- Até que horas cê pretende ficar de pijama, sem arrumar esse cabelo?
Para o capítulo começar com uma frase dessas, vocês já devem ter noção de quem ela deve ter partido. Sim, Irene estava em cena. E, sim, Karina Bae também. Estava largada no lugar mais à esquerda do sofá da sala, com uma gatinha deitada em seu colo. Vestia pijamas e ainda tinha o cabelo amarrado em um coque alto, do jeito que o prendera assim que acordou, para lavar o rosto. Já havia passado da hora do almoço, Karina estava de buchinho cheio, mas seu estado era quase o mesmo daquela manhã.
Como vocês já perceberam, não era sozinha que Karina estava, naquele início de tarde. Compartilhava o sofá com as mães. Seulgi sentava à sua direita, no assento do meio – exótico, porque normalmente era Irene quem ocupava o assento do meio, ninguém sabia o que aquela mulher tinha com assento do meio. E, por falar em Irene, esta ocupava a ponta do sofá oposta à de Karina. Estava com as pernas para cima do assento, como Irene sempre estava, só que também fazia o ombro da Kang de travesseiro, e a cintura da esposa como se fosse outro, só que usado com o propósito de abraçar, mas isso porque Irene não sabia o que significava espaço pessoal. Se fosse Karina ali, no lugar de Seulgi, Irene estaria fazendo a mesma coisa. E Karina teria que lidar com as reclamações da mãe direto no seu ouvido.
Gostava de estar a uma Seulgi de distância.
- Não é nem uma e quarenta, a gente marcou pras duas. Mais cinco minutinhos e eu vou me arrumar. – Karina respondeu, enfim. E não era como se ela estivesse muito entretida, ali com as mães. As duas assistiam a um episódio daquele drama velho delas, e se Karina já tinha dificuldades em acompanhar algo pela metade, imagine só partindo dos episódios finais. Era a preguiça que a impedia de se mexer, e o tédio só agrava isso.
Lei da inércia. Karina permaneceria parada até que força maior a obrigasse a se mover.
- Eu sei que tu dizia que gostava da atriz da advogada, como é o nome dela mesmo? – Então Karina ficaria a escutar Seulgi a perguntar coisas à Irene sem nem dar tempo para a dita cuja responder. – Mas esses dias eu esbarrei num artigo recente sobre a Suzy e a mulher envelheceu que nem vinho. Tá com cara de ahjumma? Tá, mas uma baita duma ahjumma.
- Cê tá elogiando ou tirando sarro? – Irene indagou. Karina teve que prender a respiração para não rir e poder continuar fingindo que a conversa era desinteressante. Karina sabia coreano o suficiente para não querer ser chamada de ahjumma tão cedo. – Mas ela ainda tá viva? Quantos anos ela tem?
- Que cê tá falando, mulher, ela não é nem dez anos mais velha do que a gente! – Depois daquela reprimenda de Seulgi, Karina não precisou nem checar para saber que Irene tinha a maior cara de surpresa.
- Sério? - A risada de Irene ela ouviu muito bem, porém.
- Claro, ela é de noventa e quatro! – E lá estava Seulgi, de novo, apontando para a TV. Karina só não sabia para qual das mulheres em cena. Noventa e quatro. Para Karina, qualquer um nascido antes de dois mil já era centenário. – Olha pra cara dela, como que essa pessoa já teria mais de trinta? Não faz nem sentido isso que acabou de falar, oxe, matando a mulher...
- Ah, vai que o tempo passa mais rápido pra ela do que pra gente... – Estão vendo por que Karina era ruim com desculpas esfarrapadas? Porque Irene era pior. Então, lógico que o instinto dela seria dar respostas tão toscas quanto as que crescera ouvindo Irene dizer.
- De qual delas cês tão falando? – E como aquela conversa sem sentido provavelmente terminaria ali, Karina resolveu finalmente sanar e admitir sua curiosidade.
- A que tá com o cabelo amarrado aqui em baixo. Bae Suzy. Um dos dramas que eu te passei, semana passada, é com ela. – Seulgi explicou, ao fechar um dos punhos à altura da nuca. Seulgi também tinha o cabelo preso, só que num coque mais alto. Parecido com o de Karina, só que mais bagunçado. Não propositalmente. O cabelo de Seulgi bagunçava fácil.
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Eis que os filhos são herança do Senhor!
FanficKarina Bae sabia que a vida de estudante do último ano do Ensino Médio não era a das mais fáceis. São cobranças da escola pelo desempenho perfeito nos vestibulares, a pressão de ter que escolher tão prematuramente uma carreira para se seguir pelo re...