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Gabriel: primeiro de maio de dois mil e vinte três; Sarah tem nove meses e meio;

É dia do trabalho, e depois de passarmos boa parte do dia no CT com a Flamília comemorando, agora estamos num jantar na casa de Everton e Marília. Eu estava comendo de olho em Sarah, que engatinhava rápido passando por debaixo da mesa.

"Pega ela, Gab." - Yasmin pediu enquanto ajudava Hanna com alguma coisa no celular. Quando minha filha passou debaixo da minha cadeira, eu disse:

"Vem jantar com o papai, vamo Sarinha?" - Ela me abriu um sorrisinho e se apoiou na cadeira de Flávia do meu lado pra ficar de pé, já estirando os bracinhos pra eu pega-la. - "Vem, sarinha saroca bochechas gorduchas." - Estalei um beijo na bochecha dela que deu uma gargalhadinha e balbuciou um "papapapapapa". - "Fala assim: papai. Pa-pai. Papapa-papai. Papai." - Ela riu de novo e repetiu algumas palavras que ela inventa.

Ajeitei Sarah pra sentar no meu colo e fiquei tentando enganar ela com alguns pedacinhos molinhos do molho da carne, mas ela queria tudo que vinha pro meu garfo.

"Sarinha, olha aqui pra tia." - Flávia chamou pegando na mãozinha da minha filha. - "Fala assim: gu-tinho. Gu-to. O Guto é meu namorado, fala."

"Flávia eu vou te botar pra fora." - Olhei pra ela que deu uma gargalhada alta.

"A casa não é sua, ô perna direita oca." - Fuzilei ela de novo, mas tudo que Flavinha fez foi dar uma gargalhada que Sarah fez questão de acompanhar, ela tá nessa de de vez em quando imitar os adultos. - "Ah, eu tenho que te mostrar uma música!"

"Lá vem merda." - Respondi e Rodinei não segurou uma risada.

Flávia digitou algo no celular, parou a música de criança que tocava numa caixa de som que estava ligada ao Spotify dela, e logo começou uma música que ela me pediu pra prestar atenção atento.

"Não mexe com a filha dos outros, porque você pode ter filha mulher" - Ela começou a cantar junto com a música e eu revirei os olhos, soltando um 'porra, flávia' - "Deus castiga e o mal que você fez vai voltar pra você, a filha de alguém vai te dar uma filha, e a sua filha vai ter que crescer." - Ela brincou de apertar as bochechas de Sarah, mas eu tirei a mão dela que deu uma gargalhada.

"A Sarah não vai fazer nada disso, ela vai crescer mas vai ser nerdola." - Respondi e mais uma vez Rodinei riu do outro lado da mesa.

"Sendo filha tua?" - Minha filha abriu um sorrisinho, e eu tampei os ouvidos dela negando com a cabeça pra Flávia, que do meu lado morria de rir e apontava pra mim e pra Sarah cantando e acompanhando a música:

"Vai crescer e o mundo vai tá diferente, e malandro igual você nesse tempo vai ser bem mais inteligente." - Neguei com a cabeça e trinquei o maxilar respondendo um:

"Já mostrou a música né? Tira essa merda. Bora, Flávia, tira." - Quanto mais eu brigava, mais ela continuava tentando cantar a música em meio as gargalhadas.

"Gab, a Sarah um dia vai namorar!" - Yasmin respondeu rindo também, e eu levante da mesa segurando minha filha no colo e abraçando ela apertado.

"Eu pego o cara e mato! Se sobrar o corpo pro velório é muito!" - Gritei por cima da música, todo mundo na mesa morria de rir mas eu não tava vendo porra de graça nenhuma.

"Esconde teu filho, Marília!" - Flávia gritou por cima do som, Mari negou com a cabeça e Everton pegou Guto no colo, dando risada e gritando:

"É o garanhão! Pelo menos vai ser um conhecido, Gabriel."

"Aí que eu mato mesmo! Vou contratar dez seguranças pra ela." - Respondi me afastando deles que riam ao ponto de mais ninguém na mesa estar comendo.

Procuro Alguém - GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora