Tecelagem 02 - Base Flor-de-Lis

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O toque de recolher se aproximava e com ele a despedida. Depois que a Tecelã havia ido embora da sua casa e lhe informando que seria levada pela manhã do dia seguinte, Chloe enviou uma mensagem para Rafael. Não demorou muito para ele aparecer ali. Estavam sentados no meio fio da calçada fitando a rua vazia, e as pétalas de flores caídas pela rua. Não haviam dito muito um para o outro, apenas o básico e ficavam repetindo o tempo todo "que merda", tava difícil de se expressar, era certo que dificilmente se veriam tão cedo.

— Espero que você seja a cor de rosa — disse Rafael a encarando, ela o encarou de volta com uma expressão de confusão. Ele riu e explicou: — Sabe, as Tecelãs parecem garotas mágicas, cada uma tem uma cor, se transformam e lutam contra monstros.

— Aaaah! — Disse ela alongando a expressão como se finalmente tivesse entendido.

Ela sabia o que eram garotas mágicas, quando mais nova gostava de assistir na TV, mas com o tempo parou de se importar tanto. Rafael no entanto adora todo tipo de animação, desde as mais infantis até as mais adultas, isso se refletia na sua arte que era fantástica.

— Essa sua expressão é de quem não entendeu.

— Claro que eu entendi, mas por que quer que eu seja a cor de rosa?

— Normalmente essa é a cor da protagonista — ele piscou, — então seria bom se você tivesse essa cor.

— Se eu puder escolher a cor então será essa, eu adoro essa cor mesmo — ela sorriu.

Ele pegou o celular e tirou uma foto dela, Chloe fez cara feia depois de perceber o que houve.

— Preciso lembrar corretamente da sua face, quero fazer um novo desenho seu.

— Meu rosto é tão esquecível assim que você precisa tirar uma nova foto? Eu tenho várias no meu Photo-G.

— Não é esquecível, mas eu queria uma desse momento, quem sabe dessa vez eu coloco seu rosto no retrato da Mona Lisa.

— Certo, Da Vinci, quero uma obra de arte maravilhosa então — disse com sarcasmo.

Riram e logo o riso morreu. Ela começou a cantar baixinho uma música que ele gostava e o engraçado dessa música era a palavra Mona Lisa nela, na letra falava que havia encontrado sua Mona Lisa há muito tempo. Logo ele começou a murmurar junto com ela.

Uma sirene tocou, era o primeiro aviso do toque de recolher. Rafael ficou em pé e antes que ele pudesse fazer qualquer movimento Chloe o abraçou, mesmo surpreso ele retribuiu o abraço. Era o seu melhor amigo, tão gentil e atencioso, doía ter que se separar dele assim.

— Se voltarmos a nos ver — disse ele, — vou te contar um segredo.

— Por que não me conta agora?

— Conto quando nos revermos.

Sabia que não adiantava discutir com ele, às vezes era mais teimoso do que ela.

— Tome cuidado, não seja tão fechada e tente se enturmar com as outras garotas. Sei que tem um fraco em ajudar pessoas tristes, mas quando se trata de você aí problema fica mais sério. Lembre-se união e amizade é o básico de uma garota mágica.

Ela deu outra risada.

— Vou fazer o que puder — prometeu.

Quando por fim ele se foi, acompanhou com o olhar cheio de lágrimas até ele desaparecer na esquina. Ao voltar para dentro de casa passou o resto da noite com os pais. Sua mãe tentou ver as coisas por um lado mais positivo, mesmo com lágrimas no rosto. Não conseguiu dormir direito, se revirava na cama hora tendo pesadelos, hora fitando o teto tentando não pensar em nada.

O Jardim das TecelãsOnde histórias criam vida. Descubra agora