capitulo sete

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Brandon ficou alguns minutos parado olhando para a porta em que ela saiu. Aquela não era a Zaya que ele se lembrava.

Se moveu para segui-la mas foi parado por seu pai.

__ eu não faria isso se fosse você. __ disse ele.

Brandon o fitou. Seu pai continuava o mesmo de que se lembrava. Sorriu e o abraçou, se lembrando de todos aqueles anos que sentiu sua falta desesperadamente.

__ meu filho... Quanta falta eu senti de você.

A voz de Dave estava falhando e ele claramente estava prestes a chorar. 10 anos não era pouca coisa.

Quando pequeno Brandon não entendia muito bem o porque de ter que ir embora com sua mãe.

Agora, entretanto ele poderia recuperar o tempo perdido com todos que teve que deixar para trás.... Menos com Zaya, ao que tudo parecia.

__ você está de barba Don. Quando isso aconteceu? Não enxerguei isso nas chamadas de vídeo.

Brandon sorriu.

__ foi só nos últimos dias que resolvi deixar. Ficou bom em mim?

Dave abraçou seu filho novamente, com direito a um tapinha nas costas.

__ é claro que sim. Aposto que está conquistando corações.

Um desconforto tomou conta de Brandon. Apesar de ser um jovem bonito e inteligente, ele nunca se deu bem com amizades. Em todo esse tempo, ele não se aproximou de mais de 5 pessoas, e nenhuma delas era uma garota.

É claro, pessoas da idade dele costumavam festejar, namorar e se entupir de álcool. Brandon nunca foi assim. Já foi a algumas festas (das quais foi embora nos primeiros 20 minutos) mas nunca sequer ficou perto de alguém do sexo oposto por mais de 5 minutos. Bebidas então, era algo que ele sempre odiou por causa de sua mãe.

Nunca teve interesse em nenhuma dessas coisas porque seu foco era terminar a faculdade de gastronomia e -finalmente- poder voltar para casa, afinal essa era a condição que sua mãe revelou.

Infelizmente, mesmo depois de terminada a faculdade ele não pode regressar. Teve que esperar mais algum tempo para que algumas coisas se resolvessem, mas agora, tudo tinha dado certo.

Quer dizer, quase tudo.

Zaya estava em seus pensamentos do momento em que a viu pela última vez, ainda criança, até o momento que voltou para casa. Ele não deixou de pensar nela em nenhum mísero dia desses 10 anos.

Era sempre ela.

O que será que ela está fazendo agora? Será que o sorvete de caramelo ainda é o seu preferido? Essa cor é idêntica a dos olhos dela.

Por 10 anos.

E agora, ao que parecia ela nem mesmo queria vê-lo. Brandon respirou fundo. Seu pai o observava atentamente.

__ Zaya vai ficar bem Don.

Era o que Brandon esperava.

__ porque ela está aqui? Tim está arrumando a casa?

Dave engoliu em seco. Tinha esquecido de contar para ele sobre o acidente. Como poderia dizer aquilo?

__ na verdade não. Zaya está aqui porque... Bem aqui é a nova casa dela. __ respirou fundo e continuou: __ há quase um mês, um incêndio aconteceu. Tim, sua esposa e suas filhas estavam dentro da casa.

Brandon se surpreendeu. Zaya tinha irmãs?

__ Zaya foi a única sobrevivente. __ Dave disse, de uma vez por todas.

Sua visão estava embaçada pelas lágrimas contidas. Ele tentava o máximo possível não pensar nesse assunto. Precisava ser forte. Precisava estar ali por Zaya, ela não tinha mais ninguém. Já não sabia mais se iria conseguir.

Brandon viu seu pai se segurando no balcão e se apressou para impedi-lo de cair.

Oh meu Deus.

Brandon sentiu as lágrimas escorrendo, mas não se esforçou para limpa-las.

A família de Zaya havia morrido. Ele não podia acreditar naquilo. Como havia acontecido? Como somente ela havia sobrevivido?

Era muito compreensível que seu pai estivesse abalado com a morte de todos eles, principalmente de Tim. Brandon cresceu vendo os dois sempre grudados. Pelo que sabia, se conheceram na faculdade, se casaram juntos, construíram a empresa juntos e praticamente todos os dias estavam um na casa do outro. Eles eram praticamente irmãos.

Brandon levou seu pai até o sofá da sala e se sentou na frente dele. Tinha tantas perguntas mas não achava que aquele seria um bom momento para pergunta-las.

Sempre há um momento na vida onde você se surpreende tanto com algo que simplesmente paralisa. Momentos bons e momentos ruins.

Aquele era decididamente um dos ruins.

Dave apoiou a cabeça nas mãos e começou a chorar. Brandon nunca tinha visto seu pai fazendo aquilo antes.

Já havia o visto chorar em brigas com sua mãe, quando o divórcio ficou pronto e quando se despediu dele no aeroporto.

Mas aquilo não era nada comparado a isso.

Por mais que doesse quando todas essas coisas aconteceram, nada disso era para sempre. Sempre tinha outra saída.

Para a morte não.

Igual quando era pequeno, Brandon sentou no tapete aos pés de seu pai e segurou sua mão apertada. Dave estava tremendo. Chorando como uma criança ao ralar o joelho pela primeira vez.

Os dois ficaram ali até Dave se acalmar e conseguir respirar normalmente. Seu pai se levantou, o abraçou seguido de um pequeno "obrigado filho. Boa noite" E seguiu para seu quarto.

Brandon sentou na poltrona que seu pai estava. Um pensamento rondava sua mente sem parar e ele precisava fazer algo sobre aquilo.

Ele nem conseguia imaginar a dor dela. Perder todos assim, de uma vez, era simplesmente a pior coisa que ele poderia imaginar. Sabendo agora de toda a tragédia, Brandon acreditava que Zaya era a pessoa mais forte que ele conhecia. Ele já teria enlouquecido.

Ele precisava estar com Zaya. Ouvi-la, abraça-la e dar seu apoio incondicional. Ela era uma das únicas pessoas importantes no mundo dele, e mesmo que tudo estivesse diferente, ele continuaria ali, por ela.

Sempre.

O Abismo Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora