Procuro Alguém - Gabigol

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Yasmin: dia dez de dezembro de dois mil e vinte um; meio dia

"Eu vi na Gossip do dia que ele tava na Vittinni ontem." - Minha mãe disse erguendo o olhar do celular por cima do óculos.

"Eu vi também."

"E ele tava com umas meninas daquele programa que o pessoal sai da água, diz que..." - Eu interrompi.

"Que dia que a senhora virou essa fifi, hein dona Nice? Foi só ser promovida a avó que aprendeu a fazer fofoca?"

Ela arqueou as sobrancelhas. - "O teu rolo te irrita e a Nicinha aqui que ouve esporro, garota?"

Suspirei e fechei os olhos: - "Desculpa, mãe. A gravidez tá me deixando irritada."

Ela apenas negou com a cabeça, me deu um beijo na testa e me deixou sozinha na sala com os meus hormônios loucos e uma confusão na minha cabeça.

Horas mais tarde

"Qual que é o seu maior sonho da vida?" - Igão pergunta.

"Mano, é... profissionalmente, eu quero um dia jogar a Copa do Mundo pela seleção. E, pessoalmente, mano eu tenho muita vontade de ser pai." - Gabriel deu um sorriso e um olhar cúmplices de quem sabia que isso vai acontecer.

"Tá ouvindo isso, cria?" - Falei cutucando a minha barriga ainda zerada. - "Tá falando de tu no podpah. É, mas da mamãe aqui, nada, né? Esse teu pai não vale o gol que faz." - Fiz silêncio olhando de volta pra TV, mas não durou muitos segundos. - "Mas você sabe o que eu acho mais ridículo? Que ele fica meu amor pra cá, meu amor pra lá, o time inteiro acha que eu sou mulher dele, ele age como se eu fosse, e aí quando eu descubro esse filho da puta tá beijando o de férias com ex em peso."

Fechei os olhos por alguns segundos mas já olhei pra minha barriga de novo quando me exaltei: - "E você é prova de tudo! Você tava aqui o tempo todo e sabe que eu não tô com papo torto, ele tava mermo agindo mó legalzão e agora tá em São Paulo deixando saliva pra todo lado."

Fechei os olhos com força e desliguei a TV. Burra, burra, burra.

Gabriel: treze de dezembro; de manhã

"Cadê? A Yasmin deu notícia?" - Minha mãe perguntou encostando perto de mim no sofá. Fiz que não com a cabeça e ela semicerrou os olhos: - "Tu aprontou o quê com essa menina?"

"Eu? Eu?! Caralho mãe, tu tem que ficar do meu lado! Fiz nada pra ninguém não."

"Vai mentir pra quem não te conhece, Gabriel. Tu saiu da minha b..." - Interrompi.

"Ê! Ê! Ô! Calmaê, Lindalva."

Ela riu pra mim e eu ri de volta escondendo meu rosto no pescoço da minha mãe. - "Como é que tá a cria?"

"A tia Nicinha disse que tá tudo nos conformes, mano. Que tá tudo igual eu deixei lá."

"Sabe o que é que eu não tô entendendo?" - Meu pai perguntou entrando na sala.

"Hum?" - Murmurei mexendo um pouco o rosto pra olhar pra ele.

"Porque que tu veio e tua mulher ficou lá."

"Ela ficou porque ela não é minha mulher."

"Eu já disse isso pro meu pai, mas ele cismou." - Dhiovanna se meteu descendo as escadas e se jogando no chão do lado do Pitter.

"Mas o que eu não entendo é outra coisa." - Minha mãe pontuou me olhando: - "Se vocês queriam só ter um filho, pra quê que tu foi ficar naquele agarro todo com a menina? Levou até pro Uruguai, foi ela que ficou te consolando. Pra que caralho que tu foi mexer nas família alheia, Gabriel, se tua intenção era ficar com quem tu quisesse agora que tá de férias?"

Fiquei sem palavras.

"E não foi ninguém que me contou não, foi eu quem vi!" - Minha mãe continuou, gesticulando. - "Porque assim, você é a perfeição, meu filho. Você pode ficar sim com quem você quiser, mas tu tava de um jeito com a Yasmin que até eu disse pra família que tava de nora."

"Eita que a senhora também tem uma língua, viu? Vou te contar hein, mano." - Resmunguei desencostando dela.

"Se você não tava querendo um relacionamento com ela e queria só ter o filho mesmo, deviam ter feito inseminação artificial." - Dhiô disse digitando algo no celular. Meus pais começaram a rir e eu acompanhei.

"Ô, Dhiovanna, e tu não conhece o irmão que tem não? Até parece que o Gabriel ia perder a oportunidade de ficar com ela." - Fabinho que eu pensei que estava dormindo no sofá, se mostrou bem acordado quando se meteu.

"Ué, gente. Segurasse esse... dentro das calças, mano. Agora por causa desse negócio de pele aí, tá um emburrado em Santos e a outra emburrada no Rio." - Dhiovanna completou dando de ombros, mas ela também ria.

"Mas eu tô emburrado com razão, ela não." - Cruzei meus braços e me defendi.

"E tu tá emburrado porquê?" - Fabinho perguntou ainda com o rosto amassado na almofada.

"Porque tô sem notícia dela e da cria desde que saí do Rio, só sei o que eu pergunto pra tia Nice. Ela praticamente sumiu do mapa com o meu filho." - Disse óbvio. Eu tô convicto que tenho razão.

"E tu sabe porque ela não tá falando contigo?" - Dhiô perguntou largando o celular em cima da barriga e me olhando.

"Porquê ela é doida?" - Eu disse óbvio mais uma vez, e Dhiovanna negou com a cabeça respondendo:

"Porquê você tava agindo muito amoroso com ela e depois saiu pegando geral. Ela provavelmente tá com medo de se magoar, e quer se afastar pra cumprir apenas com o que era a intenção de vocês: ter um filho. Mas ela não quer ficar falando com você pra não se apegar e se iludir e não se magoar demais." - Passei alguns segundos olhando pra ela em choque.

Nada disso tinha passado pela minha cabeça.