Bônus II: E os pais são o orgulho dos seus filhos.

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- Continuo achando isso uma frescura. Vai descansar, a gente já tá o dia inteiro organizando coisa.

Era engraçado como o tempo havia voado assim que as três mulheres pousaram em terras tupiniquins, ainda em janeiro do novo ano. A viagem fora uma boa transição entre os estresses e burnouts pré-vestibulares, o nervosismo das provas e o caos do pós-vestibular. A ansiedade pelos resultados; a depressão pós-reprovação no primeiro resultado divulgado; a incredulidade de encontrar uma Karina de sobrenome Bae na lista de chamada de uma de suas primeiras opções de universidade; o trabalho de limpar a bagunça do quarto, Karina ainda não sabia de onde raios Irene, logo Irene, arranjara um ovo para quebrar em sua cabeça; seguido da euforia da comemoração quando a realidade enfim atingiu a nem tão pequena Bae – junto com o ovo -; para aí ter que estar com documentos em mãos para entregar na matrícula apenas dias depois da aprovação divulgada. E mais alguns dias para que Karina decidisse onde ficar. Em São Paulo, mas sozinha ou com a prima? Em Santos, com as mães, mas gastando Deus sabe lá quantas horas do seu dia em locomoção?

Decisões que precisaram ser tomadas num tempo que pareceu muito mais curto do que o anterior parágrafo. Mas havia dado tudo certo. Um mês se passara, Karina estava com a matrícula feita e com uma carteirinha provisória, bem fuleira, de papel, em mãos. Tentava se acostumar com sua cara na foto. Aquela pessoa tinha muito pouco cabelo para ser Karina Bae. Foi franzindo a testa para a própria cara em 3x4 que Karina chegou ao futuro quarto da prima, então, naquele apartamento dum tamanho dum ovo. Onde Irene questionava uma Seulgi que deitava no chão, com a cara e metade do corpo para baixo de uma mesa de computador.

Era sábado pré-semana de recepção e suas mães ajudavam a colocar o apartamento em ordem.

É, nos fim das contas, Karina decidira ir para São Paulo.

- Mas fica feio deixar esse monte de fio tudo pendurado. – De volta ao momento. Seulgi não saiu de baixo da mesa para responder. E, pelo movimento que um dos braços da Kang fazia, devia apertar um parafuso. – O da Rina foi mais fácil porque tinha menos fio, mas esse daqui vai ficar pior se não organizar. Custa nada fazer pra Gigi também, já que eu comecei. Se não elas vão chutar e enroscar os fios tudo.

- Quem vai chutar esses fios aí atrás? – Karina parou de olhar para a cara na própria foto e guardou a carteirinha fajuta no bolso. Viu que, além de indagar, Irene permanecia na mesma pose, de braços cruzados, ao observar a Kang.

- Tu já viu o tamanho das pernas delas? – Seulgi questionou. Irene já devia ter visto, já que ficava na linha de visão dela. – Se desse pra deixar o gabinete do PC em baixo da mesa ia ser mais fácil, mas esses quartos são muito apertados. Ou a passagem de ar fica barrada pela parede, ou pela cama. Vai fritar o computador dela, se não deixar em cima. A Giselle vai ter que rodar uns programas pesados. Imagina a zona de fio de computador e periférico em cima da mesa? Não vai ter onde a menina colocar um caderno.

- Na real a gente sabe que a mãe viu como tava o PC da Gigi e ficou com TOC. – Karina finalmente se expressou e, silenciosamente, Irene concordou com a cabeça. Fala de Karina que fez Seulgi notar a chegada da filha ali. Seulgi que quase bateu a cabeça na mesa quando foi se sentar, para encarar a filha.

- E a internet no teu notebook? Deu certinho? – Seulgi perguntou ao jogar a chave philips no chão. Ou de fenda. Karina não sabia os nomes das diferentes chaves.

- Uhum. Lá deu certo, mas e a da sala? A gente vai conectar de qual modem? – Karina perguntou enquanto Seulgi abria e fechava a mão direita. Pelo que a furadeira largada ao chão também indicava, Seulgi parafusava sob o tampo de madeira uma prateleira para organizar os fios sob a mesa de Giselle, assim como a Kang fizera com a da filha.

Eis que os filhos são herança do Senhor!Onde histórias criam vida. Descubra agora