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Gabriel: vinte e sete de novembro no início da noite

Enquanto o Palmeiras fazia a festa, eu parei olhando para a torcida do Flamengo. Alguns parados sem entender, outros xingando, muitos indo embora, mas uma grande parte assim como eu, chorava.

Eu não estava conseguindo controlar. Meus olhos pareceram pequenos pro tanto de água que se encheu neles até escorrer pelo meu rosto. Perdemos. Prendi meu lábio inferior com os dentes e abaixei minha cabeça deixando as lágrimas rolarem.

Perdemos. E como dói.

Eu ainda tinha que receber a medalha, receber o anel, prestar satisfação pra torcida, mas eu não queria nada disso. Eu só quero ver a minha mãe, abraçar o meu pai, ouvir a Dhiovanna dizer que eu sou o amor da vida dela e que tudo vai ficar bem.

Eu só quero sentir o cheiro da Yasmin. Eu só quero fingir que esse dia não tá acontecendo e rasgando tudo dentro do meu peito. Eu só quero me afundar em lençóis brancos com ela e esquecer que o mundo está desabando nas minhas costas.

Eu só quero ficar perto da Yasmin. O mundo que desabe.

Yasmin: vinte e sete de novembro à noite

Meus olhos estavam ardendo tanto que apenas ficar com eles abertos é um sacrifício. - "Perguntei ali e a mulher disse que ele já tá vindo." - Lindalva sentou do meu lado e pegou no meu braço quando disse. Eu assenti e ela me deu um sorrisinho fraco de consolo antes de se juntar com a minha mãe pra conversar.

Ainda bem que essas duas mulheres chegam a ser duas muralhas de tão fortes, por que quando Gabriel chegar aqui ele vai precisar de apoio. 

Logo as portas se abriram e o time veio entrando ao som de uma salva de palmas que as famílias faziam. Localizei Gabriel por último na fila, com as mãos dentro do moletom cinza do Flamengo que costuma usar, e a cabeça baixa.

De alguma forma, meu coração partido encontrou um jeito de doer mais.

Ele parou olhando os jogadores encontrarem as mesas de suas famílias até olhar na nossa direção e vir quase correndo até Lindalva que o esperava de braços abertos. Valdemir abraçou ele por trás e não demorou pra Dhiovanna procurar um lugarzinho no meio da família que se abraçava, e eu fiquei de longe só olhando. Muitos minutos depois quando eles se soltaram, eu continuei parada de pé e ele me puxou pra perto pela mão.

Gabriel escondeu o rosto no meu pescoço e a respiração forte dele batendo ali estava a dois segundos de me causar um longo arrepio. Ele apertou forte os braços no meu quadril me puxando pra que nosso abraço ficasse a cada minuto mais colado e mais apertado.

"Não foi sua culpa, você fez um jogo incrível e um gol que encheu todo mundo de esperança." - Comecei a falar baixinhosó para ele. - "Eu preciso que você saiba que em nenhum momento eu desacreditei de você. Em cada segundo, eu confiei que você ia se sair bem e virar o jogo, ..."

Gabriel me interrompeu. - "Confiou a toa, eu não virei."

"Não é uma confiança cega. Você conquistou." - Ergui a cabeça dele do meu ombro pra fazer questão de olhá-lo nos olhos ao dizer: - "Eu acreditei e confiei em você todos os minutos, e vou continuar assim pra sempre. A sua cria aqui na minha barriga vai morrer de orgulho toda vez que ver alguma coisa sua e esse e o meu maior sonho realizado. Eu queria que o meu bebê tivesse um pai presente e legal, mas você... Você vai extrapolar isso. Você vai ser o maior amor dele, a pessoa favorita dessa criança e quer saber de uma? Por mim tudo bem."

"Você não existe." - Foi a única coisa que ele disse antes de esconder o rosto no meu pescoço de novo.

"Eu acreditei em você todos os minutos, estou feliz com o seu desempenho e no ano que vem eu vou estar com você mais uma vez pra gente levantar essa taça, valeu? A partir de agora, eu sonho com você os seus sonhos." - Eu disse olhando pra lugares isolados do rosto dele e passando as unhas num carinho leve nos limites do boné.

"Você definitivamente não existe." - Apenas dei um sorriso e beijei a lateral do rosto dele na iniciativa de soltar nosso abraço, mas Gabriel me apertou mais forte e apenas se endireitou pra me dar alguns selinhos que logo viraram um beijo. 

>> Pequeno porque nem eu nem voces nao superamos ainda e eu so queria fazer algo que diga 1% do que eu queria ter dito pro meu amor com nome de anjo no ultimo dia vinte e sete.

Procuro Alguém - GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora