No necrotério da base Flor-de-Lis, Dorothy suspirou em um tom alto, havia chegado tarde e o corpo do general Borsalino já havia sido levado, antecipando essa possibilidade,requisitou que Laeticia fosse com Manuela investigar antes dele ser levado, mas é claro, ela queria pessoalmente investigar e quem sabe tentar extrair informações do próprio cérebro daquele homem, não que fosse uma tarefa que sempre desse certo, algumas vezes ela conseguiu fragmentos, outra apenas nada, mas sua técnica estava melhorando e precisava testar toda vez que uma cobaia em potencial surgisse.
— E então — disse Dorothy sentando em uma cadeira, — o que encontraram?
Manuela deu um sorrisinho e falou:
— Encontramos apenas isso aqui — entregou para Dorothy um papel, um cupom de compras e na parte de trás dele havia sido anotado um número. — Encontrei isso no bolso de trás da calça e parece que ele anotou com pressa e simplesmente guardou aí.
— Isso parece coordenadas — disse Dorothy olhando para os números.
— E são — respondeu Laeticia, — chequei e encontrei uma instalação abandonada da Mundisalus. Quer ir lá conferir?
— Sim, mas não tem como eu ir pessoalmente no momento. Isso vai ficar com a Mikoto, a Samira e você.
— Entendido.
— E mais uma coisa, não mencionem isso para a V, ela tá de castigo e se escutar que possivelmente encontramos algo ela vai ir no mesmo instante.
Manuela e Laeticia se olharam e deram risada antes de concordar com Dorothy.
— Além disso — continuou Dorothy enquanto rasgava o papel e entregava para Laeticia queimar, — os chefões mencionaram a IDVE.
— E o que é isso? — Perguntou Manuela terminando de ajeitar as coisas no necrotério. A pessoa responsável pelo lugar concordou em deixar Manuela cuidar das coisas relacionadas ao corpo do general antes dos agentes do governos chegarem e levá-lo.
— A Igreja do Deus Vindo do Espaço — respondeu Laeticia, — um grupo de pessoas que ainda não sabemos quem lidera e que causa problemas demais ajudando a espalhar a doença
— Eu já tinha ouvido algo assim antes de pedir para ficar na base e parar de ir para a linha de frente — suspirou, — além do problema dos Kankros temos pessoas trabalhando para que o mundo acabe de uma vez.
— Eles foram responsáveis pelo fim de todas as pessoas que viviam na Indonésia — disse Dorothy, — ao reproduzir o que aconteceu em Seul na Coreia do Sul, quando a mesma se tornou completamente tomada por Kankros e jogaram uma bomba atômica lá.
— Esse é o caso do Kankro gigante, certo?
— Sim, só que os membros da IDVE fizeram versões menores utilizando as duas usinas nucleares da Malásia.
— Como se Kankros normais já não fosse problema, criaram novas aberrações, só que agora radioativas — disse Laeticia ficando atrás da cadeira de Dorothy.
Manuela ficou com um olhar distante e agarrou os próprios braços.
— Vocês acham que eles vão fazer o mesmo nesse país? — Ela perguntou apreensiva.
— Eu espero que não — disse Dorothy ficando em pé, — por isso temos que investigar e ficar de olho em qualquer coisa que surgir.*
As mãos de Sami não paravam de suar e seu coração estava disparado, limpava as mão suadas no uniforme e depois colocava o cabelo alaranjado atrás da orelha. Era impossível conter o nervosismo e Miko ao seu lado ficava olhando para ela com aquela expressão de desinteresse de sempre. Sami tentou formar uma frase e gaguejou sem conseguir dizer algo de verdade.
— Você deveria tomar mais alguns comprimidos para ansiedade — disse Miko.
— Vo-vo-vo-vo-vo-vo-vo-você a-a-a-a-a-a-acha?
— Claro que sim, sei que está ansiosa demais para conhecer a Norna do sangue e isso requer um melhor preparo.
Sami enxugou as mãos novamente no uniforme e tentou pensar em como seria um bom preparo para conhecer Chloe.
Estavam no corredor do hospital da base e durante muito tempo juntava coragem para abrir a porta do quarto e ver como Chloe estava. Após a reunião com os membros da alta cúpula da Mundisalus, Chloe havia voltado para o quarto do hospital, a dra. Dorothy queria fazer novas checagens nela, mas não sabia quando isso iria acontecer, por isso Sami queria aproveitar e se apresentar para a Norna do sangue e dar boas vindas ao Esquadrão Zero. Entretanto, dezenas de pensamento se empilhavam em sua mente e um era pior que o outro.
Soube toda a história de Chloe ao conversar com Lavinia. Baixa taxa de compatibilidade com as células Sc, metamorfose, encontro com um Pastor que dizimou seu esquadrão e amigas, a morte dos pais e do namorado junto da cidade onde cresceu.
A dor que Chloe sentia era imensa, não que Sami não tivesse seus próprios problemas, mas ela já os superou há um bom tempo, por isso queria fazer algo por Chloe, assim como fizeram por ela. O pensamento de que estava se intrometendo a torturava e logo suas entranhas doeram que a fizeram se dobrar para frente.
— Eu disse para tomar mais comprimidos — Miko abriu a bolsa e tirou uma cartela e uma garrafa de água.
Sami aceitou e tomou um comprimido junto de um gole de água. Após isso notou Laeticia se aproximando delas.
— Meninas — disse ela, — a doutora nos deu uma missão.
— Agora? — Sami perguntou rapidamente e olhou para a porta do quarto da Chloe.
— Sim, agora — Laeticia notou o olhar da companheira, — quando voltarmos você vai ter tempo para falar com ela.
Sami assentiu e levantou da cadeira e Miko fez o mesmo. Sempre quando as três iam em missão sozinhas, elas decidiam na sorte quem seria a líder e naquele momento Sami não queria ser líder de nada e Miko como sempre tava desinteressada.
— É algo muito complicado? — Perguntou Sami.
— Talvez — Laeticia disse de forma vaga e aquilo significava que não deviam falar mais nada ali.
No heliporto embarcaram em um aeronave após se apresentarem para o pessoal que tomava conta delas. Miko assumiu os controles e seguiu para a localização que Laeticia passou.
A garota de cabelos verdes se espreguiçou antes de começar a falar, Sami sempre sentia-se calma perto da amiga, a voz dela, o rosto fofo e seus maneirismo sempre pareciam deixar o clima mais leve.
— Certo — disse Laeticia, — Manu e eu encontramos algo nessas coordenadas, é uma antiga base da Mundisalus e pode ser que tenham algo da IDVE.
Sami sentiu uma repentina repulsa e enorme vontade de voltar para a base, apertou os punhos e cerrou os dentes, não gostava de lidar com aquelas pessoas, toda vez que bateram de frente com aqueles lunáticos ela era obrigada a se defender e matar, ainda mais que muitos deles já apresentavam as mudanças causadas pelo tumor pestilento. Certa vez encontrou um grupo rezando para um Pastor que tinha uma forma semelhante a um pneu e por algum motivo aquela coisa não os atacava, só despertou quando as três se aproximaram e ele acabou dando problemas para eliminar, ainda mais com os fanáticos atacando elas e vários deles se tornando em kankros de uma hora para outra por conta da presença do Pastor.
Miko suspirou e disse:
— Aqueles malucos novamente?
— Parece que o Presidente Borsalino pode ter alguma relação com eles.
— Isso explicaria muita coisa.
— Só que precisamos de provas para acusar e tentar pressionar os demais líderes da câmara do governo brasileiro a liberar informações, isso é claro, se não quiserem parecer mais suspeitos do que já são.
Logo chegaram a uma área que oferecia um bom local para pouso.
— Tem dois pastores na frente daquele local — disse Sami, — vamos nos esgueirar ou bater de frente?
— Primeiro precisamos nos certificar de dar uma boa olhada lá dentro, após isso podem ser abatidos.
Miko assentiu e em seguida respirou fundo e usou sua habilidade única o desvanecedor de presença, ela consegue fazer desaparecer da percepção de qualquer tipo de ser a presença de quem ela quiser, por isso o trio seguiu passando pelos Pastores sem serem notadas. Sami poderia atacá-los naquele momento e infligir um dano sério, mas era certo que iriam começar a atacar para todos os lados quando percebessem que não tinha ninguém ali e isso seria problemático e receberia um sermão da Laeticia.
Notou a forma desses dois pastores, um deles era um rato preto e gigante, tinha saliências em sua cintura e pernas que vagamente lembrava um calção, também possuía um número muito grande de caudas e parecia que muitas versões menores dele estavam agarradas nelas, asas saiam pelos seus olhos. O outro lembrava um prisma hexagonal de cor branca, ele flutuava no ar enquanto seu corpo girava e pequenos fragmentos circulavam ao seu redor, haviam olhos em todo o corpo, e apenas em dois deles pequenas asas surgiam, aquilo era a marca registrada de um Pastor, poderia ter a forma que for, desde que tenha asas saindo pelos olhos é considerado um Pastor.
Adentraram a instalação e a doença estava espalhada por todos os lados, parecia recente e haviam símbolos pichados nas paredes, o símbolo da IDVE.
— Se-será que v-vamos encontrar a-algo? — Sami perguntou apreensiva, se matinha o mais próximo de Miko, não queria ficar fora da área da habilidade dela.
— Com sorte encontraremos algo útil — disse Laeticia andando tranquilamente como se fosse apenas um ida ao shopping.
Kankros vagavam pelo lugar e alguns ainda estavam com trapos de roupas em seus corpos.
— Se o Presidente possuía alguma ligação com a IDVE, então devem ter abandonado esse local às pressas, nós virmos aqui talvez estivesse nos calculos deles — disse Miko.
— Isso explicaria os dois Pastores na entrada — disse Laeticia vasculhando com o olhar as poucas placas ainda avista no corredor, — a presença de um Pastor acelera o avanço da doença e com dois ali o avanço se torna maior.
— Ca-cada vez mais sinto que o Presidente está en-envolvido — disse Sami.
— A Doutora também pensa assim — Laeticia parou e apontou para uma porta. — Ali.
Havia um Kankro usando os restos de um jaleco e em seu pescoço havia um cordão com um crachá de funcionário, ele estava parado olhando para a porta.
Miko puxou um osso que surgiu da lateral da sua cintura e ele foi tomando a forma de uma katana, aquele era o seu Tear. Avançou e cortou a cabeça do Kankro e apanhou o crachá entregando para Laeticia.
De posse do objeto, a Tecelã de cabelos verdes limpou um local na porta e passou o objeto ali.
— Não era mais fácil ter cortado a p-p-porta ao m-meio? — Perguntou Sami a seguindo para dentro da sala.
— Claro que não, enquanto eu fico aqui vasculhando o que restou do sistema vocês podem cuidar dos Pastores, mas não façam muita bagunça, eu vou precisar de tempo para agir.
— E o que a porta tem a ver com isso?
Laeticia sorriu.
— Oras, a porta serve de barreira para os Kankros não me verem, não vou ter a Miko para me deixar oculta, então qualquer coisa que possa atrasar o incômodo que eles seriam enquanto eu faço meu trabalho é bem vindo.
— Ah! Faz sentido — Sami concordou.
— Certo — disse Miko, — hora de irmos lá dar um jeito neles.
— T-tem certeza q-q-que quer que e-eu vá?
— Sim, precisamos tirar eles de perto da instalação, se eu tentar fazer sozinha vai dar errado, você me conhece bem.
— É só que…
Miko se aproximou e a abraçou. Aquela garota de cabelos azuis era sempre indiferente com tudo, o sentimento que a dominava fazia parecer que ela não se importava com nada. Mas não significava que não haviam outros ali lutando para aflorar nela, principalmente um que ligava as duas.
— Tome mais alguns comprimidos — Miko tirou da bolsa e colocou na mão dela junto da garrafa com água.
Sami colocou na boca os comprimidos e os empurrou para dentro com ajuda da água. Após isso Miko cobriu as duas com sua habilidade e seguiram para onde os Pastores estavam, determinaram um local para irem e atrair os dois para longe da instalação.
— Preciso que você atire duas flechas — disse Miko, — uma na cabeça daquele com forma de rato e outra em direção aquele monte de rochas próximo daquele com forma de prisma, e então uma terceira que o leve para mais longe.
Sami assentiu e um osso surgiu de suas costas e quando ela puxou ele tornou-se um arco, aquele era seu Tear, um arco sem corda e sem flechas.
— Tecelagem de sangue — disse Sami segurando o arco e apontando na direção dos dois Pastores. Uma corda de sangue surgiu e ela a retesou em seguida uma flecha surgiu ali — Flecha Sangrenta.
Uma flecha foi disparada, depois outra e por fim a última. Sami não precisava mirar apenas escolher o lugar onde queria acertar e então sua Habilidade Única Acerto Garantido faria o resto.
E tudo ocorreu como planejaram, cada Pastor seguiu para um lado assim ficando distantes um do outro. Sami ficou escondida enquanto Miko apareceu na frente daquele com forma de rato e o atraiu para mais longe.
Kankros começaram a aparecer, era óbvio que aqueles estavam sob o domínio daquele Pastor.
Miko começou a destroçar um a um com sua katana e quando a quantidade ficou maior ela usou sua Tecelagem.
— Tecelagem de Ossos — disse ela apontando a katana para frente, — Espadas de Ossos.
Várias espadas surgiram ao seu redor, ela pegou uma delas para usar como uma segunda lâmina. Enquanto desfere ataques com as duas espadas em punhos as demais eram disparadas como projéteis à medida que ela as ia criando.
Sami sabia que a companheira gostava de matar Kankros, muito antes de ser Tecelã ela já havia matado.
Mikoto Fuyu, uma garota japonesa, em especial a neta de um mafioso de Nova Tokyo. Ela havia sido instruída em esgrima e defesa corporal desde muito nova, aos quatorze anos matou a primeira pessoa com uma facada no pescoço e mais tarde foi obrigada a ir para a base de Nova Tokyo. Diferente do Brasil que as bases ficam longe, no Japão elas ficam integradas às Cidades Refúgio. O governo havia determinado que se o clã Fuyu não enviasse a garota então eles seriam exterminados, havia uma relação entre o clã e o governo, os Fuyu sempre faziam o trabalho sujo para eles.
Na base, quarenta garotas como novas recrutas, treinamento, risada e companheirismo por parte delas e um grande patriotismo por parte dos militares que deixavam bem claro a elas que deveriam fazer aquilo pelo país e não por elas mesmas.
Quando o treinamento completou, o grupo foi dividido em quatro grupos de dez e cada um foi levado para um local diferente. O grupo de Mikoto foi levado para uma arena subterrânea e sua melhor amiga, Saki Kaori, estava junto com ela.
Nas arquibancadas pessoas bem vestidas observam elas que ficaram nervosas, não entendiam o que estava acontecendo.
Uma voz anunciou nos autofalantes que o Japão possuía as melhores Tecelãs do mundo e por isso não admitiriam falhas em seus números, apenas as melhores se tornaram verdadeiras Tecelãs japonesas.
O mundo virou de cabeça para baixo com o anúncio que veio a seguir, elas deveriam lutar até a morte e apenas uma restaria.
Miko era considerada a melhor das quarenta garotas, um gênio que nunca tinha aparecido antes. Ela recusou a lutar, não fazia sentido que elas se matassem apenas para uma ser escolhida. Medo, pavor e desespero eram visíveis no rosto de cada uma.
Outro anúncio foi feito e quem se recusasse a lutar iria ser morto pela Tecelã de elite que apareceu e ficou na borda da arena.
Uma garota tentou fugir e foi morta pela Tecelã de elite e por conta disso o medo fez com que elas começassem a matar umas as outras.
Miko assistia aquilo incrédula e por ser quem era pressentiu o perigo pelas costas. Se esquivou da espada da Tecelã de Elite e sacou a sua lâmina. Esquivou e defendeu enquanto esbravejava com ela, mas sua inimiga não se importava, parecia disposta a seguir as ordens a qualquer custo e por conta disso Miko partiu para o ataque, não que tenha sentido alguma dificuldade, foi simples para ela deixar a Tecelã de Elite dividida ao meio com um golpe do seu Tear.
No fim percebeu que apenas ela e sua melhor amiga, Saki, estavam vivas. Saki olhava para ela com o rosto sujo de sangue que se misturava às lágrimas.
Naquele momento Miko sentiu raiva e dor. Saltou para longe dela e usou sua tecelagem para matar todas aquelas pessoas bem vestidas e em seguida fugiu, não seria simples pegá-la.
O único lugar que poderia buscar ajuda era na casa do seu avô. Sua família lhe deu refúgio a escondendo da melhor forma possível. A base estava o tempo todo de olho na casa dos Fuyu, por isso Miko ficava mudando de esconderijos que poucas pessoas da família conheciam, assim conseguindo ficar longe dos olhos mais atentos da Base.
Nesse tempo ajudou nos trabalhos da família se tornando uma assassina implacável. Em vários momentos confrontou outras Tecelãs enviadas para matá-la.
A Oni Azul, era como a chamavam no submundo do crime e o nome que as outras Tecelãs que a caçavam lhe atribuíam. Miko por várias vezes se deparou com Saki, ela sabia que a amiga nunca se livraria daquele destino e algumas vezes enquanto trocavam golpes de espada, ela a convidou para se juntar a ela, mas Saki tinha família como refém e não poderia fazer aquilo. No final Miko sempre fugia dela.
Porém o que ela não imaginava era que várias máfias tinham se unido para destruir a sua família. Era óbvio que a Base estava por trás disso, em um dia que Miko estava ocupada fugindo de um grupo de Tecelãs, a destruição da sua família aconteceu.
Sem lar, foi embora de Nova Tokyo e passou a vagar entre as cidades destruídas e os excluídos que tentavam sobreviver em seus escombros.
Mas isso pouco importava para a Base que queria ver ela morta. Um sentimento de indiferença começou a engolir o seu ser, o sentimento que teve mais ênfase naquele momento e que Miko passou sempre a senti-lo e mais tarde passaria a lutar contra ele.
A Base começou a ter problemas com Miko, ela parecia imparável e com o despertar da sua habilidade única, ninguém a achava e ela sempre estava pronta para eliminar quem quer que fosse. Saki havia percebido que Miko a mataria se ela desse um passo em falso, sua amiga estava no limite que ainda a fazia humana.
Até que um dia Miko ficou de frente com uma Tecelã que possuía uma imponência que jamais tinha visto antes. O sorriso no rosto da Tecelã de cabelos vermelhos era uma mistura de arrogância e divertimento. Aquela Tecelã possuía dois Fuso em sua cabeça, aquela era uma Norna.
Um sentimento de devoção surgiu em Miko, aquilo era estranho, nenhuma Tecelã lhe fez sentir aquilo. Afastou aquele sentimento estranho e se colocou em pose de combate, não importava quem ela fosse, Miko iria lutar e continuar vivendo, pois era tudo que tinha, tudo que lhe restou a fazer.
Miko foi derrotada. Estava caída e sangrando sem seus dois braços que foram decepados pela Norna de cabelos vermelhos, um monstro em pele de garota.
— Isso foi muito divertido — disse a Norna sentando ao lado dela, seu sorriso parecia diferente, aquele era um sorriso de satisfação.
— Pode me matar — disse Miko olhando para o céu nebuloso.
— Am? Eu não vou te matar — ela levantou uma sobrancelha enquanto franzia a testa.
— Não? — O sentimento de indiferença fez com que Miko sentisse nada, poderia ser só uma piada daquela garota de cabelos vermelhos e portanto não precisava reagir de forma surpresa.
— Claro que não, não tem motivos para eu matar uma das minhas irmãzinhas — a Norna pegou Miko nos braços e começou a se mover rapidamente com ela.
Os olhos de Miko se encheram de lágrimas, não entendia onde aquele sentimento, que fez seus olhos ficarem molhados, havia se escondido, mas parecia ter voltado na hora certa.
— Se você não me matar — disse Miko, — outras irão.
— Não vão não. Quero você no esquadrão zero e não se preocupe, tudo dará certo. Confie em mim.
Miko recebeu cuidados da Dra. Dorothy Jung Shiroyama e ficou sob supervisão de Laeticia enquanto os trâmites para ela ingressar no esquadrão zero eram concluídos.
Era uma criminosa e queriam ela morta de todo jeito. Mas V e a Dra. Dorothy intercederam junto da Mundisalus e fizeram um acordo com o Japão. Miko foi exilada do seu país de origem e nunca mais botaria os pés naquele lugar.
Conseguiu se despedir de Saki e ter uma conversa com ela pela última vez. Um ano depois viria a descobrir que Saki havia morrido em uma missão.*
Sami observou a companheira cortando um Kankro após o outro. Eles não eram páreos para a Mestre das Lâminas, a Oni Azul. Eles caiam facilmente mediante aos seus movimentos, para Sami ninguém lutava de forma mais bela que Miko, a vestimenta de carne em forma de quimono em tons azuis, a saia que rodopiava quando ela girava e o cabelo preso em rabo de cavalo que se movia como se fosse de seda.
O Pastor então criou ratos que emergiram de sua cauda e fundiu eles aos Kankros que lutavam contra Miko, os monstros agora recebiam um reforço como se estivessem usando armaduras.
— Tecelagem de Ossos — disse Mikoto, — Braços de Esqueleto.
Sua segunda Tecelagem lhe conferia criar braços de esqueleto, a quantidade e tamanho era de acordo com a vontade dela, por isso ela criou dois enormes braços e cada um deles empunhou uma lâmina criada pela primeira Tecelagem, agora o seu alcance era maior.
Os braços ficavam um de cada lado do seu corpo, vários centímetros longe dela e se moviam conforme a sua vontade. Dúzias de Kankros eram feitas em pedaços enquanto os braços atacavam e qualquer um que fugisse dos golpes e fosse em direção a ela era morto pelas espadas em suas mãos.
Miko parecia uma tempestade se movendo e causando destruição. Sami sabia o quanto a companheira se dedicou a aprimorar suas técnicas e Tecelagem, manipular mais dois pares de braços era complicado, entretanto Miko era um gênio.
Mesmo aqueles Kankros estando aprimorados por intermédio do Pastor, eles não resistiam às lâminas de Miko e um a um caíram e nesse momentos Sami notava que Miko se divertia assim como acontecia com V.
De repente o segundo Pastor muda de forma e dispara uma chuva de projéteis de sangue cristalizado contra Sami que foge do local antes de ser atingido, o Pastor percebeu o truque facilmente encontrou Sami.
Sentido a batalha que seu companheiro Pastor estava travando, o segundo Pastor se aproximou dele.
Sami subiu em outro grupo de rochas e Laeticia apareceu próxima a ela.
— Ainda estão brincando? — Disse a garota de cabelos verdes.
— Posso destruir a instalação no processo? — Perguntou Miko ficando próxima das duas.
— Claro, eu já peguei tudo que havia restado.
Sami arregalou os olhos quando viu Miko sorrir, ela sabia o que viria, a companheira gostava de usar força absoluta para esmagar Pastores.
Miko saiu de perto das duas e atraiu a atenção de ambos os Pastores.
— Amplificação do Tear — disse ela.
Sua katana se tornou uma Odachi e uma armadura de carne surgiu em seu corpo cobrindo todo ele. A armadura lembrava a de um samurai e em sua face estava uma máscara de oni. O fuso saia pelo elmo lhe dando ainda mais uma aparência demoníaca.
— Tecelagem de Ossos, Oni Gashadokuro.
Um enorme esqueleto com a face de um Oni se formou ao redor dela portando uma enorme espada.
Miko moveu sua espada e o esqueleto gigante golpeou, sua força era tamanha que destrinchava todos em seu caminho, os golpes continuam e nada restou dos dois Pastores.
Logo Miko desfaz sua Tecelagem e sua amplificação, assim voltando às vestes padrão.
— Exagerada — disse Sami.
— As vezes é bom exagerar — respondeu apoiando as mãos nos ombros da amiga. — Se eu não usar a Amplificação do Tear de vez em quando, então vou ficar enferrujada.
— Mentirosa — Sami deu risada e Miko sorriu, — aliás, Lae o que você achou de importante no sistema da instalação?
— Poucas coisas, mas pelo menos é o suficiente para incriminar o Presidente Borsalino e fazer o governo agir.
— Então ele estava mesmo envolvido.
— Sim, e parece que a IDVE, nessa instalação faziam experimentos para controlar e criar Pastores.
— Controlar? — Disse Miko incrédula.
— Sim, de alguma forma estavam obtendo resultados. E muita gente nesse lugar estava de refém, principalmente os cientistas. Muita sujeira como sempre. Hora de voltarmos a doutora vai adorar o que encontramos.----------
Olá pessoas, estou sem computador já faz um bom tempo, então esse capítulo saiu sem revisão, mas ta ai, a história continua.
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O Jardim das Tecelãs
Fiksi IlmiahNo ano de 20XX um objeto vindo do espaço chegou na Terra, nele continha uma forma alienígena que foi encontrada por agricultores no estado de Minas Gerais. O alienígena causou vários problemas, pois havia se fundido ao corpo de vários deles criando...