O Abismo Entre Nós

capitulo dez

Brandon estava exausto.

Tentar chamar a atenção de alguém por tantos dias assim, era cansativo.

Mas ele estava empenhado em conquistar a amizade dela novamente.

Depois que ela concordou em uma "trégua" nada muito excitante havia acontecido. Zaya continuava calada e inexpressiva, e raramente se dirigia a ele ou ao menos o olhava. Brandon já não sabia mais o que fazer.

Nenhuma de suas tentativas de aproximação tinha funcionado até agora, mas... Ele teve uma idéia.

O dia estava quente e eles tinham uma enorme piscina no quintal. Será que ela gostaria de dar um mergulho?

Subiu correndo as escadas em direção ao quarto dela, onde quase deu de cara com Emília, que estava saindo do aposento.

__ ei garoto! Não acha que já está muito velho pra ficar correndo pela casa não?

Brandon se encostou na parede para que ela pudesse passar.

__ você viu a zaya por ai? __ perguntou ela.

Emília sorriu.

__ essa garota põe luz nos teus olhos meu filho. Ela deve estar na estufa. Tinha umas pessoas lá que vieram buscar umas plantas... Deve estar lá ainda.

...

Sim, ela estava lá. De longe Brandon viu os cabelos claros dela balançando nas costas e sentiu seu coração acelerar.

Chegou um pouco mais perto e começou:

__ hey zaya, você quer..

Ela se virou. Havia alguém na frente dela, um cara. Aproximadamente do tamanho de Brandon ele era loiro e segurava a mão de Zaya.

Ela por sua vez estava com os olhos arregalados.

Brandon ficou sem fala.

__ e quem é esse? __ perguntou ele, depois de alguns segundos.

As bochechas dela ficaram vermelhas a adoráveis. A última vez que ela a tinha visto desse jeito foi no último dia que se viram, logo depois de pedi-la em casamento e arriscar um rápido selinho.

Bons tempos.

__ este é Troy... Um amigo meu do colégio.

Amigo? 

__ pensei que tinha dito que não teve amigos depois de mim. __ Brandon não conseguia tirar os olhos do outro cara.

Por que ela queria tanto ser amiga de Troy e dele não?

__ na verdade.. __ Troy começou. Ele ia dizer outra coisa, mas quando fitou Brandon e percebeu o ódio escondido desistiu e somente disse: __ bom.. já estou indo, só vim buscar umas plantas para minha mãe. De qualquer forma, obrigada Zay.

Ele nem se incomodou em se despedir de Brandon e andou rapidamente pelos ladrilhos do chão até chegar ao seu carro.

__ ele te chamou de zay?

__ por que você foi um babaca com ele?

__ eu não posso te chamar de Zay, mas ele pode?

__ sim, por que eu deixei.

Zaya deu as costas para ele e andou em direção a casa. Brandon a seguiu.

__ e por que você não me deixa?

Ela se virou de repente e o olhou nos olhos ao dizer:

__ eu posso ter concordado em te suportar, mas isso não significa de maneira alguma que somos amigos novamente.

__ então você pode ser amiga dele, mas minha não.

__ sim.

Zaya se virou para entrar na casa, mas foi parada por Brandon que começou:

__ você... Você queria que eu fizesse o que? __ tão baixinho que ela mal escutou.

Ele repetiu, dessa vez alto o bastante para que qualquer um dentro de 10 metros escutasse.

__ Brandon, sinceramente não tem necessidade de..

__ não. Quando minha mãe me levou embora eu tinha 10 anos. Você sabe por que a gente foi? Por que minha mãe tinha câncer. Ela achou que fosse morrer e surtou. Nos mudamos pra lá, onde meus avós moravam, porque ela não suportava mais meu pai. Ela não conseguia ao menos olhar pra ele. Eu nunca soube o porquê. Ela não me deixou falar nem com ele nem com ninguém por anos. Minha única companhia era minha cachorrinha, que morreu quando eu tinha 16. Você acha que foi fácil pra mim? Eu não podia simplesmente fugir, pegar um avião e voltar. Meu pai amava minha mãe e ela ameaçou se matar se ele não deixasse que eu fosse junto. Eu não tive escolha.

Ninguém disse nada por alguns minutos, então ele continuou:

__ eu nunca deixei de pensar em você.

Zaya achou que seu coração fosse parar naquele momento. Eram muitas informações pra absorver e ela...

__ o tempo todo. O que Zaya está fazendo nesse momento? Tudo me lembrava você. Seu sorvete preferido. Sua música. Seus olhos. Eu estava ficando louco. Então... Com 14 anos comecei a te escrever cartas. É claro que eu não cheguei a mandar nenhuma, mas... Você continuava sendo minha melhor amiga. Minha mãe ainda não me deixava falar com ninguém a não ser uns poucos minutos por semana com o meu pai e... Você era como uma válvula de escape.

O clima estava tenso. Ambos estavam exalando emoções, com os olhos marejados e maos ligeiramente tremendo.

__ ela se curou. Um pouco antes de eu ir pra faculdade. Com 18 anos eu já estava conformado com a situação e... Eu não achava que fosse voltar algum dia. No fundo do meu coração eu sonhava com isso, mas sabia que não aconteceria. Então eu... Decidi te deixar no passado.

Zaya encostou na parede. Seu rosto estava molhado mas ela não sentia as lágrimas. Ele havia decidido deixá-la no passado. É claro que era o que ela tinha imaginado que havia acontecido, mas ouvir da boca dele tornava tudo tão mais cruel.

__ eu não te procurei. Não perguntei pro meu pai sobre você. Na minha cabeça seria tão mais doloroso que voltássemos a ser amigos e eu não pudesse voltar pra cá.

Ela não conseguia respirar. Por que ele continuava falando? Ele estava sendo cruel propositalmente?

__ comecei minha faculdade, e os quatro anos que levei pra terminar passaram como 4 dias. Eu não tinha amigos. Não saia. Não bebia. Não fazia absolutamente nada. Parei de escrever pra você. Transformei a culinária em minha válvula de escape. Um dia depois que me formei, minha mãe resolveu se mudar para a Austrália com um cara que conheceu. Ela nem menos me avisou. Cheguei em casa do trabalho e encontrei a carta de despedida em cima da mesa. Nunca mais a vi. Meus avós dependiam de mim então continuei morando com eles e três meses depois eles decidiram que não me queriam mais lá. Foi quando eu voltei.

Zaya estava paralisada. Não sabia o que dizer, não sabia se deveria dizer alguma coisa.

Então não disse nada.

Brandon encostou na parede ao seu lado e juntos eles ficaram ali, fritando o céu e em silêncio.

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