Dois

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2 de abril. Finalmente esse dia tinha chegado. Háexatos 6 meses eu decidi mudar minha vida, mas não imaginava que o processoseria tão doloroso. Contava os dias para hoje e finalmente chegou. Eu estava livre. Não tinha pra onde ir, não tinha emprego, não tinha casa, não tinha família, basicamente não tinha nada. Mas me sentia livre e limpa para recomeçar.

A única coisa que eu tinha era o nome do médico que me ajudou há seis meses atrás. O nome e o endereço do posto de saúde que ele trabalhava. Na verdade, eu não tinha ideia de como chegar lá. O posto era em Ouro Preto e eu estava em Belo Horizonte. Mas essa era a minha esperança. E eu sentia que ele poderia mesmo me ajudar. Ele já tinha me ajudado tanto, mas a forma que me falou para procura-lo quando saísse fez com que eu realmente acreditasse que ele me ajudaria mais.

- Juliette? Vamos?

Meu coração errou a batida quando me chamaram. Peguei minha mochila, que não tinha quase nada e olhei pra trás uma última vez. Esperava nunca mais ter que pisar ali.

- Vamos! – Falei sorrindo.

Quando estávamos quase no portão ela me parou.

- Toma! Pediram pra te entregar isso, use com sabedoria. – Falou sorrindo enquanto me entregava uma nota de 50 reais.

- Quem pediu? – Perguntei desconfiada.

- Não vem ao caso. Mas faça um bom uso. E te desejo sorte e responsabilidade, tá? Fica bem! – Me deu um abraço rápido e acenou pro porteiro para me liberar, já virando as costas para voltar.

Caminhei até a portão e saí. Finalmente!

Bom, as coisas já tinham começado a melhorar um pouco. Agora pelo menos eu tinha 50 reais. E com certeza iria gastá-los comprando uma passagem pra Ouro Preto, acho que seria suficiente. Fui caminhando até a rodoviária. Quase 30 minutos de caminhada. Mas não valia a pena gastar com táxi nesse momento.

Chegando lá, comprei a passagem e ainda me sobraram 15 reais. Se desse tudo errado lá, não teria como voltar, mas também não tinha motivos para voltar. E não queria pensar nessa possibilidade.

O ônibus sairia às 14:30, faltava meia hora ainda. Sentei e aguardei enquanto observava as pessoas passando. Quando saí de casa, imaginava que em três anos estaria estudando e com um emprego legalzinho, que pelo menos pagasse minhas contas. Mas as rasteiras que a vida me deu e as péssimas escolhas que fiz, me levaram para essa situação em que estou.

Eu não queria me lamentar e achar culpados. Eu sabia que a maior culpada era eu e que a única pessoa que podia mudar meu destino, era eu também. E eu prometo, prometo por mim e por você, minha mãe, que tá me olhando aí de cima, que farei de tudo para me tornar alguém melhor. Sei que a vida me deu uma segunda chance e eu não vou desperdiçar.

*****

Duas horas depois estava desembarcando em Ouro Preto. Perguntei pra um funcionário da rodoviária como chegava no posto de saúde de São Cristóvão.

- Olha, de carro não é longe não, mas a pé você vai levar quase 1 hora. Tem morro demais no caminho. Se eu fosse você pegava um moto táxi que em 10 minutos tá lá.

Agradeci e fui na direção que ele apontou. Demorar uma hora para chegar lá ou gastar mais um pouco do pouco dinheiro que eu tinha? Considerando que já passava das 16 horas e que o posto não devia funcionar muito mais que isso, resolvi pegar um moto táxi.

Cheguei lá e estava quase fechando. Entrei e falei pra atendente que precisava falar com o Dr. Gilberto. Não lembrava o sobrenome dele. As únicas coisas que lembrava eram: Gilberto, posto de saúde de São Cristóvão, Ouro Preto.

Destino - Au SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora