Clarke Luthor Zor-El | Point of View
— Ela está mentindo! – A sua voz amedrontada soou por todo o lugar e eu à encarei sem nenhuma expressão.
Izabela era uma brisa do inverno que vinha tão de repente e causava calafrios em minha pele, tudo isso enquanto eu era humana. Ela me causava sensações diferentes, emoções diferentes porém nenhum sentimento forte o bastante para que conduzisse minha mente maleável para aquela cama de gato que ela tentava esconder de todos. Mas como esconder coisas de pessoas que podiam prever o futuro, ler mentes e manipular pessoas e suas vontades?
— Izabela, por quais razões Lorelai mentiria para mim? – Questionei.
— Elas querem nos afastar e... – Suspendi o dedo, pedindo silêncio.
— Se você gosta de mim, não venha me ensinar a comer pelas bordas. – Interrompi suas palavras e ela ficou em silêncio para me ouvir. Embora eu falasse muito, me privava de usar as merecidas palavras. — Não me jogue âncoras disfarçadas de boias, porque eu já sei construir minhas próprias ilhas. Não me resgate da minha situação de náufrago, da minha ambição de alcançar as estrelas e tocar a linha do horizonte, porque mesmo que eu morra afogada será num oceano de doçura.
— Clarkie, nós podemos fazer qualquer coisa juntas e...
— Não te dou mais a liberdade de trazer esses olhos nublados que já não sabem precipitar e se perder no espaço abstrato dos sentidos. – Continuei recitando aquele texto que havia decorado enquanto Lexa dormia. — Vou ignorar essa finco entre os seus olhos cavado pelas velhas verdades do mundo, já não te faço companhia nesse realismo sensato e chato. Porque acho que as almas apodrecem de tão maduras que a sua é. – Tudo estava silêncio em minha volta. O único ruído que eu ouvia era o bater apressado do sangue de Lexa em suas veias e o leve batuque do seu coração. — E é de olhos abertos que eu escolho o intenso ao cuidadoso. – Apertei firme nas mãos da minha melhor amiga passando toda a paz que a minha alma exalava. — É nessa mesma pele que se esfola, que nascem e se preservam os arrepios. E eu continuo preferindo ser pele do que armadura...
Foi então que enquanto todos à nossa volta demonstravam raiva e preocupação, eu sorri demonstrando que tudo estava bem e que Izabela não tinha tanta influência em minha vida, como eu gostava de permitir que ela acreditasse nisso e me virei dando total atenção para a única que realmente merecia ali: Lexa.
— Se for entrar, esqueça as preocupações, os conselhos e os medos do lado de fora, pois aqui se tornam inúteis os curativos, os salva-vidas, as capas de chuva, as tesouras de podar galhos excedentes, as pílulas, os olhos de piedade, os alfinetes e as fitas métricas. – Haviam algumas lágrimas naqueles verdes tão brilhantes e foi quando senti saudades de possuir os meus antigos azuis. — Pois o que busco saber e sentir está além do mensurável, do visível e da dor. É que eu já aprendi a me libertar e a única coisa que me prende são asas. Então, eu vou repetir, quer se casar comigo?
Ela sorriu e então eu ganhei vida. Era como se eu fosse humana, que sente o calor em meu peito, que sente a brisa da primavera arrepiar meu corpo, que sente as bochechas corarem sempre que Lexa olha para mim.
Era amor e sempre tinha sido, o mais genuíno deles. Me lembrei, mais uma vez... Mas tudo passou quando ouvi as palavras da única pessoa que gostaria que ficasse em silêncio.
— Quando foi que deixamos de ser uma boa dupla? – Lori resmungou com as palavras de Izabela. — Em que momento paramos de nos encontrar, não, melhor, em que momento paramos de fazer questão de nos encontrar? Éramos a dupla dinâmica, vivíamos juntas, as pessoas gostavam de como nós combinávamos, nós também costumávamos gostar mas de repente isso desapareceu. Se você revisitar suas lembranças de um tempo atrás, encontrará seu nome junto do meu em vários casos, há o seu rosto nos meus álbuns de fotografia, nós realmente acontecemos. Mas parece que desacontecemos também, mas quando? Por que? E por que não fizemos nada pra mudar isso? – Seus olhos imploravam por coisas que eu não conseguia ler. — Sinceramente eu não sei, quando vi já estávamos separadas, quando vi já não caminhávamos mais na floresta pra observar a lua refletindo no céu, quando vi já não frequentávamos mais aqueles lugares com música ao vivo nem combinávamos mais de ir naquele parque de diversões, quando vi, nós não nos víamos mais. Em algum momento o nosso caminho ficou tão diferente que agora estamos distantes demais uma da outra pra qualquer coisa. E o que mais me dói nisso tudo é não saber se você sente tanta falta disso quanto eu sinto. – Talvez ela estivesse falando a verdade ou simplesmente tivesse a noção de que não passaria daquele dia e soubesse que precisava usar de suas apelações para que eu tivesse um pouco de misericórdia. — Eles estão usando você. Só porque alguém diz que algo é verdade, não significa que seja. Mesmo se quiser acreditar neles. Mesmo se continuar a acreditar neles. Mesmo se eles acreditarem nisso. No final, tem que admitir que estão mentindo e mudar seu caminho, porque as pessoas nunca mudam. Elas só escondem coisas e te decepcionam, repetidas vezes. Muitas crianças aprendem isso cedo. E então, você tem de decidir, eu fico ou mudo o meu caminho? Ainda pode mudar isso.
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A Primeira Eterna - Livro 3 - Um Conto a Parte / Karlena
FanficDepois de muito tempo sozinhas, Kara e Lena decidem adotar uma nova criança, porém sabemos que não é fácil ter um humano entre vampiros e por isso resolvem se manter longe e tentam dar uma vida normal a humaninha chamada Clarke. Muitos anos depois...