VELHOS ROSTOS, NOVAS ALIANÇAS

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POV LANDON

Acordar em lugares estranhos com memórias confusas e problemas com bruxos estava começando a se tornar uma rotina para mim. Antes de tudo escurecer e eu despertar nesse lugar que não sei onde fica, ou quem me trouxe aqui, tudo que me lembro é de sentir raiva.

Desde que recusei o convite da Persia para me aliar a ela contra Hope, tentei como pude sair de New Orleans. Como estou magicamente condenado a odiar e caçar lobos, em especial os Crescentes, presumi que essa cidade era o último lugar do mundo onde eu encontraria um pouco de paz, já que poderia esbarrar com um deles a qualquer momento em qualquer lugar. O problema, para variar, é que eu não tinha mais tanto controle sobre mim e minhas ações. Sempre que estava a caminho da saída, algo em mim me fazia retornar, era como se estivesse preso à cidade pelo simples fato de saber que lá eu encontraria os alvos da minha ira. Já que não conseguia cruzar a fronteira, tentei ao menos fugir do polo sobrenatural, ficar afastado das ruas, bairros e qualquer que fosse o território ocupado por bruxas, vampiros e, especialmente, lobisomens. Acho que não preciso dizer que falhei. Duas semanas depois de deixar a Hope, esbarrei acidentalmente - pelo menos eu esperava que tivesse sido acidental - em dois homens que andavam por um lugar menos povoado. Foi instantâneo, senti meus instintos se aguçarem, a raiva nublar meu raciocínio e a ira tomar conta dos meu movimentos. Saquei a faca que havia roubado da casa da Hope e os ataquei. O primeiro foi morto rápido, um ataque surpresa sempre era letal, mas o segundo lutou comigo. Ao ver seus olhos dourados, senti mais necessidade ainda de acabar com sua vida. Entre socos e esquivas da minha arma, ele acabou calculando mal o espaço de fuga e eu o acertei, enfiei a lâmina coração adentro e o esperei morrer. Quando eles eram apenas cadáveres ensanguentados em um beco escuro e vazio, a raiva em mim foi se aplacando, indo embora, junto com suas vidas.

Fiquei em choque com o que havia acabado de fazer, claro. Eu ainda não tinha me recuperado do fato de ter matado o Julio, repetir o ato novamente com pessoas desconhecidas que eu sabia que não tinham culpa nenhuma do meu surto assassino não ajudou muito. Lembro que essa foi a primeira vez que percebi que estar ligado à vida da Hope tinha alguns efeitos extras em mim como, por exemplo, fator de cura. Eu não entendia como aquilo era possível, mas, aparentemente além de imortal, eu também não precisaria me incomodar com ferimentos diversos. Demorei algumas horas para conseguir sair do choque e ir embora dali, se alguém me encontrasse sujo de sangue perto de dois corpos, bom, não preciso ser um gênio para saber que estaria encrencado.

Não estava sendo difícil me virar, na minha condição, conforto não podia ser uma exigência. Me alojava em qualquer lugar isolado e minimamente seguro para mim e para aqueles que sequer sabiam que eram meus alvos. Aprimorei bastante minha furtividade enquanto tentava não morrer de fome, tudo que não queria era deixar de ser o ladrão de mapas e ser o ladrão de comida, chamar atenção não era uma opção. As semanas foram se passando e, com elas, mais vítimas foram adicionadas à minha lista. Lembro de não conseguir dormir por uma semana pensando no lamento de uma mulher lobo que implorou pela vida para cuidar do filho. Foi a primeira vez que tentei acabar com aquilo do jeito mais acessível: me matando. Acordei horas depois, sem nenhum ferimento e com a mesma vontade de estar morto. Meu último ataque havia sido na noite passada, pelo menos eu achava que era, não sabia a quanto tempo estava inconsciente. Mais dois homens, pai e filho, que me machucaram bastante antes de eu apunhalar o senhor no coração e cortar a garganta do filho dele. Depois disso, só lembro de sentir uma dor muito forte na cabeça e de tudo escurecer.

Agora, aqui estava eu, acorrentado no chão de um apartamento que eu nunca estive antes e que, definitivamente, não conhecia o dono. A luz do sol entrava pela janela da sala, enorme e com uma bela vista para a cidade. Fiz um esforço pata ficar de pé, o que não foi fácil sem poder usar os braços, mas consegui. Percebi como aquele lugar era afastado de onde eu me lembrava de ter apagado tomando os prédios por referência, além da arquitetura, aquele lugar parecia abandonado, apesar de ser bem decorado. Não iria esperar calado que alguém chegasse e me matasse, ou pior, me controlasse para fazer algo mais monstruoso do que o que eu vinha fazendo, então perguntei:

III - Lua De Sangue | III - Blood MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora