse pousada sobre o meu rosto. Eu devia estar deitada sob o sol. Se abrisse meus olhos, veria cores e formas debruçando-se sobre mim como enfermeiras.

Abri os olhos.

Estava completamente escuro.

Alguém respirava ao meu lado.

— Não consigo enxergar — eu disse.

Uma voz alegre se ergueu na escuridão. — Existem várias pessoas cegas no mundo. Um dia você vai se casar com um bom sujeito cego.

*

O homem do cinzel voltou.

— Por que você insiste? — perguntei. — Não adianta.

— Você não deveria falar assim. — Seus dedos examinaram o enorme inchaço dolorido sobre meu olho esquerdo. Então ele soltou alguma coisa, e um foco de luz apareceu, irregular feito um buraco na parede. Uma cabeça masculina apareceu na borda do buraco.

— Você consegue me ver?

— Sim.

— Consegue ver mais alguma coisa?

Então me lembrei. — Não consigo ver nada. — O foco diminuiu e ficou preto. — Estou cega.

— Que absurdo! Quem te falou isso?

— A enfermeira.

O homem bufou e terminou de colocar o curativo sobre o meu olho. — Você é uma garota muito sortuda. Sua vista está intacta.

*

— Tem alguém querendo te ver.

A enfermeira sorriu e desapareceu.

Minha mãe apareceu sorridente e contornou a cama. Ela usava um vestido com desenhos de rodas de carroça roxas que a deixava péssima.

Um rapaz alto a seguia. Em princípio não consegui reconhecê-lo, porque meu olho só abria um pouco, mas então vi que era o meu irmão.

A Redoma de Vidro (1963)Onde histórias criam vida. Descubra agora